O desconforto e o medo têm levado jovens a não querer sair de casa, ir para escola, faculdade ou realizar atividades possíveis durante a pandemia. Mesmo ainda sendo necessário o distanciamento social, havendo possibilidade e respeitando as normas de segurança em espaços fora do lar, algumas pessoas, principalmente jovens estão evitando a volta da vida instrumental ou funcional fora do ambiente domiciliar. Estamos falando da Síndrome da Gaiola, que faz analogia a pássaros que depois de muito tempo engaiolados, mesmo com a porta aberta, têm dificuldade em sair da gaiola e isso acontece devido ao tempo que o pássaro é mantido na Gaiola.
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Esse fenômeno é mais comuns em crianças e adolescentes que são os mais afetados, uma vez que ficam com medo de se infectar, de levar o vírus para seus pais e familiares e desenvolvem certa atrofia social pelo tempo de isolamento e distanciamento social.
Impacto da pandemia
A ansiedade infantil e a ansiedade na adolescência esta cada vez maior frente aos problemas decorrentes da pandemia. A ideia da volta às aulas presenciais gera medo e angústia nos alunos. Medo de contaminação é um dos maiores problemas que dificulta o retorno a escola. Esse é um problema que a sociedade vai ter que lidar ao longo dos anos que pode ser uma marca da pandemia no Brasil. O comportamento é mais comum em crianças e adolescentes que já apresentam algum transtorno psicológico, como a depressão e o transtorno obsessivo compulsivo (TOC), mas pode ser observado em jovens sem qualquer quadro de adoecimento. É comum jovens com essa condição se sentirem mal em locais públicos ou em ambientes que será inevitável a convivência. O grande mal dessa condição é no aspecto emocional. Os jovens passam a ter dificuldade de se conectar a grupos ou pessoas.
Podemos, enquanto profissionais de saúde, construir cuidados que possam libertar essas pessoas dessas “Gaiolas”. O sentimento de prisão é parecido com aqueles que acontecia com pacientes institucionalizados nos grandes hospitais psiquiátricos, a porta quando aberta gerava um sentimento de medo. O que encontrariam do lado de fora podia ser muito pior do que acontecia dentro do hospital, mesmo este sendo local de tortura e violência. Não podemos tratar dessa condição como ignorância, mas como prisões que na verdade estão mais ligadas a condição mental que apenas aquelas estruturais. Mas precisamos ajudar as pessoas a se libertar e para isso, os profissionais da saúde podem ser aqueles que contribuirão com a “abertura das gaiolas”.
Os profissionais da saúde podem realizar algumas intervenções
- Realize o acolhimento da criança ou do adolescente;
- Construa uma linha de cuidado que envolva a família, professores e amigos;
- Constitua vínculo com a criança ou adolescente, observando as condições de cada indivíduo;
- Fazer levantamento clínico para avaliar sinais de ansiedade e depressão ou outra doença psiquiátrica;
- Converse com a criança ou com o adolescente e discuta o assunto, compreenda o motivo da ansiedade ou angústia;
- Explique quanto aos riscos e medidas de proteção a contaminação pelo vírus SARS-CoV-2;
- Escute a criança ou adolescente e entenda os motivos do comportamento e a partir disso construa uma linha de cuidado;
- Seja otimista e positivo frente aos novos desafios;
- Conforte a pessoa explicando sobre sua condição e mostrando um caminho para o cuidado de si.
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Lembre-se que cuidados com a pessoa com sofrimento psíquico passa por fazer a pessoa ter autoconhecimento e desenvolver habilidades para poder enfrentar os problemas e as emoções que decorrem do enfrentamento dos conflitos. As ações emancipadoras sempre serão aplicadas à pessoa.
Referências bibliográficas
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