Uso excessivo de medicamentos antirrefluxo em bebês 

Em um estudo, com 270.437 bebês, foram identificadas 16.910 crianças que receberam prescrição de medicamento supressor de ácido.

O refluxo gastroesofágico (RGE) é uma queixa comum dos pais, podendo acometer até dois terços dos bebês. Geralmente, trata-se de um refluxo fisiológico que não traz nenhum prejuízo e que se resolve espontaneamente até um ano de idade na maioria dos casos.  

Por outro lado, a doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) cursa usualmente com baixo ganho ponderal, irritabilidade e alterações de mucosa esofágica à endoscopia digestiva alta (EDA).  

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Medicamentos antirreflexo, como inibidores da bomba de prótons e antagonistas dos receptores H2 têm sido tradicionalmente utilizados para controle de refluxo em bebês e crianças pequenas. No entanto, não são fármacos isentos de risco e seu uso deve ser bem ponderado principalmente nos casos de refluxo fisiológico, conforme destacado em artigo da revista Pediatrics, publicado em março deste ano.  

bebês

Metodologia  

Através de um banco de dados do estado da Virgínia (EUA) foram analisados prontuários de atendimentos nos quais constavam códigos de RGE e/ou DRGE da mais recente revisão da Classificação Estatística Internacional de Doenças (CID-10).   

Os autores incluíram apenas bebês entre 0 e 11 meses que foram acompanhados por pelo menos 30 dias entre os anos de 2016 e 2019. Foram excluídos os pacientes que apresentavam condições médicas complexas conforme classifica o próprio CID-10. 

Foram conduzidas duas análises distintas, uma considerando os pacientes com DRGE e outra sem considerar esse grupo. 

Resultados  

A partir de um total de 270.437 bebês, foram identificadas 16.910 crianças (7%) que receberam prescrição de medicamento supressor de ácido. Os pesquisadores notaram que o risco do bebê receber essa prescrição era quase duas vezes maior nas crianças com convênio médico em comparação com aqueles que dependiam do sistema público.

Foi observado também maior chance de prescrição desses medicamentos na zona rural do que na zona urbana do estado. De forma interessante, remover DRGE da análise não modificou de forma significativa os achados.  

Os autores salientam que o uso excessivo de supressores de ácido no tratamento de RGE e DRGE é uma preocupação e que o tema foi inclusive abordado pela campanha Choosing Wisely (“Escolhendo com Sabedoria”), com foco nos potenciais riscos desses medicamentos, como infecções graves (incluindo enterocolite necrotizante) e fraturas.  

Através dos dados coletados, os pesquisadores notaram que os profissionais da saúde parecem ter dificuldade em diferenciar DRGE e, por vezes, tendem a mudar o código CID-10 do paciente de RGE para DRGE para justificar a prescrição do tratamento. 

Cabe ressaltar que, embora irritabilidade e dor sejam queixas subjetivas, baixo ganho ponderal e alterações da mucosa esofagiana são manifestações objetivas e que, por isso, sofrem menor interferência da interpretação individual do profissional. As análises deixam claro que tem sido feito um uso abusivo desses medicamentos, o que pode trazer prejuízos diretos ao paciente.  

Conclusões  

A identificação dos fatores relacionados à maior prescrição desses medicamentos auxilia na criação de estratégias para minimizar o problema. Por sua frequência e eventuais riscos, o assunto deve ser considerado pelos órgãos de saúde com máxima atenção.   

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Comentários e mensagem prática  

Apesar de o estudo ter sido conduzido nos Estados Unidos, o problema é real no Brasil. Além da atualização dos profissionais de saúde, considero importante a educação do paciente sobre o refluxo fisiológico, seu curso benigno e caráter transitório a fim de reduzir a ansiedade das famílias. 

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • WOLF, Elizabeth R.; et al. Overuse of reflux medications in infants. Pediatrics, v. 151, n. 3, 2023.