Anti-inflamatórios aumentam a chance de insuficiência cardíaca?

Os anti-inflamatórios não esteroidais já foram associados a doença cardíaca e os mecanismos são retenção de líquido e seus efeitos no coração, rins, endotélio e plaquetas.

Já é conhecido que pacientes com diabetes mellitus tipo 2 (DM2) têm maior chance de apresentar cardiomiopatia, insuficiência cardíaca (IC) subclínica e disfunção renal.  O uso de anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) em pacientes com DM2 pode aumentar o risco de descompensação de IC, porém são poucas as evidências para recomendações específicas. Baseado nisso foi feito um estudo que avaliou se mesmo o uso dessa classe de medicação por curto período poderia levar a risco aumentado de primeira internação por IC.

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Anti-inflamatórios aumentam a chance de insuficiência cardíaca?

Métodos

Foi um estudo de caso-crossover dinamarquês que utilizou os registros médicos nacionais. Foram incluídos pacientes de 18 a 100 anos com diagnóstico de DM2 no período de 1998 e 2021. Pacientes com antecedente de IC ou doença reumatológica com necessidade de uso de AINE foram excluídos, assim como os que usaram a medicação nos 120 dias anteriores a inclusão. O início do seguimento foi 120 após o diagnóstico de DM2 e o término foi quando houve internação por IC ou morte ou dezembro de 2021.

A exposição foi considerada como o uso de celecoxibe, diclofenaco, ibuprofeno ou naproxeno, os AINEs mais utilizados na Dinamarca. Para a análise de caso-crossover os pacientes foram considerados expostos se tivessem prescrição de AINE em até 28 dias da primeira internação por IC e o período controle foi de 56 a 84 dias antes do evento.

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Foram feitas análises de subgrupos pré-especificados, que avaliaram o desfecho em relação a idade, uso de inibidores do sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA) e diuréticos, uso de prévio de AINE ou não, função renal e valor da hemoglobina glicada.

Resultados

Foram incluídos 331.189 pacientes e 23.308 tiveram uma primeira internação por IC. Em relação as características de base, a idade média era de 62 anos, 44,2% eram do sexo feminino, 33,5% eram hipertensos, 8,3% tinham doença cardíaca isquêmica, 5,1% fibrilação atrial e 6% tinham câncer.

No primeiro ano após a inclusão no estudo, 16% dos pacientes receberam prescrição de AINE, sendo a maioria ibuprofeno. Três por cento tiveram prescrição de AINE pelo menos 3 vezes no primeiro ano.

Em relação aos pacientes internados por primeira descompensação de IC, a idade média era de 76 anos e a mediana de tempo para o evento de 5,9 anos de seguimento. O uso de anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) aumentou o risco de internação por IC (OR 1,43, IC95% 1,27-1,63) e na análise individual houve associação com diclofenaco e ibuprofeno, porém não com celecoxibe e naproxeno.

As associações mais fortes foram em pacientes com idade ≥ 65 anos, uso de inibidores do SRAA ou diuréticos, pacientes que não fizeram uso prévio de AINE, hemoglobina glicada > 6,5% e uso de nenhum ou um antidiabético. Não houve associação com diferentes níveis de taxas de filtração glomerular.

Comentários e conclusão

O uso de anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) foi relativamente frequente e o risco de ocorrência de IC após a exposição a essa classe de medicação foi mais alto, principalmente entre pacientes mais velhos, com hemoglobina glicada aumentada e em pacientes que não utilizavam a medicação previamente.

Interessante que o grupo com hemoglobina glicada normal, independentemente do tipo de tratamento para DM2, não teve relação com descompensação em IC, o que sugere que os efeitos da hiperglicemia combinados a uso de AINE leve às alterações que resultam em IC ou ainda, pode ser que o uso de AINE “desmascare” a IC subclínica de pacientes diabéticos.

Mensagem prática

Esses achados podem ajudar a decidir quando prescrever anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) ou não para pacientes diabéticos, baseado em idade, nível de hemoglobina glicada e se é um uso inicial ou o paciente já se utilizou desta classe de medicação. Além disso, pacientes em maior risco de descompensação podem se beneficiar de um acompanhamento mais próximo, com maior vigilância.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Smith HAB, et al. Heart Failure Following Anti-Inflammatory Medications in Patients With Type 2 Diabetes Mellitus. Journal of the American College of Cardiology 2023 Abr;81(15):1459-1470. DOI: 10.1097/PCC.0000000000002873

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