A cultura do cancelamento e as repercussões à saúde mental

No ambiente de interação social é comum o uso de um termo que vem tomando grande espaço nas discussões midiáticas, o cancelamento virtual.

O novo mundo contempla uma vida virtual, onde as redes sociais se tornam o caminho para as novas formas de comunicação. Nesse novo ambiente de interação social é comum o uso de um termo que vem tomando grande espaço nas discussões midiáticas, o cancelamento virtual. Notícias diárias que pessoas foram canceladas tomaram as redes. A principio pessoas celebres sofreram o cancelamento, trazendo complicações à carreira, vida financeira e pessoal/emocional. Ataques na web trazem tais complicações, que se potencializam pela possibilidade da invisibilidade dos canceladores. Não sabemos bem qual a origem da cultura de cancelamento, mas sabemos que a cultura toma força no ano de 2017, quando astros de Hollywood e influenciadores sofreram ataques pela utilização da hashtag: MeToo. O objetivo do cancelamento era realizar denúncias a abusos e violências que eram provocadas por esses astros ou influenciadores. No inicio, houve uma avaliação benéfica a sociedade, sendo entendida como uma forma de ação social quando a imoralidade ou atos que buscam um comportamento ético da sociedade.

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A cultura do cancelamento e as repercussões à saúde mental

Consequências à saúde mental

Nos dias atuais a cultura do cancelamento torna-se uma ameaça para os membros da sociedade que hoje, já possuem a rede social como ambiente de trabalho e como forma de se relacionar na vida. Pessoas são expostas, sem direito a um principio básico construído a milênios que é o princípio do contraditório e da ampla defesa frente a qualquer ato ou conduta de um membro social. Ameaças, insultos, ofensas são deferidas a pessoa e seus familiares. Um julgamento social é implementado e a pessoa acaba comprometendo questões relacionadas ao trabalho, renda e à imagem. A redução da saúde mental vai para além do cancelamento, mas já se faz presente no medo e angústia diário quanto a possibilidade de cancelamento. jovens e adolescentes sofrem mais com a questão e torna-se necessário que autoridades iniciem ações de saúde que discutam o tema, para que seus danos a saúde mental sejam reduzidos. 

O comportamento de tirania e punibilidade que os canceladores geram na pessoa, se aproximam de atos relacionados a violência. A exclusão social e da comunicação da pessoa pode chegar ao ponto de abolir alguém do mundo das relações sociais. Um fato interessante é a presença de notícias falsas no meio do cancelamento, a notícia se espalha com muita velocidade, característica do conteúdo digital, o que pode provocar danos a vida pessoal irreversíveis. Essas são características da cultura do cancelamento. A democracia é afastada nessa cultura e direitos básicos construídos ao longo da história são simplesmente abolidos. 

Uma questão importante na cultura do cancelamento se relaciona a idolatria de influencers e artistas. Esses geram opiniões que são seguidas, caso a pessoa tenha opinião ou comportamento contrário a essas “determinações” pode sofrer um julgamento da sociedade. A dominação do discurso e comportamento gera um problema por haver diferenças culturais e regionais muitas vezes não consideradas no comportamento social. O cancelamento acontece então, por conflitos de opiniões e pensamentos, de acordo com crenças sobre um suposto “certo” ou “errado” convencionado por um grupo específico. Assim, pensamentos ou atitudes consideradas como erradas levam a tais ataques. Bom, apenas a possibilidade dos ataques já podem ser impedimento da expressão e acionadores de vulnerabilidades psíquicas, pelo autojulgamento, excesso de vigília do comportamento segundo algo ordenado no meio social e não processado ou compreendido.

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O adoecimento mental relacionado a cultura do cancelamento já é uma verdade. Por isso, as autoridades de saúde devem se atentar, assim como os profissionais de saúde que devem pensar em ações de cuidado para prevenir complicações de adoecimento. Algumas vezes o cancelamento social pode ser temporário e isso sinaliza que há possibilidades e formas de expressão que possam diminuir os efeitos dessa nova vulnerabilidade social. Os constantes xingamentos e exposição da figura da pessoa podem gerar o declínio abrupto de saúde mental. Alguns sintomas comuns são percebidos facilmente nas pessoas canceladas que podem ser indicativos da redução da saúde mental, são eles:

  • Reclusão social;
  • Isolamento;
  • Tristeza;
  • Anedonia;
  • Choro fácil;
  • Angústia;
  • Agitação;
  • Sentimento de desespero;
  • Alterações no sono;
  • Alterações alimentares;
  • Ansiedade;
  • Depressão;

O que pode ser feito?

Os profissionais de enfermagem podem atuar junto a jovens e adultos que utilizam as redes sociais e sofrem com o cancelamento ou com ataques na internet. A consulta de enfermagem é um ótimo local para a consulta de atenção à saúde mental das pessoas na comunidade. Algumas questões devem ser trabalhadas com pessoas que sofreram o cancelamento para que haja o restabelecimento da saúde mental e a diminuição de sinais e sintomas que sejam decorrentes da exposição em redes sociais. Podemos considerar algumas intervenções que podem ser sugeridas pelos profissionais, são elas:

  • Oriente a pessoa a diminuir o tempo de utilização das redes sociais, utilizando com horários determinados e evitando a leitura dos ataques gerados por canceladores;
  • Oriente a pessoa a se retratar publicamente quando as condutas que foram julgadas forem de cunho amoral ou antiético, estabelecendo possibilidades de amenizar o ato social repugnado;
  • Estimule ações de cuidado relacionadas ao lazer, atividade física e outras atividades que possam redirecionar a atenção e energia;
  • Estimule e ajude a pessoa a construir o autoconhecimento e a compreensão de sua carreira profissional ou de sua vida pessoal;
  • Oriente quanto aos fatores de vulnerabilidades de saúde, ajudando a pessoa a compreender seus sentimentos e emoções;
  • Oriente quanto aos possíveis sinais e sintomas e tenha empatia. O acolhimento é o principal passo no cuidado, uma vez que a pessoa está sofrendo com a exclusão e julgamento.

Outras diversas ações podem ser realizadas, pautadas em um projeto terapêutico singular. Este instrumento é construído a partir das queixas e questões trazidas pela pessoa. É importante compreender que  novas doenças e vulnerabilidades emergem na sociedade. Nós enfermeiros temos que lidar com questões sociais que mesmo ainda não fazendo parte do rol das doenças, são vulnerabilidades geradoras do processo de adoecimento. Por tanto, seja sensível as novas questões da sociedade e atualize constantemente quanto aos assuntos mais discutidos na sociedade, assim poderemos estar a frente nas práticas de cuidado.

Referências bibliográficas:

  • Abjaude SAR, et al. Como as mídias sociais influenciam na saúde mental?. SMAD. Revista eletrônica saúde mental álcool e drogas. 2020;16(1):1-3. doi: 10.11606/issn.1806-6976.smad.2020.0089
  • Borges, Claudia Daiana, & Faria, Jeovane Gomes de. (2017). Redes Sociais e Atenção em Saúde Mental: Uma Revisão da Literatura. Revista de Psicologia da IMED9(1), 159-174.
  • Carvalho, Marcio. O uso da teoria do julgamento social no estudo de políticas públicas. Cadernos EBAPE.BR, 2005, v. 3, n. 2, pp. 01-10.

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