Dengue é a doença transmitida por mosquitos mais comum do mundo. Embora classicamente acometendo as regiões tropicais e subtropicais, atualmente pode ser considerada como um risco epidêmico sazonal na Europa.
Diante de um contexto de surtos, o rápido aumento no número de casos pode superar a capacidade dos sistemas de saúde locais de atender todos os pacientes que necessitem de cuidados mais agressivos.
Uma grande preocupação, especialmente em um contexto de múltiplas epidemias concomitantes, é conseguir um diagnóstico adequado de forma precoce, o que pode determinar alterações de conduta por parte da equipe assistencial.
O uso de testes rápidos é atraente justamente pela possibilidade de resposta rápida, mas fatores como sorotipos diferentes e tempo de infecção podem afetar a acurácia diagnóstica. Sabe-se, por exemplo, que a sensibilidade e a especificidade dos testes rápidos podem variar entre diferentes sorotipos e estágio da doença e ambos diminuem em casos de segunda infecção.
Um estudo retrospectivo procurou avaliar a performance de um teste rápido para dengue (SD Bioline Dengue Duo) durante uma epidemia de dengue na Ilha da Reunião ocorrida em 2019.
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Materiais e métodos
Trata-se de um estudo observacional, retrospectivo, baseado em dados do sistema EPIDENGUE, uma base com dados de pacientes admitidos na emergência do Hospital Universitário da Reunião entre 01 de janeiro e 30 de junho de 2019 com suspeita de dengue. Somente indivíduos adultos – com 18 anos ou mais – foram incluídos no estudo.
Considerou-se como diagnóstico definitivo de dengue a presença de um exame de RT-PCR positivo ou NS1 no teste rápido detectável. Conforme a definição da Organização Mundial de Saúde (OMS), casos sem comprovação em testes biológicos, mas com características clínicas e biológicas compatíveis, foram classificados como dengue provável. Todos os demais foram considerados como casos não prováveis de dengue.
Resultados
Dos 2.099 pacientes acima de 18 anos que foram admitidos na emergência no período em que o estudo foi conduzido, 946 realizaram um teste rápido para dengue. Destes, 671 também foram submetidos ao RT-PCR. Dos 547 pacientes com informações detalhadas sobre os resultados de teste rápido, o diagnóstico de dengue foi confirmado em 306 (56%), foi considerado como provável em 191 (35%) e como não provável em 50 (9%).
Em casos confirmados, o sintoma mais frequente foi febre (94%). Outros sintomas comuns foram astenia (70%), mialgia (63%), sintomas gastrointestinais (60%), cefaleia (55%), anorexia (54%), artralgia (47%), manifestações cutâneas (36%), e desordens neurológicas (28%). Valores de leucograma, neutrófilos, linfócitos e plaquetas foram mais baixos nos casos de dengue confirmado, enquanto os valores de tempo de protrombina foram menores nos casos não prováveis.
Em relação às propriedades do teste rápido, a sensibilidade e especificidade globais encontradas nesse estudo foram 42% (IC 95% = 37 – 48) e 15% (IC 95% = 11 – 19), respectivamente. O componente NS1 do teste apresentou uma sensibilidade de 12% (IC 95% = 9 – 17) e especificidade de 82% (IC 95% = 77 – 86). Já o componente IgM teve uma sensibilidade de 28% (IC 95% = 22 – 34) e uma especificidade de 33% (IC 95% = 28 – 39). Considerando esses dois componentes, a sensibilidade combinada foi de 33% (IC 95% = 27 – 39) e a especificidade, de 24% (IC 95% = 20 – 30).
Uma análise de subgrupo foi realizada para avaliar a influência da duração dos sintomas no momento da admissão na emergência. Dentre os pacientes com informação de tempo desde o início dos sintomas (88% do total), mais de 80% procuraram a emergência nos primeiros 5 dias de doença. Tanto sensibilidade quanto especificidade do componente NS1 e a sensibilidade do componente IgM aumentaram em pacientes com mais de 5 dias de sintomatologia quando comparadas com as de pacientes com menos de 5 dias.
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Mensagens práticas
– Nesse estudo, a especificidade combinada dos componentes NS1 e IgM do teste foi maior do que os componentes isolados, mas a sensibilidade permaneceu muito baixa.
– A sensibilidade de ambos os componentes aumentou nos casos em que o teste foi realizado após 5 dias de sintomas, mas a maioria dos pacientes no estudo procurou atendimento antes desse período de tempo.
– Os resultados sugerem que o teste rápido para dengue utilizado não foi capaz de confirmar e nem de excluir o diagnóstico de dengue.
3 abr. 2024 
5 min. 
