O aleitamento materno exclusivo é recomendado até os seis meses de vida do bebê, quando nenhum outro tipo de alimento deve ser oferecido, nem mesmo água, chá, suco e, após esse tempo, a amamentação deve continuar, até pelo menos dois anos. Nesse período de amamentação exclusivo é comum ouvir a recomendação pelo uso de chás para aliviar sintomas como cólicas, irritação, problemas do sono do bebê e até mesmo para aumentar a produção de leite.
Vale dizer que o uso medicinal das plantas é relatado desde o princípio da humanidade e, diante da magnitude da biodiversidade brasileira e facilidade de acesso da população, é importante que o profissional de saúde reconheça, valide e valorize esses cuidados tradicionais, além de buscar conhecimentos científicos para recomendar o uso seguro.
Nesse contexto, a Organização Mundial de Saúde (OMS) reconhece que 70% a 90% da população dos países em desenvolvimento utilizam chás no âmbito da Atenção Primária à Saúde. No Brasil, é estimado que 82% da população utilize produtos à base de plantas medicinais em seus cuidados de saúde. Diante disso, a fitoterapia é considerada como uma Prática Integrativa e Complementar (PIC) relevante, incluída na Política Nacional de PICs desde 2006, e têm sido levantados esforços para ampliação da oferta de serviços e produtos da fitoterapia na rede pública de saúde brasileira, além da regulamentação da prática, que visa melhorar a qualidade do uso, qualificação de profissionais, e investimento em pesquisas na área.
Faz-se mister esclarecer que os chás são considerados como soluções extrativas das plantas, uma forma líquida obtida pela extração a quente com água, preparadas para uso imediato, a partir de plantas frescas ou secas. Pode ser preparado por infusão ou por decocção, de acordo com a parte da planta utilizada. Destaca-se nesse contexto, que o uso racional deve ser estimulado, principalmente em períodos de gestação e amamentação, a fim de manter a dose terapêutica das substâncias e evitar complicações decorrentes das alterações orgânicas dessas substâncias.
Tendo isso em vista a importância desse tema no ciclo gravídico-puerperal, reunimos aqui para vocês os principais chás considerados seguros na amamentação (Quadro 1), aqueles que devem ser utilizados com cautela por não ter estudos de qualidade que assegurem a segurança durante o período da lactação (Quadro 2), e os chás contraindicados durante o aleitamento materno (Quadro 3).
Quadro 01 — Chá seguro durante a amamentação.
Chá (nome popular) | Indicação |
Erva de São João | Propriedades antibacterianas, antifúngicas, antioxidantes e também antidepressivas. |
Fonte: BRASIL, 2014.
Quadro 02 — Chás que devem ser utilizados criteriosamente, considerando que o benefício supera o risco.
Chá (nome popular) | Indicação |
Camomila, matricária, maçanilha | Antiespasmódico, ansiolítico e sedativo leve. |
Equinácea | Alívio de sintomas respiratórios. |
Funcho ou erva-doce | Antidispéptico e antiespasmódico. Potencial analgésico. |
Sálvia | Antidispéptico. |
Valeriana | Ansiolítico e sedativo. |
Capim santo | Ansiolítico e sedativo leve. |
Algodoeiro | Galactagogo. Alívio de cefaleia, epigastralgia, e mastalgia, e auxilia na contração uterina. |
Mastruz | Auxilia na contração uterina. |
Gengibre | Galactagogo, antibacteriano e hipoglicemiante. |
Fonte: BRASIL, 2014; ANVISA, 2016; CASALI; PEREIRA, 2019.
Quadro 03 — Chás contraindicados na amamentação.
Chá (nome popular) | Indicação | Motivo da contraindicação |
Trevo-vermelho | Alívio dos sintomas da menopausa, mastalgia e síndrome pré-menstrual. | Influencia os hormônios, como estrogênio. |
Alcachofra | Antidispéptico. | Reduz a quantidade de leite. |
Arnica | Anti-inflamatório. | Provoca vômitos, cólica, e hemorragia. |
Cáscara sagrada | Laxativo. | Cólicas e diarreia do lactente. |
Espinheira santa | Antidispéptico, antiácido e protetor da mucosa gástrica. | Reduz a quantidade de leite. |
Sene | Laxativo. | Cólicas e diarreia do lactente. |
Confrei | Cicatrizante, equimoses, hematomas e contusões | Evidências ou risco significativo de efeitos colaterais importantes no lactente. |
Menta ou Hortelã-pimenta | Antiespasmódico e antiflatulento. | Evidências ou risco significativo de efeitos colaterais importantes no lactente. |
Canela | Efeito antioxidante, anti-hipertensivo, antidislipidêmico. | Efeito emenagogo. |
Boldo | Alivia distúrbios digestivos leves. | Efeito neurotóxico. |
Erva mate (chimarrão) | Cultural. | Provoca sintomas colaterais como irritabilidade, náuseas, vômitos, palpitação e ruborização. |
Fonte: BRASIL, 2014; ANVISA, 2016; CASALI; PEREIRA, 2019.
Embora alguns chás possam ser utilizados para alívio de desconfortos no bebê, destaca-se que, pela amamentação exclusiva ser recomendada até os seis meses de vida, os chás não devem ser oferecidos diretamente ao bebê, mas sim à lactante. Dessa forma, o consumo para o bebê se torna mais seguro, já que a substância já terá passado por processo de metabolização no corpo da mãe. Todavia, é importante orientar a família que observe o comportamento do bebê após o consumo, para identificar possíveis alterações decorrentes do efeito tóxico das ervas.
Em suma, os estudos que avaliam a segurança do uso de chás para mulheres que amamentam são escassos. Essa lacuna do conhecimento deve ser exposta a mulher e família para que ela tome a decisão informada pelo uso dessas substâncias no puerpério. Além disso, o profissional deve ser vigilante e respeitar as características culturais de cada indivíduo, fazendo com que, dessa forma, o cuidado holístico ande lado a lado com a ciência.
Autoria:
Hérica Pinheiro Corrêa
Enfermeira e coordenadora da Estratégia Saúde da Família. Mestranda em Cuidado Primário em Saúde na Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES). Enfermeira obstetra pelo Hospital Sofia Feldman. Enfermeira pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Isabelle Gaspar
Enfermeira – Residência em Saúde da Mulher (HESFA/UFRJ), Mestrado em Enfermagem (EEAN/UFRJ) e Especialização em Gênero e Sexualidade (CLAM/IMS/UERJ).