Álcool e outras drogas e aleitamento materno: riscos para o recém-nascido

No mês de promoção do aleitamento materno vamos revisar os impactos do álcool e outras drogas para mulher e bebê.

O aleitamento materno exclusivo é amplamente recomendado até o sexto mês de vida da criança. Porém, a indicação de aleitamento materno por mães de usuárias de drogas ilícitas não apresenta consenso entre os especialistas e sociedades.

Leia também: Insegurança e ansiedade no aleitamento materno

Álcool e outras drogas e aleitamento materno: riscos para o recém-nascido

Impacto do consumo de álcool e outras drogas

O efeito de álcool e outras drogas traz prejuízos orgânicos, emocionais e psicológicos para a mulher em diferentes ciclos da vida. Porém, na gestação e amamentação o uso dessas substâncias é ainda maior. Dessa forma, os profissionais de enfermagem devem conhecer o tipo de ação da droga no Sistema Nervoso Central, além de especificidades como dose utilizada, o tempo de uso, e a idade do lactente para determinar os efeitos sobre a produção láctea e sobre o lactente.

O álcool tem efeito depressor e pico de ação entre 30 e 90 minutos. Uma dose padrão de bebida alcoólica contém 10 g de álcool puro, que corresponde a um copo de 255 ml de cerveja, ou uma taça de vinho de 100 ml, ou uma dose de 30 ml de destilado. Para cada dose, o tempo médio de eliminação é de duas horas, com variação de acordo com o peso.

Recém-nascidos que foram expostos ainda intraútero ao álcool pela ingestão materna apresentavam anomalias craniofaciais, alterações patológicas em membros, problemas de crescimento, defeitos cardiovasculares, além de atraso em seu desenvolvimento que foi denominada como Síndrome Alcóolica Fetal.

A síndrome alcóolica fetal ocorre devido a ingestão de álcool em excesso durante o período gestacional, ocasionando um conjunto de sinais e sintomas no recém-nascido. O acometimento do feto está relacionado não somente a quantidade de álcool ingerida mas também em qual período da gestação houve o consumo. O álcool atravessa a barreira placentária e alcança a circulação fetal e o líquido amniótico, ultrapassando facilmente a barreira hematoencefálica.

Como principais anomalias faciais, podemos citar: lábio superior muito fino, filtro nasal ausente e fendas palpebrais pequenas (tríade característica), fissura ou ptose palpebral, achatamento de hemiface, nariz anterovertido, filtro labial liso, fenda labiopalatal, agenesia de tubo auditivo, orelha em abano, surdez, estrabismo e hipoplasia de nervo óptico.

Durante a amamentação, o consumo pode estar associado a sonolência, diaforese, fraqueza e ganho de peso inadequado, com risco em bebês com menos de dois meses, prematuros, ou com alterações clínicas e função renal prejudicada. O efeito sobre a produção láctea é controverso, uma vez que pode aumentar os níveis de prolactina ou inibir a liberação de ocitocina, além de alterar o sabor e provocar a recusa do leite pelo bebê. Todavia, estudos demonstram que quanto maior o tempo de uso, maior a chance de desmame precoce.

Dessa forma, o consumo de álcool durante a amamentação deve ser desencorajado. Todavia, se ocorrer, a mulher deve ser orientada a programar o horário de consumo, optando pela ingestão logo após a amamentação. Além disso, pode ser recomendado o armazenamento de leite antes da ingestão das bebidas, consumo esporádico, alimentar-se antes e durante o uso da bebida, e que é melhor o leite materno com pequena quantidade de álcool do que o leite artificial.

Em relação ao consumo de outras drogas, as principais consequências estão descritas no quadro abaixo.

Droga Consequência na amamentação
Tabaco Intoxicação aguda do bebê (agitação, vômitos, diarreia e taquicardia); redução da quantidade do leite e alteração do sabor; cólicas; choro excessivo; alteração do sono; alteração do crescimento pulmonar e aumento de infecções do sistema respiratório; síndrome da morte súbita; e problemas comportamentais e déficits neurocognitivos.
Maconha Diminuição do desenvolvimento motor da criança; problemas comportamentais; alteração do sono; problemas de aprendizado; distúrbios de atenção e memória; predisposição a ansiedade e depressão.
Cocaína ou crack Crises convulsivas, hipertensão arterial; taquicardia; agitação e irritabilidade do bebê.

Diante do exposto, ressalta-se que quanto maior o tempo de uso e menor a idade do bebê, piores são as consequências para o desenvolvimento e crescimento. E, em situações de consumo por curtos períodos, a amamentação deve ser evitada temporariamente. Porém, os estudos que especificam o tempo necessário de suspensão ainda são escassos, e drogas como cocaína e crack, anfetaminas, fenciclidina, heroína, inalantes, LSD, maconha e haxixe contraindicam o aleitamento materno por tempos teóricos de eliminação da substância.

  • Cocaína e crack, heroína, maconha – 24 horas;
  • Anfetaminas – 24 a 36 horas;
  • Fenciclidina – 1 a 2 semanas;
  • Inalantes – indeterminado, pois varia de acordo com a composição;
  • LSD – 48 horas.

O álcool e tabaco, por sua vez, podem ser mantidos com cautela e acompanhamento sistemático dos padrões de crescimento e desenvolvimento do bebê, tendo em vista que os riscos do desmame precoce podem superar os prejuízos decorrentes do uso dessas substâncias.

Saiba mais: Como e quando o profissional de enfermagem pode orientar sobre aleitamento materno?

Contudo, cabe ao enfermeiro, por meio da consulta de enfermagem, identificar o contexto sociocultural e familiar em que a mulher está inserida, além da condição física e psíquica, para determinar os diagnósticos e intervenções de enfermagem. Dentre essas, destaca-se o monitoramento dos sinais vitais, orientações gerais sobre a amamentação, acompanhamento de puericultura nas Unidades Básicas de Saúde, monitoramento da glicemia, dentre outros. E, enfermeiro, não se esqueça que o cuidado em saúde nesses contextos deve ser livre de estigmas e preconceitos para garantir direitos básicos das mulheres.

Autoria:

Camila Tenuto Messias da Fonseca
Enfermeira (EEAAC/UFF) • Especialista em Terapia Intensiva Neonatal (IFF/FIOCRUZ) • Especialista em Terapia Intensiva (UNYLEYA) • Discente do Mestrado Profissional em Ensino na Saúde (EEAAC/UFF) • Enfermeira rotina do CTI Geral (HUPE/UERJ)

Hérica Pinheiro Correa
Enfermeira e coordenadora da Estratégia Saúde da Família. Mestranda em Cuidado Primário em Saúde na Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES). Enfermeira obstetra pelo Hospital Sofia Feldman. Enfermeira pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
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