Atualizações no tratamento da dor em crianças durante procedimentos com agulhas

No caso dos lactentes, por as evidências serem menos robustas, diferenciar dor de angústia ainda é um desafio.

Frequentemente, o tratamento da dor em recém-nascidos (RN) prematuros e a termo e lactentes de até dois anos de idade é relatado como inadequado e, infelizmente, estratégias eficazes são mal implementadas em uma grande parte dos serviços pediátricos. Para auxiliar na analgesia desses pacientes, uma revisão publicada esse ano no jornal científico Pain Reports mostrou evidências existentes de estratégias analgésicas eficazes durante procedimentos relacionados com agulhas, destacando iniciativas focadas na tradução das melhores evidências para a prática clínica.  

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tratamento da dor em crianças

Metodologia 

Escrito por duas enfermeiras de destaque no campo da dor em pediatria, o artigo Translating evidence: pain treatment in newborns, infants, and toddlers during needle-related procedures concentra-se na campanha 2022 International Association for the Study of Pain Global Year for Translating Pain Knowledge to Practice para a tradução do conhecimento sobre a dor na prática na população específica de RN e lactentes de até dois anos de vida.  

Resultados 

Em primeiro lugar, as pesquisadoras relatam a necessidade de monitoramento cauteloso da demanda de exames de sangue e outros procedimentos invasivos que envolvem agulha em crianças. Além disso, ressaltam: 

  • Estratégias eficazes para RN e lactentes durante procedimentos frequentes com agulhas incluem pequenos volumes de soluções adocicadas, amamentação ou contato pele a pele, quando viável e culturalmente aceitável. Outras abordagens também podem ser usadas, como sucção não nutritiva, posicionamento, enfaixamento, toque suave, aconchego facilitado e retenção segura.  
  • No caso dos lactentes, a evidência é menos robusta e discernir entre dor e angústia é um desafio. Entretanto as estratégias recomendadas para procedimentos relacionados com agulhas nessa faixa etária incluem segurar o paciente na posição vertical e confortável pela mãe/pai/cuidador, distração adequada à idade e anestésicos tópicos.
  • Uma analgesia eficaz precisa envolver e apoiar a família, capacitando-a para confortar o seu filho durante procedimentos dolorosos. 

Aleitamento materno 

Estratégia que pode ser aplicada a RN e bebês com até 12 meses de idade clinicamente estáveis. Quando possível, viável e culturalmente aceitável, deve começar cerca de 5 minutos antes do procedimento para garantir que o bebê esteja bem posicionado e sugando. O aleitamento deve ser continuado durante todo o procedimento. A alimentação com mamadeira pode ser usada se a amamentação não for possível. Se o bebê sair do peito ou parar de sugar a mamadeira, dê-lhe tempo para recolocá-lo e começar a sugar. 

Contato pele a pele 

Pode ser realizado em RN prematuros e a termo. Comece cerca de 10 a 15 minutos antes do procedimento para garantir que o bebê e a mãe/pai/cuidador estejam confortáveis e acomodados. O contato pele a pele deve ser continuado durante todo o procedimento. 

Sucrose ou glicose 

Alternativa para RN prematuros e a termo e lactentes de até 18 meses de vida. A estratégia consiste em oferecer pequenos volumes (cerca de 0,1 mL) com concentração de, pelo menos, 15%. Devem ser fornecidas alíquotas de 1 a 2 minutos antes do procedimento e após a inserção da agulha, podendo ser repetido conforme necessário se o bebê chorar. A chupeta pode ser usada se esta já faz parte normalmente dos cuidados do bebê. Use além do contato pele a pele conforme necessário e adicione estratégias físicas conforme apropriado, como enfaixar, balançar ou segurar o bebê.  

Posição de conforto, aconchego facilitado e estratégias físicas 

Medidas que podem ser aplicadas em qualquer idade. Além de sacarose ou glicose e anestésicos tópicos, se apropriado, use panos, aconchego facilitado, balanço, cantar, segurar em posição vertical e sucção não nutritiva conforme necessário. 

Anestésicos tópicos 

O uso de anestésicos tópicos possui evidências menos robustas para RN e são ineficazes para procedimentos de punção do calcanhar. Essa abordagem é recomendada para uso em combinação com soluções adocicadas e outras estratégias reconfortantes para procedimentos mais prolongados, incluindo inserção de cateter PICC. Para bebês mais velhos e crianças pequenas e no caso de procedimentos eletivos com agulha, aplicar 30 a 60 minutos antes do procedimento. 

Em suma: Oferecer/facilitar o uso da estratégia mais apropriada, dependendo da preferência dos pais, do estado clínico do bebê/criança e da disponibilidade da mãe/pai/cuidador para todos os procedimentos com agulhas. 

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Faixa etária  Estratégia
RN 
  • Amamentar ou realizar contato pele a pele antes e durante os procedimentos ou administrar pequenos volumes (0,1 mL) de sacarose/glicose 1 a 2 minutos antes do procedimento, com sucção não nutritiva se fizer parte dos cuidados normais dos bebês.  
  • As intervenções adjuvantes podem incluir enfaixamento, aconchego facilitado, balanço ou canto. 
1 a 12 meses 
  • Aplicar anestésicos tópicos 30 a 60 minutos antes do procedimento. 
  • Amamentar antes e durante os procedimentos ou administrar pequenos volumes (0,1 mL) de sacarose/glicose 1 minuto antes do procedimento, com sucção não nutritiva se fizer parte dos cuidados normais dos bebês.  
  • Repita a dose de sacarose, se necessário.  
  • As intervenções adjuvantes podem incluir enfaixar, balançar, cantar, segurar em posição vertical segura ou distração apropriada à idade. 
12 a 24 meses 
  • Aplicar anestésicos tópicos 30 a 60 minutos antes do procedimento.  
  • Use distração apropriada à idade e a mantenha em posição vertical segura. 
  • Para um posicionamento confortável, “não amarre a criança”. Se possível e preferido pela mãe, amamentar antes e durante os procedimentos.  
  • Pequenos volumes de sacarose/glicose 1 minuto e imediatamente antes do procedimento, com sucção não nutritiva se fizer parte dos cuidados normais da criança podem ajudar ainda mais a reduzir a dor. 

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Harrison D, Bueno M. Translating evidence: pain treatment in newborns, infants, and toddlers during needle-related procedures. Pain Rep. 2023;8(2):e1064. Published 2023 Feb 16. DOI:10.1097/PR9.0000000000001064.