Vacinação contra Covid-19 e terceira dose: onde estamos?

Enquanto os países discutem as melhores estratégias de vacinação, as evidências sobre a necessidade da terceira dose vão sendo publicadas. Saiba mais.

Com o avanço da vacinação ao redor do mundo e o surgimento de novas variantes, debate-se a necessidade do estabelecimento de uma dose adicional de vacina ao esquema tradicional. Enquanto os países discutem quais seriam as melhores estratégias de vacinação, as evidências em relação ao impacto de uma terceira dose vão sendo publicadas.

O racional por trás de uma dose de reforço de vacina contra Covid-19 é a possibilidade de que uma queda natural nos níveis de anticorpos elicitados pela vacinação possa comprometer a eficácia da imunização a longo prazo. Estudos têm demonstrado que indivíduos vacinados, especialmente idosos, podem apresentar redução significativa nos títulos de anticorpos neutralizantes mensurados seis a oito meses depois da imunização completa. Outros trabalhos mostram que indivíduos imunossuprimidos podem não apresentar resposta adequada ao esquema usual de duas doses e uma terceira dose poderia ser necessária nessa população.

Outra questão é a manutenção de eficácia entre as diferentes variantes. Diante de uma nova variante em que a vacinação pode ser menos eficiente, especula-se que a manutenção de altos títulos de anticorpos seja um fator que pode contribuir para a manutenção de proteção adequada.

Além dos estudos já discutidos previamente no Portal PEBMED, algumas outras evidências em relação à indicação de uma terceira dose foram publicadas.

terceira dose

Imunogenicidade de uma terceira dose da Astrazeneca

Um subestudo baseado em dois ensaios clínicos conduzidos no Reino Unido vacinando adultos entre 18 e 55 anos foi publicado na The Lancet. Esquemas com um intervalo maior para administração de segunda dose ou com a administração de uma terceira dose da vacina ChAdOx1 (Aztrazeneca/Oxford).

Os indivíduos vacinados com duas doses receberam a segunda dose em 44-45 semanas após a primeira, enquanto os que receberam a terceira dose foram vacinados 28-38 semanas após a segunda dose.

Para os que receberam a terceira dose, a resposta de anticorpos foi avaliada em 75 participantes. Os níveis de anticorpos detectados 28 dias após a administração da terceira dose foi significativamente maior do que 28 dias após a administração da segunda dose. O mesmo efeito foi identificado em relação aos níveis de anticorpos neutralizantes contra as variantes Alpha, Beta e Delta. Em 15 indivíduos, a resposta celular também foi avaliada. A administração de uma terceira dose esteve associada a aumento na resposta mensurada de células T 14 e 28 dias após a vacinação, com picos semelhantes aos induzidos com duas doses de vacina.

Leia também: Ministério da Saúde anuncia dose de reforço para idosos acima de 60 anos

Terceira dose após esquema com Coronavac

Um pequeno estudo turco comparou a resposta de anticorpos em trabalhadores da área da saúde após duas ou três doses de Coronavac. Embora com uma amostra pequena (apenas 18 indivíduos que receberam booster com Coronavac e 27 que receberam booster com Pfizer seis meses depois de completar o esquema de duas doses), os dados mostram aumento significativo nos títulos de anticorpos após a dose de reforço – quando comparados com indivíduos vacinados com somente duas doses ou com um grupo controle não vacinado. Entretanto, é interessante notar que a resposta humoral diferiu entre os esquemas: vacinados com três doses de Coronavac apresentaram aumentos de 1,7 e 1,8 nos títulos de anticorpos contra a proteína S (IgG-S) e contra a proteína do nucleocapsídeo (IgG-N), respectivamente, os que receberam booster com Pfizer apresentaram aumento nos títulos de IgG-S em um fator de 46,6, mas redução nos títulos de IgG-N em um fator de 6,5. O significado clínico dessas alterações em termos de proteção contra a doença ainda precisa ser definido.

Eficiência de terceira dose com vacina de mRNA em transplantados de órgãos sólidos

Uma carta ao editor publicada na American Journal of Transplantation mostrou os resultados de um pequeno estudo francês com 396 receptores de transplante de órgãos sólidos que receberam três doses da vacina BNT162b2 (Pfizer). A avaliação foi feita por meio de análise de soroconversão.

A prevalência de indivíduos soropositivos foi de 1,3% antes da primeira dose, 5,1% antes da segunda, 41,4% antes da terceira e 67,9% após quatro semanas da dose de reforço. Entre os 232 participantes que eram soronegativos antes da terceira dose, 105 (45,25%) soroconverteram. Todos os participantes que eram soropositivos antes da terceira dose permaneceram com esse status quatro semanas após a dose booster.

As taxas de soroconversão foram maiores em indivíduos mais jovens e menores nos que estavam em uso de micofenolato ou belatacept ou com esquema triplo de imunossupressão. A taxa de soroconversão após a dose adicional permaneceu baixa nos usuários de belatacept.

Estudo de vida real

Quase a totalidade dos estudos publicados até o momento baseia-se na detecção de anticorpos contra a proteína S do SARS-CoV-2 ou de ensaios de anticorpos neutralizantes para chegar a conclusões em relação ao desenvolvimento de resposta humoral decorrente da aplicação de uma dose adicional de vacina. Contudo, os efeitos em termos de eficácia clínica são desconhecidos.

Recentemente, um artigo publicado na NEJM mostrou resultados da vacinação em Israel após a implementação da terceira dose. As taxas de infecção confirmadas e de doença grave foram menores no grupo de indivíduos que receberam três doses de vacina em relação aos que receberam duas doses. A vacina da Pfizer foi o único imunizante avaliado.

Mensagens práticas

  • Estudos iniciais parecem demonstrar que a administração de uma terceira dose é capaz de elicitar aumento na produção de anticorpos em indivíduos previamente vacinados, o que pode ser benéfico em grupos de interesse especial, como idosos e imunossuprimidos, que também são considerados de risco para doença grave.
  • Ainda não há evidências o suficiente para afirmar que uma dose booster de vacina contra Covid-19 traga benefícios em desfechos clínicos. O estudo em Israel sugere que uma dose de reforço esteve associada a menores taxas de infecção e de doença grave. Resultados em outros países são esperados para que melhores avaliações sejam feitas.
  • No Brasil, o Ministério da Saúde autorizou a administração de uma terceira dose de imunizante para idosos a partir de 60 anos, imunossuprimidos e profissionais de saúde.

Referências bibliográficas

  • Flaxman, A, Marchevsky, NG, Jenkin, D, Aboagye, J, Aley, PK, Angus, B, et al. Reactogenicity and immunogenicity after a late second dose or a third dose of ChAdOx1 nCoV-19 in the UK: a substudy of two randomised controlled trials (COV001 and COV002). Lancet. 2021 Sep 11;398(10304):981-990. doi: 10.1016/S0140-6736(21)01699-8. Epub 2021 Sep 1
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