WONCA 2022: Como jovens médicos modificarão o futuro da medicina de família?

A última sessão plenária do WONCA 2022 encerrou o evento com esperanças em relação às perspectivas futuras da medicina de família.

A última sessão plenária da 27ª Conferência Europeia do WONCA encerrou o evento com esperanças em relação às perspectivas futuras da especialidade. O movimento Vasco da Gama – organização dos médicos jovens do braço europeu do WONCA e que no Brasil tem por equivalente o movimento Waynakay Brasil – organizou a sessão plenária para um chamado à ação.

O chamado, que pareceu estar presente em todas as diferentes sessões do evento, é um chamado à vivência da equidade. Jovens palestrantes que praticam medicina de família em diferentes regiões da Europa Marina Jotic Ivanovic (Bósnia e Herzegovina), Nick Mamo (Malta), Julien Artigny (França/Martinica) conduziram em uma dança muito bem coordenada de discursos uma reflexão sobre o senso de comunidade.

Medicina de família pela Europa

Nas palavras de Ivanovic ‘comunidade não é um lugar, um espaço físico, mas sim as pessoas; comunidade é um símbolo do cuidado, senso de pertencimento e influências individuais e coletivas mútuas’. Esse lugar simbólico é marcado por oportunidades de aprendermos uns com os outros.

Artigny, ativista de grande influência nas abordagens de atenção à saúde LGBTQIA+ na Europa, enfatizou que comunidades são guiadas por valores centrais e, como destacado em todas as outras sessões plenárias, para a comunidade de pessoas que praticam medicina de família o principal valor é a equidade. Ele ainda relembrou que ‘equidade não significa entregar tudo para todos, mas entregar às pessoas o que elas necessitam’. 

Praticar esse valor em comunidades é, no entanto, muito desafiador. Isso porque é grande a dificuldade de averiguar profundamente as necessidades das pessoas a partir de sua própria perspectiva. É difícil escutar atentamente um subgrupo quando não se pertence a ele, e é ainda mais difícil o fazer de modo qualificado atravessando as fronteiras de preconceitos, conceitos estabelecidos, vieses culturais e cognitivos.

O jovem ativista francês ilustrou sua fala a partir de uma análise da falta de equidade entre a própria comunidade europeia de medicina de família. A diferença econômica entre o país mais rico e o mais pobre do bloco é de 30 vezes. Em um congresso que acontece no modelo híbrido, por exemplo, isso não pode ser considerado por si como o máximo de equidade para que todos participem. Os esforços de equidade implicam em entregar para o país mais rico e o mais pobre as mesmas condições de comparecer ao evento, porém será que todos tem ao menos internet de alta velocidade para isso?

“Empoderamento é o poder da comunidade e a solução para alcançar a equidade”, direciona o médico de família Nick Mamo, que preside o movimento jovem europeu. Como ilustração desse posicionamento, Mamo conta como ações simples podem ser transformadoras. A maior parte da comunidade médica que pratica medicina de família e comunidade na Europa – assim como no Brasil – é composta por pessoas que podem gestar. Esse é um ponto que cria uma barreira para o acesso dessas pessoas nesses eventos: cuidados com suas crianças lactentes. A maioria desse público continua a exercer a profissão, mas não consegue participar de longos eventos, especialmente internacionais, por não terem com quem deixar as crianças. A solução encontrada pela organização do WONCA foi a construção de um espaço infantil (foto a seguir), com fraldário, e assim a oportunidade de acesso foi ampliada, com um dos maiores workshops dessa edição sendo conduzidos por uma médica de família mãe que palestrou com seu filho nos braços (foto a seguir).

Reflexões

Para encerrarem, os três ativistas fizeram um exercício de reflexão para construção de uma percepção de comunidade a partir da sua percepção de si, de maneira individual. Para isso, responda as quatro perguntas a seguir:

  • Quem sou eu?
  • Para onde quero ir?
  • O que eu quero me tornar?
  • O que me define?

Essas quatro perguntas poderosas carregam as conexões do indivíduo com seus pares, seus diferentes iguais. Isso está ilustrado no diagrama a seguir de desenvolvimento da comunidade.

O chamado para ação é o chamado do comprometimento total do indivíduo com o todo. Esse problema central de direcionamento tem como solução o empoderamento da comunidade guiado pela equidade. Os três ainda brincaram com o público dizendo que pensamentos automáticos sabotadores vêm automaticamente, porém solucionam:

  1. ‘Eu duvido de mim mesmo, não sei se tenho todas as capacidades e habilidades para isso’. Duvidar não é sinônimo de medicina de família? Lidar com a incerteza constante de diagnósticos com sintomas inespecíficos, complexos, determinantes sociais de saúde
  2. ‘Eu não tenho tempo suficiente’. O médico de família não é o especialista em manejar o tempo? Em resolver rapidamente problemas complexos, gestão da agenda, vincular pacientes que acabaram de conhecer num tempo curto de consulta?

Assim como equidade é valor central da medicina de família e comunidade, superação é o fazer diário do médico de família. Para isso não há solução isenta de esforço. Assim eles foram aplaudidos por um longo período e de pé por todos os participantes do evento, encerrando suas falas em conjunto dizendo sincronizadamente que “a mudança requer ação, e ação requer comprometimento”.

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