Tumor de Wilms: abordagem da enfermagem na neoplasia renal mais comum

O tumor de Wilms (TW) é a neoplasia renal mais comum da infância. A fisiopatologia decorre de células renais mesenquimais pluripotentes.

O tumor de Wilms (TW) é a neoplasia renal mais comum da infância. A fisiopatologia decorre de células renais mesenquimais pluripotentes que continuam a sua proliferação, sem realizar diferenciação em glomérulos e túbulos renais. O seu desenvolvimento tem relação com anormalidades cromossômicas, podendo ser hereditário ou ocorrer de forma esporádica. Pode ser unilateral, ou mais raramente, bilateral, acometendo os dois rins.

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enfermeira colocando medicamento no soro de menina internada com tumor de wilms

Sobre o tumor de Wilms

A incidência dessa neoplasia é anterior aos cinco anos de idade da criança, na maioria dos casos. Entretanto, em crianças menores de um ano, o TW é raro. Pode estar associado a outras condições de saúde, como:

  • Malformações do trato geniturinário: hipospádia, criptorquidia, genitália ambígua, digenesias gonadais.
  • Síndromes: Beckwith- Wiedemann (gigantismo, macroglossia, hemi-hipertrofia, onfalocele, visceromegalias, microcefalia, eventração diafragmática), Perlmann, Sotos, Simpson Golabi- Behmel, Denys-Drash, WARG (aniridia, retardo mental e anomalias geniturinárias), Bloom;
  • Aniridia isolada;
  • Distúrbios de coagulação: Doença de Von Willebrand adquirida;
  • Anomalias do sistema nervoso central;
  • Anomalias do sistema musculoesquelético.

O estadiamento do tumor de Wilms, segundo SIOP e COG ocorre da seguinte maneira:

  • I. Tumor restrito ao rim, completamente ressecável, cápsula intacta e vasos livres.
  • II. Tumor que acomete rim e cápsula renal, entretanto não ultrapassa cápsula renal, remoção completa do trombo venoso em veia cava.
  • III. Tumor residual local, margens positivas, linfonodos abdominais, implantes peritoneais, tumor irressecável, ruptura tumoral pré ou intraoperatória;
  • IV. Metástase hematogênica (pulmão e fígado) ou linfonodos extra abdominais;
  • V. Tumores bilaterais.

A criança com tumor de Wilms renal pode apresentar uma massa abdominal assintomática inicialmente, podendo apresentar posteriormente outros sinais e sintomas como:

  • Dor abdominal;
  • Astenia, palidez;
  • Vômitos;
  • Hipertensão arterial;
  • Hematúria;
  • Irritabilidade;
  • Presença de trombos tumorais na veia renal, veia cava inferior ou coração, pode ocasionar: varicolece, hepatomegalia, ascite e insuficiência cardíaca congestiva;
  • Febre;
  • Distensão abdominal;
  • Sinais metastáticos: dispneia, dor óssea, linfadenopatia, hepatomegalia, etc.

O TW pode se manifestar em outros locais, de forma mais rara, dentre eles o peritôneo. Dessa forma, os sinais e sintomas são relacionados a localização.

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Além dos sinais e sintomas, é importante que o enfermeiro saiba os exames complementares necessários, bem como as possíveis alterações nos exames laboratoriais.

  • Ultrassonografia abdominal: avaliar massa renal. O uso de Doppler pode verificar a presença de trombos tumorais;
  • Tomografia computadorizada: avaliar anatomia abdominal. O uso de contraste proporciona visualização dos limites tumorais e porção renal funcionante e comprometimento do rim contralateral;
  • Radiografia e tomografia computadorizada de tórax: avaliar presença de metástase;
  • Função renal: clearance de creatinina pode estar normal ou reduzido, e a creatinina sérica está elevada;
  • Função hepática: enzimas hepáticas e bilirrubina podem estar normais ou elevadas;
  • Hemograma completo: hemoglobina pode estar normal ou diminuída;
  • Proteína e albumina séricos: normal ou baixa;
  • Análise dos componentes de coagulação sanguínea: pode estar normal ou elevado se o TW provocar doença de Von Willebrand;
  • Exame de urina: urina incolor ou avermelhada devido a hematúria que pode ser micro ou macroscópica, aumento de eritrócitos e proteinúria.

Abordagem da enfermagem

Na consulta de enfermagem à criança com tumor de Wilms, o enfermeiro deve investigar na anamnese o início e manifestação dos sinais e sintomas, presença de síndromes diagnosticadas ou outras condições de saúde, histórico familiar de tumores renais, histórico gestacional, exposição à radiação e substâncias químicas.

O exame físico deve ser realizado de forma completa, afim de identificar as manifestações da doença oncológica, bem como sinas de doença metastática. O enfermeiro deve inspecionar a região abdominal, atentando para o local e a extensão da massa abdominal, ultrapassagem da linha média (o TW não costuma ultrapassar a linha média), mobilidade, (o TW não se move com a respiração). Realizar palpação de maneira cautelosa, a massa é indolor à palpação, firme e lisa.

Outros aspectos que devem ser avaliados no exame físico são a dor, utilizando escalas apropriadas, avaliar região genital e observar presença de mal formações que podem estar associadas. Verificar sinais vitais e atentar para presença febre e hipertensão arterial, que é consequente da compressão da rede venosa renal e/ ou hipersecreção de renina pelos rins.

Em relação ao tratamento, é recomendado desde o início de qualquer doença oncológica a abordagem dos cuidados paliativos junto aos oncologistas, principalmente diante das condições com poucas possibilidades terapêuticas, muitos sintomas associados a doença principal e ao mau prognóstico. Além disso, o tratamento do TW varia de acordo com o estadiamento, classificação histológica com divisão em risco baixo, risco intermediário e alto risco, o protocolo selecionado pela instituição, etc.

  • Cirurgia: nefrectomia radical, para todos os estádios. Biópsia aberta se o tumor for irressecável. Em pacientes com risco muito baixo, alguns protocolos recomendam somente a nefrectomia radical e observação, não sendo necessária outras modalidades de tratamento. As lesões metastáticas devem ser biopsiadas ou removidas
  • Quimioterapia: pode ser feita pré ou pós operatória, dependendo do protocolo a ser seguido. Drogas que podem ser utilizadas: Vincristina Dactinomicina , Doxorrubicina , Etoposídeo , Carboplatina , Ifosfamida ,
  • Radioterapia: se o tumor for estádio III, a radiação deve ser feita no flanco ou no abdome inteiro. Lesões metastáticas podem receber irradiação, de acordo com o protocolo.
  • Transplante renal: nos casos de doença bilateral.

Os cuidados de enfermagem à criança com Tumor de Wilms são inúmeros, entretanto, os principais são:

  1. Manejo da dor.
  2. Controle da temperatura corporal.
  3. Cuidados relacionados aos procedimentos para o diagnóstico: coleta de sangue/urina para exames, encaminhamento para exames de imagem, etc.
  4. Cuidados pré e pós procedimentos cirúrgicos.
  5. Administração de agentes quimioterápicos, conforme prescrição.
  6. Manejo das reações adversas dos quimioterápicos.
  7. Hidratação venosa.
  8. Transfusão de hemocomponentes, diante de quadro de anemia, pancitopenia, induzidos por quimioterapia ou decorrentes da doença oncológica.
  9. Cuidados com dispositivos venosos e outros dispositivos invasivos.
  10. Apoio à criança e aos familiares e escuta ativa.
  11. Orientar sobre a condição clínica da criança, doença, manifestações, condutas terapêuticas, cuidados de enfermagem realizados, cuidados no domicílio, etc.
  12. Durante o tratamento quimioterápico, orientar sobre possíveis reações adversas, risco de toxicidades, cuidados específicos com cada quimioterápico, etc.
  13. Orientar procurar por serviço de aconselhamento genético as famílias que possuem histórico de Tumor de Willms.
  14. Orientar acompanhamento rigoroso ao serviço de oncologia pediátrica por pelo menos 60 meses, ou conforme recomendação médica.
  15. Orientar sobre a necessidade de realização de exames de imagem periodicamente, até 18 meses após o tratamento, para acompanhamento de possíveis recidivas.
  16. Orientar sobre a realização de ecocardiograma, periodicamente, para identificar possíveis toxicidades cardíacas.
  17. Orientar a criança, de acordo com o nível de entendimento, e os familiares acerca dos sinais e sintomas relacionados as reações adversas do tratamento (quimioterapia, radioterapia, e cirurgia), bem como a necessidade de reportar a equipe médica caso apresente algum deles.

Referências bibliográficas:

  • Lopes RI, Lorenzo A. Recent advances in the management of Wilms’ tumor,2017.
  • SIOP/PDOC: Clinical Guidelines for management of Children with Wilms in a low incoming setting. International Society Paediatric Oncology/ Paediatric Oncology in Developing Countries, 2013.
  • Spreafico F, Graf N, et al. An international strategy to determine the role of high dose therapy in recurrent Wilms’ tumour. Eur J Cancer2013; 49:194–210.
  • Melaragno R, Camargo B. Oncologia Pediátrica: diagnóstico e tratamento. São Paulo, ed Atheneu, 2013.
  • Filho OV, et al. Doenças Neoplásicas da criança e do adolescente. Barueri, São Paulo, Manole, 2012.
  • Bonassa EMA, Gato MIR. Terapêutica oncológica para enfermeiros e farmacêuticos. 4. ed. São Paulo: Editora Atheneu; 2012.
  • BR. (Brasil). Oncologia: manual de bases técnicas. SIA/SUS. Ministério da Saúde. Instituto Nacional do Câncer. 25ª edição. Brasília, 2019.

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