Câncer hereditário: mama e ovário

A história familiar detalhada continua a ser uma ferramenta importante para identificar risco hereditário de câncer de mama, ovário ou outros.

O câncer é considerado uma doença genômica, surgindo como consequência de alterações cumulativas no material genético de células normais. A identificação dos genes envolvidos no câncer proporciona uma melhor compreensão acerca da doença, bem como contribui para novas formas de diagnósticos e tratamento. As síndromes de câncer hereditário são afecções genéticas, nas quais neoplasias malignas tornam-se mais prevalentes em indivíduos de uma mesma família.

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Câncer hereditário: mama e ovário

Câncer de mama e ovário hereditários

O câncer de mama continua sendo o câncer feminino mais comum, afetando aproximadamente 1 em cada 8 mulheres ao longo de sua vida. Dos mais de 300.000 casos de câncer de mama que ocorrem nos Estados Unidos a cada ano, 5% a 10% são hereditários. O câncer de ovário, embora afete menos mulheres (risco de 1 em 70 ao longo da vida), permanece associado à detecção tardia e altas taxas de mortalidade, e 20% a 25% dos cânceres epiteliais de ovário têm uma causa hereditária.

Os cânceres hereditários demonstram idade de início precoce, doença multifocal ou bilateral e riscos 5 a 10 vezes maiores que os da população geral. Grupos específicos de câncer sugerem certas síndromes, como mama com ovário (câncer de mama e ovário hereditário) e cólon com endométrio (síndrome de Lynch).

O câncer hereditário de mama e ovário é associado com variante patogênica nos genes BRCA1 e BRCA2, identificados em 1994 e 1995. Estudos prévios estimam que de 1/200 a 1/400 indivíduos na população geral carregam essa alteração.

Para o BRCA1 o risco médio cumulativo aos 80 anos de idade para câncer de mama e de ovários é de 67% e 45%, respectivamente; para os portadores de mutações no gene BRCA2, o risco é de 66% para câncer de mama e de 12% para câncer de ovários.

A importância da história familiar

Uma história familiar detalhada continua a ser a ferramenta mais importante e facilmente acessível para identificar indivíduos com risco hereditário de câncer de mama, ovário ou outros. Coletar uma história familiar para identificar possível câncer de mama e ovário hereditário deve incluir, no mínimo, o seguinte:

  • História de câncer de mama e ovário em familiares:
    • Primeiro grau (pais, irmãos, filhos); e
    • Parentes de segundo grau (tias/tios, avós, sobrinhas/sobrinhos);
    • Ambos os lados materno e paterno da família;
    • Idade de início precoce (50 ou menos para mama);
    • Múltiplos parentes de primeiro ou segundo grau afetados (mesmo lado da família) em várias gerações com câncer de mama e/ou ovário;
    • Câncer de mama bilateral (pelo menos um com menos de 50 anos);
    • Câncer de mama e ovário no mesmo indivíduo;
    • Câncer de mama masculino.

Aconselhamento genético

Considerando a possibilidade de identificar mutações em genes de alta penetrância, como, por exemplo, os genes BRCA1 e BRCA2 e guiar de maneira mais específica medidas de redução de risco, há alguns critérios para a escolha das pacientes que se beneficiariam de uma avaliação genética e de testes genéticos.

De acordo com a National Comprehensive Cancer Network Clinical Practice Guideline in Oncology – Familial High Risk Assessment: Breast and Ovarian Cancer Version 1 (2018), devem ser encaminhadas para aconselhamento genético todas as mulheres com caso de mutação genética na família com suscetibilidade para câncer de mama ou com pelo menos dois tipos de neoplasia primária em um mesmo parente, dois ou mais casos de neoplasia mamária, sendo um deles antes dos 50 anos de idade, casos de neoplasia ovariana ou peritoneal, câncer de mama masculino ou em parente de primeiro ou segundo grau até os 45 anos de idade.

As duas principais opções de testes genéticos para a síndrome hereditária de câncer de mama e ovário são testes de mutação BRCA e testes de painel multigênico que incluem BRCA e outras mutações genéticas. O teste de painel multigênico pode ser útil quando mais de um gene pode estar associado a uma síndrome de câncer hereditária ou quando um paciente possui histórico pessoal ou familiar consistente com uma susceptibilidade ao câncer hereditária, mas o teste de um único gene não identificou uma variante patogênica.

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Após testes genéticos positivos

A abordagem da mulher com alto risco para câncer de mama deve iniciar com a identificação desse grupo de mulheres. As recomendações de mudanças no estilo de vida, rastreamento diferenciado de neoplasias, avaliação e discussão sobre quimioprofilaxia e cirurgias redutoras de risco (mastectomia e salpingooforectomia bilaterais) e métodos reprodutivos são feitas de maneira multidisciplinar.

Em mulheres com mutações BRCA ou com antecedentes familiares de câncer de ovário, não é recomendado o rastreio de rotina de câncer de ovário com medição do nível sérico de CA 125 ou ultrassonografia transvaginal. A ultrassonografia transvaginal ou a medição do nível sérico de CA 125 podem ser razoáveis para a vigilância a curto prazo em mulheres com alto risco de câncer de ovário a partir dos 30-35 anos até o momento em que eles optam por promover a salpingooforectomia bilateral com redução de risco, o que é a única intervenção comprovada para reduzir a mortalidade específica do câncer de ovário.

Quanto ao câncer de mama, mulheres com mutação dos genes BRCA1/2 ou de outras síndromes genéticas que aumentam o risco de câncer de mama ou com parentes de primeiro grau com mutação comprovada deve ser submetida a mamografia anual após 30 anos.

Após o aconselhamento, aquelas pacientes que possuem mutações BRCA ou outra mutação semelhante relacionada à predisposição do câncer de mama devem ser oferecidas mastectomia redutora de risco bilateral.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Bellcross CA. Hereditary Breast and Ovarian Cancer: An Updated Primer for OB/GYNs. Obstet Gynecol Clin North Am. 2022 Mar;49(1):117-147. DOI: 10.1016/j.ogc.2021.11.005.
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