A idade de início influencia as manifestações da arterite de células gigantes?

A arterite de células gigantes (ACG) é uma vasculite de grandes vasos que pode causar grande morbidade relacionada às manifestações da própria doença ou ao seu tratamento.

Uma das maiores preocupações da arterite de células gigantes é com o prognóstico visual dos pacientes, já que podem cursar com neuropatia óptica isquêmica e perda visual profunda.

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Com o envelhecimento, diversas alterações vasculares e imunológicas podem acontecer, o que poderia impactar na expressão da ACG. No entanto, essa interação entre idade e fenótipo da doença é grandemente desconhecida.

Visando identificar o impacto da idade de início da ACG nas manifestações clínicas da doença, Monti et al. conduziram o estudo GCAGE.

A idade de início influencia as manifestações da arterite de células gigantes

Métodos

Trata-se de um estudo observacional com braços retrospectivos e prospectivos. Pacientes que foram encaminhados para os centros vinculados ao Grupo de Estudo de Vasculites da Sociedade Italiana de Reumatologia e que receberam o diagnóstico de ACG entre 01/01/1988 e 01/11/2020 foram incluídos.

Os pacientes foram estratificados de acordo com a idade de início da doença (≤64, 65-79 e ≥80 anos de idade) e comparados com relação às taxas de recorrências. Dentre os desfechos secundários, foram analisados o tempo até a primeira recorrência, tempo para atingimento de prednisona ≤5 mg/dia, tempo até início de outro imunossupressor e desfechos clínicos de interessente nos meses 12 e 60.

Com relação às provas inflamatórias, o VHS e o PCR foram considerados muito elevados se maiores que a mediana observada (>77 mm/hora e >64 mg/dL, respectivamente). As recidivas foram definidas como recorrência dos sinais e sintomas de ACG (incluindo estenose nova ou progressiva de grandes vasos ou aneurisma na imagem), resultando em aumento de corticoide ou imunossupressor.

Resultados

Foram incluídos 1.004 pacientes com ACG (idade média 72,1; 70,8% do sexo feminino, seguimento médio de 49 meses [desvio interquartílico 23-91]). Desses, 195 pacientes tinham ≤64 anos, 617 entre 65-79 anos e 192 com ≥80 anos no início da doença.

Pacientes com ≥ 80 anos no início da doença tiveram mais sintomas extracranianos (77,0% vs. 64,0% vs. 35,0%, p≤0,0001), maior taxa de perda visual permanente (37,0% vs. 18,2% vs. 6,2%, p≤0,0001), mais complicações isquêmicas (41,0% vs. 24,0% vs. 15,0%, p<0,0001) e menor taxa de sintomas sistêmicos no início (52,0% vs. 63,0% vs. 77,0%, p<0,0001) do que aqueles mais jovens no início da doença. O acometimento de grandes vasos foi mais frequente nos pacientes com ≤ 64 anos no início da doença (65,0%).

Saiba mais: Novos critérios para arterite de células gigantes (ACG) são publicados

Com relação ao desfecho primário, a idade não influenciou o número nem o tempo até a recorrência. Apesar disso, os idosos tiveram menor probabilidade do uso de imunossupressores e uma maior probabilidade de eventos adversos. Pacientes com > 65 anos no início do quadro tiveram uma probabilidade de aneurisma ou dissecção aórtica 2-3 vezes maior que os mais jovens (até 60 meses de follow-up).

Comentários

Os pacientes com ACG iniciada em idade mais avançada tiveram um fenótipo específico, com maior risco de sintomas extracranianos, perda visual permanente e complicações isquêmicas. Além disso, foram menos propensos a apresentarem sintomas sistêmicos e menor acometimento aórtico. No seguimento, também apresentaram um maior risco de aneurisma/dissecção aórtica. Esse fenótipo sugere um fenótipo mais grave nos pacientes com início da doença após os 80 anos. Isso pode ser interessante para guiar estratégias de seguimento e suscitarem uma avaliação mais próxima desse pacientes, com uma maior participação da oftalmologia, em conjunto com a reumatologia.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Monti S, Milanesi A, Klersy C, et al; Italian Society of Rheumatology Vasculitis Study Group. Age at diagnosis influences the clinical phenotype, treatment strategies and outcomes in patients with giant cell arteritis: results from the observational GCAGE study on a large cohort of 1004 patients. Ann Rheum Dis. 2023 May 15:ard-2023-223895. DOI: 10.1136/ard-2023-223895.

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