ADA 2023: Entrevista exclusiva com o Dr. Gabbay, chief scientist da ADA

Em entrevista exclusiva ao Portal PEBMED, o Dr. Gabbay, chef scientist da ADA, avaliou o congresso de 2023 e falou sobre as edições futuras.

No quarto e último dia do congresso da American Diabetes Association (ADA 2023), tivemos a oportunidade de entrevistar o Dr. Robert Gabbay, chief scientist and Medical Officer da ADA. Abordamos questões sobre o congresso atual, as direções futuras, translação das pesquisas para a prática clínica, saúde pública e o diabetes na américa latina. 

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Pebmed: Como o senhor avalia o congresso de 2023 comparado a dez anos atrás? 

Dr. Gabbay: “Uau. Bigger, better and with more advances” (maior, melhor e com mais avanços). É difícil de lembrar um ADA que tenha tido tantos clinical trials importantes apresentados e com publicações simultâneas em jornais de alto impacto. Três publicações no New England Journal of Medicine (NEJM), dois JAMAs, seis Lancet Não me lembro disso ter acontecido antes. Esse é o “pace” da ciência, que vem acelerando. Nos últimos anos, ujm ou dois publicações desse tipo, estamos indo numa direção interessante. 

Pebmed: Todas as inovações relacionadas ao diabetes infelizmente têm um custo elevado. Qual caminho parece mais trazer mais benefícios aos pacientes no futuro, as novas tecnologias ou as novas medicações? 

Dr. Gabbay: “Essa é uma pergunta difícil. Em primeiro lugar, a American Diabetes Association se preocupa muito com o acesso a esses tratamentos. Certamente, na perspectiva dos EUA, a ADA vem trabalhando de diferentes formas para tentar maximizar o acesso para os pacientes quando eles estiverem disponíveis. Espero que o mesmo aconteça no Brasil! Existem muita desigualdade em quem pode e quem não pode utilizar as medicações em um nível global. Acredito que ambos serão importantes. É muito estimulante pensar no futuro em que poderemos utilizar ambas as ferramentas juntas (medicações e tecnologia) para beneficiar os pacientes no sentido de uma medicina mais personalizada. Uma outra coisa muito interessante a se observar é o trabalho que vem sendo desenvolvido por start-ups e seus desenvolvimentos. Não é a forma tradicional que estamos acostumados a ver os progressos dentro do diabetes acontecer, porém é muito inspirador ver novas idéias surgindo. E eles tem tentado também colocar essas duas coisas em conjunto – tratamento e tecnologia. 

Pebmed: Como convencer governos, seguradoras e planos de saúde que o investimento no tratamento do diabetes vale a pena? 

Dr. Robert Gabbay: Esse é um aspecto fundamental. O que sabemos é que no diabetes, o principal custo para as organizações são as complicações. Tratando melhor o diabetes, esse gasto diminui. Para quem olha para a situações sob o ponto de vista financeiro, é importante os educar sobre essa conexão. Falando sobre os EUA, 1 a cada 4 dolares gasto em saúde é com diabetes e suas complicações. Isso é uma quantia gigantesca de dinheiro e vem crescendo. Se nada for feito, dado a quantidade de pessoas que vem desenvolvendo diabetes em todo o mundo, os governos e instituições de saúde vão quebrar e não poderão pagar. Logo, é melhor gastar um pouco agora do que entrar em colapso no futuro. O maior interesse é de quem paga por internações e custos das complicações com o diabetes. 

Pebmed: Na opinião do senhor, apesar de todo avanço recente em novas terapias, que área do diabetes não estamos dando a devida atenção? 

Dr. Robert Gabbay: Acho que uma área importante é relacionada a doença hepática. Não é uma complicação nova, cerca de 70% dos pacientes com DM têm algum grau de doença hepática e não estamos diagnosticando e nem discutindo novas opções terapêuticas. Acredito que exista uma grande oportunidade aí. Dados que serão divulgados hoje (se referindo ao estudo retatrutide T2D, que você poderá conferir no portal assim que for apresentado) ilustram que precisamos olhar para novas terapias e até mesmo a perda de peso de forma geral pode trazer um grande impacto nessa condição. Acredito que essa será a próxima grande complicação que vai atrair olhos. 

Pebmed: Mudando um pouco de assunto, grande parte desses trials tem uma subrepresentação de indivíduos latinos. Os estudos da tirzepatida tiveram a participação de brasileiros, porém estudos importantes como OASIS e PIONEER não. O senhor acredita que esse fato pode impactar na translação para a vida real dos resultados obtidos para nossa população? 

Dr. Robert Gabbay: É difícil dizer. O que posso dizer é que a ADA vem tentando, pelo menos nos EUA, trabalhar para que os grandes estudos sejam mais inclusivos. Existe uma questão nos EUA de desconfiança por algumas comunidades quanto à experimentações que aconteceram num passado muito distante, então existem algumas barreiras que estamos tentando vencer. Um estudo interessante no campo da medicina de precisão mostrou que nos últimos 10 a 17 anos infelizmente vem acontecendo uma medicina “imprecisa” – 80% dos casos de DM acontecem fora dos EUA e Europa, porém apenas 4% dos estudos incluíram essas populações. Isso é realmente vergonhoso. 

Pebmed: E quais são as barreiras para incluir mais participantes da américa latina? Há uma falta de centros onde as pesquisas podem ser conduzidas? 

Dr. Robert Gabbay: Eu acredito que não, existem muitos investigadores lá, trabalhando. É mais uma questão de desejo e o reconhecimento de que fazer isso é importante. Então esperamos que isso em breve mude. 

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Pebmed: Bom, e por fim, com tantas novidades, o que esperar para o congresso da ADA do ano que vem? 

Dr. Robert Gabbay: Isso é interessante! Este ano realmente inovamos no congresso, na forma de entregar conteúdos, quantidade e acredito que vamos continuar inovando. Acredito que do ponto de vista científico, uma das coisas que estarei interessado em ver, claro, mais resultados como os que estamos vendo para o tratamento do diabetes e da obesidade, mas o que estou ansioso para ver é algo como qual medicação será melhor para qual comorbidade, não apenas para a perda de peso, mas também para outras condições. Será um “problema adorável” de se ter, pois você sabe (risos), até um ano atrás tínhamos apenas os agonistas de GLP-1 e agora temos diversas opções. Acho que essa será uma história muito interessante. Doença cardiovascular sendo uma, mas também muito mais em outras comorbidades. 

Pebmed: Isso esclarece muito, agradecemos a disponibilidade e foi um prazer conversar com o senhor! 

Dr. Robert Gabbay: O prazer foi meu, obrigado por viajar até aqui e espero que nos vejamos também no próximo ano! 

Acompanhe toda a cobertura do congresso ADA 2023 aqui

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