Transtorno de ansiedade: terapia cognitiva ou medicamentosa?

Um estudo comparou a eficácia do tratamento do distúrbio de ansiedade com o uso de escitalopram e apenas com terapia cognitiva.

O transtorno de ansiedade é atualmente uma das doenças psiquiátricas mais comuns e que mais tem se agravado e aumentado mundialmente, independente do seu grau e tipo, a ansiedade acaba atingindo ambos os sexos e também qualquer idade. Pode variar desde uma ansiedade generalizada, como fobias e síndrome do pânico.

Pacientes adolescentes e adultos jovens vem a cada dia desenvolvendo transtorno de ansiedade generalizada que acaba dificultando e muitas vezes impedindo uma convivência social. A ansiedade é um distúrbio que acomete não só a parte cognitiva como também a parte física, levando a alterações orgânicas com o desenvolvimento de doenças como gastrite, esofagites de refluxo, cardiopatias, doenças autoimunes, entre outras. Além disso muitos pacientes com distúrbios de ansiedade acabam desenvolvendo síndromes álgicas e incapacidade social.  

O tratamento do transtorno de ansiedade baseia-se em tratamento psicológico e/ou tratamento medicamentoso. O estudo em questão visa comparar a eficácia do tratamento do distúrbio de ansiedade com o uso de escitalopram e apenas com terapia cognitiva, especificamente o mindfulness-based stress reduction (MBSR), uma terapia de redução de estresse baseada no controle da mente. O escitalopran apesar de ser uma droga da família dos antidepressivos e atuar inibindo seletivamente os receptores de serotonina, é muito utilizada atualmente no tratamento da ansiedade. 

médico com o óculos em uma mão e a outra mão no rosto, com ansiedade na covid-19

Métodos

Esse estudo randomizado incluiu um total de 208 pacientes adultos, recrutados entre junho de 2018 a fevereiro de 2020, provenientes de três centros médicos urbanos dos Estados Unidos com diagnóstico de distúrbio de ansiedade, tanto ansiedade generalizada como ansiedade social. A idade média era de 33 anos sendo a maioria pacientes femininas (75%).  

Os pacientes foram separados em dois grupos. Um grupo com 140 pacientes faria uso apenas do escitalopran na dose de 10mg na primeira semana e de 20 mg na segunda semana, se bem tolerado, por um período de oito semanas. O outro grupo de 136 pacientes realizou apenas a terapia cognitiva MBSR pelo período de duas horas e meia por semana e um dia por final de semana durante oito semanas. Os participantes do grupo da terapia MBSR, também foram orientados a realizar meditação guiada diariamente por 45 minutos em casa, incluindo exercícios de respiração, meditação, consciência corporal e mental.  

A terapia cognitiva era realizada pessoalmente e em grupo com o suporte de consultores presenciais e com o suporte emocional dos outros participantes.  

O objetivo principal do estudo foi analisar o grau de ansiedade baseado na análise do Clinical Global Impression of Severity scale (CGI-S) entre os dois grupos após 8 semanas de tratamento farmacológico e cognitivo. O CGI-S é uma escala, muito utilizada em estudos comportamentais, que mede o grau de severidade de sintomas pós-tratamento e a resposta e eficácia ao tratamento em estudos com pacientes portadores de doenças mentais. A escala varia de 1 (sentindo nada doente) até 7 (sentindo extremamente doente). 

Resultados 

O escore inicial baseado no CGI-S foi de 4,51 no grupo designado para tratamento farmacológico e de 4,44 no grupo designado ao tratamento por meditação e controle da mente, MBSR. Após as oito semanas do estudo, o escore foi reduzido em 1,43 pontos no grupo tratado com escitalopram e 1,35 pontos no grupo que realizou a terapia MBSR. A diferença entre os dois grupos foi de −0.07 (0.16; 95% CI, −0.38 para 0.23; P = .65), onde a menor margem de intervalo permaneceu na margem pré-definida como não inferioridade de −0.495, indicando que o tratamento a base de meditação e controle mental não se mostrou inferior ao tratamento farmacológico com escitalopram.  

Os efeitos adversos encontrados nos dois grupos foram: alterações do padrão de sono, náuseas, fadiga e dor de cabeça no grupo com tratamento farmacológico (78%), fazendo com que oito pacientes desse grupo se retirassem do estudo e; momentos de ansiedade no grupo tratado com meditação, porém essa ansiedade foi relatada como esporádica e construtiva, durante a realização da MBSR e não atrapalhou o andamento do tratamento, não havendo nenhuma desistência nesse grupo.

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Conclusão  

Esse estudo, apesar de apresentar algumas limitações como por exemplo uma amostragem pequena de pacientes e um grupo basicamente de pacientes do sexo feminino, mostrou que a terapia cognitiva tem praticamente o mesmo efeito terapêutico que o escitalopram no tratamento do distúrbio de ansiedade. A terapia cognitiva, com meditação e controle da mente tem uma grande vantagem em relação ao uso de drogas controladas, como por exemplo não precisar de prescrição, ser de fácil acesso pois são encontradas em instituições não hospitalares, como por exemplo, estúdios de yoga, além de promover uma interação entre grupos de pessoas que possuem a mesma dor e não causar dependência.  

Apesar de muitas vezes, pacientes com distúrbios de ansiedade não conseguirem se concentrarem e realizarem meditação ou exercícios de relaxamento, essa conduta deveria ser sempre indicada pelos profissionais de saúde que tratam de distúrbios mentais, uma vez que a prática diária desses exercícios, introduzida paulatinamente, acaba levando a uma grande melhora no quadro de ansiedade do paciente, facilitando talvez até a retirada de determinadas medicações, mas sempre com orientação médica.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Hoge EA, Bui E, Mete M, Dutton MA, Baker AW, Simon NM. Mindfulness-Based Stress Reduction vs Escitalopram for the Treatment of Adults With Anxiety Disorders: A Randomized Clinical Trial. JAMA Psychiatry. 2023;80(1):13–21. 

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