Atividade física realizada pelas mães pode aumentar os benefícios da amamentação?

Estudo identificou um aumento induzido pela atividade física nos benefícios da amamentação de humanos e camundongos, na saúde metabólica e cardíaca.

No estudo intitulado Exercise-induced 3′-sialyllactose in breast milk is a critical mediator to improve metabolic health and cardiac function in mouse offspring, publicado no jornal Nature Metabolism, pesquisadores identificaram um aumento induzido pela atividade física do oligossacarídeo 3′-sialilactose (3′-SL) no leite de humanos e camundongos, e mostraram que os efeitos benéficos do exercício materno na saúde metabólica e na função cardíaca da prole de camundongos são mediados pelo 3′-SL.

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Mãe com hábitos de prática de atividade física realiza a amamentação do seu recém-nascido.

Características do estudo

Nesse estudo, camundongos fêmeas selvagens (wild-type – WT) foram divididas em dois grupos: em um grupo, as fêmeas foram expostas a atividades físicas antes e durante a gestação (grupo TRAIN). Um segundo grupo era composto por fêmeas gestantes sedentárias (grupo SED). Os exercícios consistiam em corrida voluntária em rodas duas semanas antes da concepção e ao longo das três semanas de gestação. Todas as fêmeas receberam uma dieta rica em gordura por duas semanas antes da concepção e durante a gestação. Isso porque estudos anteriores indicaram um efeito mais pronunciado do exercício materno sobre a saúde metabólica da prole na presença de uma dieta rica em gordura materna.

Para isolar os efeitos do leite das fêmeas que fizeram exercícios na saúde metabólica e na função cardíaca da prole adulta, foi utilizado um modelo de promoção cruzada. Os pesquisadores separaram os filhotes das fêmeas que fizeram exercícios e os amamentaram com leite de mães sedentárias (TRAIN-SED). Os filhotes de fêmeas sedentárias foram amamentados com leite de fêmeas que fizeram atividade física (SED-TRAIN).

Às 52 semanas de idade, os filhotes machos do grupo SED-TRAIN reduziram o peso corporal e a porcentagem de massa gorda, melhoraram a tolerância à glicose, diminuíram a insulina em jejum, melhoraram a tolerância à insulina e aumentaram a fração de ejeção em comparação com os filhotes TRAIN-SED, que haviam bebido leite de fêmeas sedentárias. Dessa forma, os pesquisadores concluíram que ter promovido os filhotes de fêmeas sedentárias para receber leite de fêmeas que fizeram atividade física resultou em melhora das funções cardíaca e metabólica. Destacando, assim, a importância das adaptações ao leite induzidas pelo exercício. As filhotes fêmeas do grupo SED-TRAIN também tiveram melhor função cardíaca do que as filhotes fêmeas do grupo TRAIN-SED na idade de 52 semanas.

Resultados

Posteriormente, os pesquisadores avaliaram os níveis de atividade física de 139 gestantes e as concentrações de oligossacarídeos do leite materno dois meses após o parto. Com isso, observaram que os níveis de 3′-SL correlacionaram-se positivamente com a atividade física, mas negativamente com o índice de massa corpórea (IMC). As fêmeas de camundongos que fizeram exercícios também tiveram níveis aumentados de 3′-SL no leite.

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Em uma outra análise, os pesquisadores observaram que o treinamento físico não conferiu benefícios aos descendentes de camundongos geneticamente modificados (knockout mice) para a ausência do 3′-SL (3′-SL – / -). Além disso, experimentos de promoção cruzada mostraram que o leite de fêmeas 3′-SL – / – exercitadas e treinadas não mediou benefícios nos filhotes de fêmeas WT sedentárias. Por fim, filhotes de camundongos fêmeas WT sedentárias alimentadas com dieta rica em gordura que tiveram suplementação de 3′-SL durante a lactação demostraram melhora do metabolismo e da função cardíaca quando adultos.

Conclusão

Esses resultados mostram que os benefícios do treinamento físico são mediados por um oligossacarídeo presente no leite materno. Este é o primeiro estudo a identificar um papel do exercício físico para induzir adaptações à composição do leite materno. Além de ser também o primeiro estudo a identificar um papel do 3′-SL para mediar melhorias na saúde metabólica e na função cardíaca na prole.

A adaptação no leite materno induzida pelo exercício físico foi essencial para melhorar a saúde metabólica de machos adultos e a função cardíaca de fêmeas adultas e o oligossacarídeo 3′-SL é um componente crítico para mediar esses efeitos benéficos: a suplementação de 3′-SL mostrou proteger a prole contra o efeito prejudicial de uma dieta rica em gorduras na composição corporal e na tolerância à glicose. Dessa forma, a suplementação de 3′-SL é uma abordagem terapêutica em potencial para combater o desenvolvimento da obesidade, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares.

Referências bibliográficas:

  • Harris, J. E. et al. Exercise induced 3′-sialyllactose in breast milk is a critical mediator to improve metabolic health and cardiac function in mouse offspring. Nat. Metab. https:// org/10.1038/s42255-020-0223-8 (2020)
  • Starling S. Exercise adaptations to milk confer benefits to offspring [published online ahead of print, 2020 Jul 16]. Nat Rev Cardiol. 2020;10.1038/s41569-020-0421-9. doi:10.1038/s41569-020-0421-9

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