Trissomia do 13: síndrome de Patau

Bebês com síndrome de Patau são expostos a muito baixo peso ao nascer devido a múltiplos problemas genéticos.

A trissomia do cromossomo 13 (T13), também conhecida como síndrome de Patau, foi descrita pela primeira vez como a causa de uma síndrome clínica distinta em 1960 por Patau e colaboradores.

Foi inicialmente caracterizada como “malformações cerebrais, anoftalmia aparente, fenda palatina, lábio leporino, pregas símias, polegares em gatilho, polidactilia e hemangiomas capilares”. É a terceira aneuploidia mais comum. O presente texto aborda os principais pontos referentes à síndrome de Patau e de relevância para o pediatra geral.   

Leia também: Doença de Kawasaki: conheça a apresentação clínica

Etiologia/Fatores de risco  

A síndrome de Patau é causada pela presença de três cópias do cromossomo 13, que se deve mais comumente à não disjunção na meiose, ocorrendo com mais frequência em mães de idade avançada (superior a 35 anos). Outra causa é uma translocação Robertsoniana desequilibrada, que resulta em duas cópias normais e um braço longo adicional do cromossomo 13. Outra causa menos comum é o mosaicismo, que resulta em três cópias do cromossomo 13 em algumas células e duas cópias em outras.   

O mosaicismo é o resultado de um erro de não disjunção mitótica e não está relacionado à idade materna (a idade materna avançada foi reconhecida como uma variável que contribui para a prevalência da trissomia 13, bem como da trissomia do 18 (síndrome de Edwards) e da trissomia do 21 (síndrome de Down).

Embora a idade materna avançada seja considerada um fator de risco para a síndrome de Patau, bebês com a doença nascem de mães de todas as idades. O prognóstico é melhor em pacientes com mosaicismo e pacientes com translocações desequilibradas.      

Fisiopatologia  

As alterações da síndrome de Patau são causadas por uma cópia extra do cromossomo 13, frequentemente resultante da não disjunção meiótica materna. Essa cópia extra do cromossomo 13 interrompe o desenvolvimento embrionário normal e leva a múltiplas malformações.  

Epidemiologia  

A síndrome de Patau é a terceira trissomia autossômica mais comum em RN (a primeira é a síndrome de Down e a segunda é a síndrome de Edwards). A prevalência de nascidos-vivos é bastante variável na literatura, de 1 em 7.906 a 18.000-20.000, com expectativa de vida de sete a dez dias e uma estimativa de 528 novos casos relatados a cada ano. Cerca de 0,1% dos recém-nascidos (RN) com esse diagnóstico não ultrapassam o primeiro ano de vida  

Apesar dos avanços da medicina, a sobrevida média se estende apenas para 733 dias nas coortes mais recentes de pacientes. Não há ligação entre etnia, raça ou localização geográfica e uma incidência aumentada de trissomia 13. No entanto, o sexo da criança pode influenciar a prevalência, com os meninos tendo uma probabilidade ligeiramente maior. Os abortos espontâneos no primeiro trimestre de gravidez ocorrem em 15 a 20% de todas as gestações clinicamente reconhecidas.           

Nos Estados Unidos, a maioria dos casos é detectada no período pré-natal, seja por triagem genética ou por ultrassonografia (USG). Mais de 90% dos fetos com síndrome de Patau têm achados detectados na USG pré-natal. Fetos com a síndrome têm 50% de risco de morte fetal intrauterina após 12 semanas de gestação. Dos RN nascidos vivos, a maioria não sobrevive ao período imediato ao nascimento. Aqueles que sobrevivem têm graves malformações físicas e neurocognitivas.   

Manifestações clínicas  

Os bebês com síndrome de Patau geralmente apresentam restrição de crescimento intrauterino (RCIU) e microcefalia. As malformações faciais ocorrem, principalmente, na linha média e incluem ciclopia, lábio leporino e fenda palatina. As características faciais incluem testa inclinada, orelhas pequenas e malformadas, anoftalmia ou microftalmia, micrognatia e marcas pré-auriculares. Anormalidades do sistema nervoso central (SNC) também são geralmente medianas, sendo a holoprosencefalia alobar a mais comum. Defeitos comuns nas extremidades incluem polidactilia pós-axial, pés equinovaros congênitos ou pés em balanço.  

Com relação às cardiopatias, podem ocorrer: defeito do septo ventricular, defeito do septo atrial, tetralogia de Fallot, defeito do septo atrioventricular e dupla via de saída do ventrículo direito. Todavia, é curioso dizer que as malformações cardíacas sozinhas normalmente não são letais na infância mesmo se não forem tratadas.  

Além dessas alterações, sinais comuns da síndrome de Patau são distúrbios renais, defeitos na gênese das estruturas auditivas (como surdez e implantação baixa das orelhas). Outros órgãos adicionais afetados incluem os pulmões, fígado e pâncreas. Malformações que ocorrem em mais de 50% dos pacientes com síndrome de Patau incluem criptorquidismo, hipospádia, hipoplasia dos pequenos lábios e útero bicorno.

Anormalidades que ocorrem em menos de 50% englobam onfalocele, rotação incompleta do cólon, divertículo de Meckel, rim policístico, hidronefrose e rim em ferradura. Por fim, pacientes que sobrevivem à infância apresentam um distúrbio psicomotor grave, déficit de crescimento, deficiência intelectual e convulsões.  

Veja ainda: Imunobiológicos na asma: uma realidade também na Pediatria

Diagnóstico  

No pré-natal, a hipótese diagnóstica da síndrome de Patau é levantada, principalmente, pela presença de anormalidades na formação fetal ao USG. Deve-se pensar na síndrome na presença de fetos com RCIU, defeitos no fechamento do tubo neural, malformações cardíacas e renais, holoprosencefalia, entre outros, além da idade materna tardia. Anormalidades da síndrome de Patau podem ser encontradas por USG pré-natal após 17 semanas de gravidez 

A triagem do primeiro trimestre da gravidez é feita para diagnosticar anomalias congênitas na maioria dos países com taxa de detecção de 90% e taxa de falso-positivo de 5%.  

Os fetos morrem no útero e não costumam viver até um ano de idade se nascerem. Além disso, bebês com síndrome de Patau são expostos a muito baixo peso ao nascer devido a múltiplos problemas genéticos. Portanto, os testes de triagem pré-natal são uma das formas práticas de prevenir e reduzir a taxa de natalidade desses bebês e incluem translucência nucal (NT), comprimento cabeça-nádega (CRL), gonadotrofina coriônica humana beta (β-hCG) e proteína plasmática A associada à gravidez (PAPP-A). O diagnóstico é confirmado com exame de cariótipo (padrão-ouro).  

Diagnóstico diferencial   

Os achados de USG de um feto com síndrome de Patau podem se sobrepor à síndrome de Edwards, à síndrome de Down (trissomia do cromossomo 21) ou a outras anormalidades cromossômicas. A avaliação citogenética com amostragem de vilosidades coriônicas, amniocentese, análise de DNA fetal livre ou microarray de tecido pode distinguir a síndrome de Patau dessas outras anormalidades citogenéticas.  

Tratamento  

No momento do parto, os RN diagnosticados com a síndrome de Patau podem precisar de oxigenação e ventilação, podendo exigir intubação ou traqueostomia devido a malformações faciais. Cirurgia cardíaca pode ser necessária para reparar anormalidades cardíacas quando presentes. Outras cirurgias podem ser indicadas para alterações comuns, incluindo herniorrafia, reparação do lábio leporino, gastrostomia ou cirurgias ortopédicas corretivas.   

O tratamento intensivo é controverso devido ao prognóstico reservado. Terapêuticas adicionais podem ser realizadas, incluindo dieta especializada, profilaxia para convulsões, antibióticos profiláticos para infecções do trato urinário, uso de aparelhos auditivos e demais cuidados paliativos.  

Leia também: Teste do coraçãozinho: novidades na aplicação prática

Prognóstico  

Apesar dos avanços médicos no diagnóstico e tratamento precoce, o prognóstico da síndrome de Patau permanece muito desfavorável e, na maioria dos casos, ocorre aborto espontâneo. Os que nascem têm uma expectativa de vida curta e os 10% dos pacientes que conseguem chegar ao primeiro ano de vida têm inúmeras condições adversas de saúde associadas.  

Para Schlosser e colaboradores (2023), ganha importância o aspecto ético, isto é, devido à alta mortalidade, é importante que o médico responsável pelo caso dê total autonomia para que a família possa tomar decisões ativas no manejo e acompanhamento. Ademais, o apoio multidisciplinar, especificamente o apoio psicológico familiar, também é relevante. 

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.
Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • GAW, Stephanie; PLATT, Lawrence. Trisomy 13. In: COPEL, Joshua et al. (Eds). Obstetric Imaging: Fetal Diagnosis and Care (Second Edition). Philadelphia: Elsevier, 2018.
  • HARFSHENO, Mozhgan; BARATI Mozhgan; ROOHANDEH, Akram. First Trimester Screening Tests Pregnancy and Trisomy 13 Syndrome, Sex Chromosome Aneuploidy in Iran: A Cross-Sectional Study. Int J Fertil Steril., v.17, n.1, p.34-39, 2023 
  • HERBERT, Frank. Pathophysiology, Diagnosis and Treatment Involved in Patau Syndrome. J Down Syndr Chr Abnorm., v.8, p.199, 2022 
  • MACIAS, Gabriel; RILEY, Cheryl. Trisomy 13: Changing Perspectives. Neonatal Netw., v.35. n.1, p.31-36, 2016 
  • PATAU, Klaus et al. Multiple congenital anomaly caused by an extra autosome. Lancet, v.1, n.7128, p.790-793, 1960 
  • PEREIRA, Elaine Maria. Trisomy 13. Pediatr Rev., v.44, n.1, p.53-54, 202SCHLOSSER, Amanda de Souza et al. Holoprosencephaly in Patau Syndrome. Rev Paul Pediatr., v.41, e2022027. Published 2023 Mar 13, 2023.
  • RODRIGUES, Alice et al. Aspectos genéticos da síndrome de Patau. REINPEC, v.5, n.5, p.611-621, 2019 
  • SPRINGETT, Anna et al. Congenital anomalies associated with trisomy 18 or trisomy 13: A registry-based study in 16 European countries, 2000-2011. Am J Med Genet A., v.167A, n.12, p.3062-3069, 2015 
  • WILLIAMS, Grant; BRADY, Robert. Patau Syndrome. [Updated 2022 Jun 27]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2023. Disponível em:  https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK538347/   Acesso em: 09/07/2023