Ter um cão influencia na sobrevivência após eventos cardiovasculares?

Algumas pesquisas já haviam relacionado ter um cão de estimação com uma diminuição do risco cardiovascular, já que estava associado a outros fatores.

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Muito se fala sobre os benefícios de ter animais de estimação em casa, mas o quanto eles realmente podem estar ligados à melhora da saúde dos humanos? Segundo dois estudos publicados na revista Circulation, essa relação existe e posse de um cachorro pode até ser recomendada para alguns pacientes.

Algumas pesquisas anteriores já haviam relacionado ter um cão de estimação com uma diminuição do risco cardiovascular, já que estava associado a um nível mais baixo de pressão arterial, menos estresse e um bom perfil lipídico, mas os resultados ainda eram inconsistentes.

Por isso, pesquisadores realizaram estudos para entender a relação entre ser dono de um cachorro e ter menor taxa de mortalidade, seja para pessoas com ou sem doenças cardiovasculares.

cachorro esperando dono chegar, que possui menor risco cardiovascular

Relação entre mortalidade e ter um cão de estimação

Nesta primeira pesquisa, uma revisão sistemática com metanálise, foram analisados estudos publicados desde 1950 até este ano por meio do Embase e do PubMed. Foi usado o modelo de efeitos aleatórios e incluídos dez estudos com um total de mais de 3 milhões de participantes. Usando um seguimento médio de dez anos, a posse de cachorro foi relacionada a uma redução de cerca de 24% no risco de mortalidade [risco relativo (RR) 0,76; intervalo de confiança (IC) 95%, 0,67-0,86].

Leia também: Há alternativa às estatinas em pacientes de alto risco cardiovascular? [ACC 2019]

Além disso, pacientes que já tiveram algum evento coronariano anterior apresentaram menos 65% de chance de risco de mortalidade por qualquer causa quando comparados com aqueles que não moram com um cão (RR 0,35; IC 95%, 0,17-0,69; I2, 0%).

Restringindo à mortalidade cardiovascular, a redução foi de 31% (RR 0,69; IC 95%, 0,67-0,71; I2, 5,1%).

Risco cardiovascular entre pacientes donos de cachorros

O segundo estudo utilizou o Swedish National Patient Register (Registro Nacional de Pacientes da Suécia) para avaliar mais de 800 mil pacientes, entre eles alguns que sofreram infarto agudo do miocárdio (IAM) ou acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico, sendo:

  • Os participantes selecionados tinham entre 40 e 85 anos de idade;
  • Do total, 181.696 pacientes tiveram IAM, sendo que 5,7% deles possuíam um cachorro em casa; e 154.617 tiveram AVC isquêmico, onde 4,8% eram donos de um cão;
  • Nestes grupos, a idade média foi de 71 anos;
  • Em média, os donos de cães eram mais jovens que aqueles que não possuíam animal de estimação;
  • Eram predominantemente homens (63,9%);
  • A pesquisa considerou os pacientes que tiveram um seguimento entre 2001 e 2012;
  • Os modelos para análise foram ajustados por fatores, como: idade, estado civil, presença de crianças em casa, área de residência, renda, comorbidades registradas e hospitalização por doenças cardiovasculares nos últimos cinco anos;
  • Foram excluídos do estudo aqueles que não moravam há 15 anos na Suécia, para que o acompanhamento fosse completo e os dados sobre o animal fossem válidos.

Resultados

Os pacientes que tinham cachorros em casa mostraram um menor risco de morte após internação por IAM. A taxa de risco ajustada foi de 0,67 (IC 95%, 0,61 a 0,75) para quem morava sozinho e de 0,85 (IC 95%, 0,80 a 0,90) para aqueles que moravam junto de companheiro ou filho.

Veja mais: Paciente com doença mental grave: manejo do risco cardiovascular

Sobre aqueles que sofreram um AVC isquêmico, os números foram parecidos: menor risco de morte entre os donos de cães, com a taxa ajustada de 0,73 (IC 95%, 0,66 a 0,80) para os que viviam sozinhos e 0,88 (IC 95%, 0,83 a 0,93) para quem tinha um parceiro ou uma criança.

O estudo ainda conseguiu relacionar aos que têm um cachorro em casa um menor risco de IAM recorrente: 0,93 (IC 95%, 0,87 a 0,99).

Existe benefício em ter um cachorro em casa?

Apesar de os dois estudos terem limitações por não considerarem outras causas (tabagismo, por exemplo), seus resultados indicam que o benefício existe: os pacientes que têm um cão de estimação tem menor risco de mortalidade, principalmente relacionada a fatores cardiovasculares! O segundo também mostrou que o efeito é ainda maior para aqueles que moram sozinhos.

Entre os benefícios que podem estar relacionados com esses resultados estão maior atividade física e diminuição da solidão, tendo como consequência menor taxa de depressão e outros transtornos.

Seja como for, estimular o paciente a uma vida mais saudável é sempre necessário, e se o cachorro pode ajudar nisso, porque não falar sobre isso também?

*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED

Referências bibliográficas:

  • Kramer CK, Mehmood S, Suen RS. Dog Ownership and Survival A Systematic Review and Meta-Analysis. Circulation: Cardiovascular Quality and Outcomes. 2019;12:e005554. https://doi.org/10.1161/CIRCOUTCOMES.119.005554
  • Mubanga M, Byberg L, Egenvall A, Ingelsson E, Fall T. Dog Ownership and Survival After a Major Cardiovascular Event: A Register-Based Prospective Study. Circulation: Cardiovascular Quality and Outcomes. 2019;12:e005342. https://doi.org/10.1161/CIRCOUTCOMES.118.005342

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