Vácuo extrator ou cesariana no segundo estágio de parto?

Um trabalho publicado no British Journal of Obstetrics & Gynaecology em janeiro de 2023 visitou o tema vácuo extrator versus cesariana. 

As taxas de mortalidade materna e perinatal funcionam como importantes marcadores saúde pública. A taxa global de mortalidade materna estava em 211 por 100 mil nascidos vivos em 2017 e a mortalidade perinatal em 18,6 por 100 mil nascidos em 2015. A maioria desses casos se dá em países de baixa renda ou em desenvolvimento.  

Durante a evolução de um trabalho de parto é durante o segundo estágio que a decisão final pela via de parto deve ser tomada. Frente a um segundo período prolongado o médico tem duas opções: mudar a via para uma cesariana ou tentar um parto vaginal assistido (vácuo extrator ou fórceps alívio), de modo a abreviar esse período e salvaguardar as vidas fetal e materna. De acordo com os guidelines da FIGO, ACOG E NICE o parto vaginal assistido é a melhor escolha sendo o vácuo o instrumento mais seguro (menor número de lesões perineais e anais e mais fácil que o fórceps para usar).  

Entretanto, apesar das orientações seu uso é pequeno (2,6% dos hospitais utilizam e a frequência vem caindo) pela pouca prática e pelo aumento do número de cesáreas ao redor do mundo todo. Além disso, as equipes alegam pouco treinamento, falta do material e medo de transmissão vertical nos casos de HIV ou outras doenças transmissíveis.  

Apesar de todos os riscos envolvidos numa cesariana seus números não param de crescer no mundo todo. Com objetivo de fazer uma revisão sistemática um trabalho publicado no British Journal of Obstetrics & Gynaecology em janeiro de 2023 visitou o tema.  

hemorragia pos-parto

Métodos 

Durante o estudo foram analisados desfechos maternos adversos (mortalidade, hemorragia puerperal, lesão trato urogenital, infecção, ruptura uterina, complicações de parede, reoperações e tempo de internação) e perinatais (mortalidade, índice de APGAR baixo, admissão em UTI neonatal, encefalopatia hipóxica isquêmica, infecção e trauma de parto) nos casos com vácuo extração (VE) e cesárea no segundo estágio parto (CSS) para avaliar qual melhor método para abreviar o segundo período do parto.  

Após a exclusão de artigos que não preenchiam os critérios de inclusão foram selecionados 15 artigos que ofereceram o seguimento de 20.051 partos por CSS e 32.823 partos com VE. Todas as cinco mortes maternas foram no grupo da CSS por complicações anestésicas.  

Resultados 

Do total de 133 mortes perinatais, 92 (0,45%) foram no grupo da CSS e 41 (0,12%) no grupo VE. Mais mortes ocorreram no grupo CSS em países de baixa renda durante o período de “decisão da via de parto” no grupo CSS (5,5% versus 1,4%, OR 4,00 (95%, IC 1,17-13,70; e 11% versus 8,4%, OR 1,39 (95% IC 0,85 – 2,26)). Todas as outras variáveis maternas não mostraram diferenças significativas. Demonstrou-se que a gestante esperou muito tempo (estudos com até mais de 60 minutos para tomar a decisão de interromper a gestação por cesariana em relação ao tempo menor para o uso do VE). 

Outro achado interessante da revisão foi o risco 100 vezes maior de mortalidade materna em países de baixa renda em relação aos de maior renda em relação às 12 vezes de risco quando a cesárea foi feita no segundo estágio do parto. Os autores sugerem que haja melhor treinamento e estímulo ao parto normal assistido e diminuir as taxas de cesárea em países de baixa renda.  

As fístulas obstétricas, maior complicação dos partos obstruídos foram registradas somente em um estudo. Próximos estudos devem atentar para essa complicação frente a epidemia global de cesáreas estudando esse desfecho.  

Considerações 

Os traumas de parto observados nos estudos foram importantes para alertar sobre a necessidade de treinamento na verdade dos profissionais. A percepção dos médicos sobre o uso de VE tenha risco para o feto não é verdade. Fatores como tipo de ventosa usada, estação da apresentação fetal, habilidade do obstetra e número de trações realizadas para o nascimento devem ser observadas para dirimir os traumas do parto com VE. 

Conclusão 

Essa foi a primeira revisão sistemática comparando VE e CSS no segundo estágio de parto para abreviar esse período. A conclusão mostrada de que o VE tem potencial de diminuir as mortes perinatais durante o período de decisão da via de parto a despeito do uso da cesariana apesar dos estudos terem números reduzidos de pacientes e não contemplarem acompanhamentos em gestações futuras após o uso do VE. 

Leia também: Tratamentos e desfechos na neoplasia trofoblástica gestacional de alto risco

Mensagem prática 

Confirmou-se o guideline internacional que sugere o uso de vácuo extrator e fórceps, seguidos pela cesárea como métodos para abreviar o segundo período prolongado do parto.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Thierens, S., van Binsbergen, A., Nolens, B., van den Akker, T., Bloemenkamp, K. and Rijken, M.J. (2023), Vacuum extraction or caesarean section in the second stage of labour: a systematic review. BJOG. Accepted Author Manuscript. https://doi.org/10.1111/1471-0528.17394