Caplacizumabe: opção para o tratamento da púrpura trombocitopênica trombótica (PTT)

A púrpura trombocitopênica trombótica (PTT) é uma microangiopatia trombótica rara, caracterizada por anemia hemolítica e trombocitopenia.

A púrpura trombocitopênica trombótica (PTT) é uma microangiopatia trombótica rara, caracterizada por anemia hemolítica microangiopática e trombocitopenia grave. Ocorre grave redução da atividade da protease ADAMTS13, que cliva e remove da circulação os grandes multímeros do fator de von Willebrand, o que favorece o seu acúmulo na corrente sanguínea e a formação de trombos ricos em plaquetas nos pequenos vasos, com consequente trombocitopenia. A anemia hemolítica resulta da fragmentação das hemácias ao passarem por tais trombos. Pode ser adquirida (produção de autoanticorpos que inibem a ação da ADAMTS13), forma mais comum, ou hereditária (mutações herdadas na ADAMTS13).

Leia também: Púrpura trombocitopênica trombótica: como diagnosticar? 

Pelo risco de isquemia e consequente disfunção orgânica, o tratamento imediato é fundamental diante de um paciente com diagnóstico presuntivo de PTT. Infelizmente, em muitos centros brasileiros, a dosagem da atividade de ADAMTS13 não se encontra disponível ou, quando disponível, o resultado demora mais de sete dias para ser liberado. Por conta disso, o tratamento empírico é preconizado quando há forte suspeita clínica. Pode-se até utilizar escores para prever a possibilidade de PTT, como o escore PLASMIC, que leva em consideração plaquetometria, ocorrência de hemólise, VCM, INR, creatinina e presença ou não de câncer em atividade ou transplante de órgão sólido ou de células-tronco hematopoiéticas.

Caplacizumabe opção para o tratamento da púrpura trombocitopênica trombótica (PTT)

healthcare, medical and technology concept - smiling african female doctor with tablet pc in hospital

Plasmaférese e imunossupressão

O tratamento da trombocitopênica trombótica (PTT) é baseado em dois pilares: plasmaférese e imunossupressão. A plasmaférese age removendo os multímeros de fator de von Willebrand de alto peso molecular e/ou os autoanticorpos da circulação, bem como repondo a ADAMTS13. Com o uso de corticosteroides em doses imunossupressoras e/ou rituximabe, a formação de autoanticorpos é inibida.

No entanto, apesar de tais medidas, os pacientes permanecem em risco de:

  • Até 20% de mortalidade aguda, com tempo mediano do diagnóstico ao óbito de 9 dias;
  • Até 42% de refratariedade imprevisível ao tratamento, associado a piores prognósticos;
  • Até 50% de exacerbações imprevisíveis;
  • Complicações trombóticas como infarto do miocárdio, acidente vascular encefálico isquêmico e insuficiência renal;
  • Sequelas em longo prazo, como déficit cognitivo, depressão e hipertensão arterial sistêmica.

Caplacizumabe

No início de junho/2021, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) aprovou o uso do caplacizumabe no tratamento da PTT. Trata-se de um anticorpo monoclonal que se liga ao fator de von Willebrand, inibindo a adesão plaquetária e consequente formação de microtrombos.

Os resultados do estudo de fase 3 HERCULES contribuíram para que a medicação fosse indicada nos casos de PTT: os pacientes tratados com caplacizumabe apresentaram mais chance (1,5x) de melhora da plaquetometria, em relação ao grupo placebo. Além disso, observou-se redução clinicamente significativa das taxas de morte relacionada à PTT, exacerbação e evento tromboembólico grave, bem como redução relevante no uso de plasmaférese e no tempo de internação hospitalar.

Uma observação importante é que o caplacizumabe não foi estudado na população com trombocitopênica trombótica (PTT) hereditária. Vale ressaltar também que, devido ao mecanismo de ação do medicamento, ele não corrige a deficiência de ADAMTS13 e, por isso, está indicado em conjunto com a plasmaférese e a imunossupressão, de forma que haja um “sinergismo” entre os métodos: a combinação com plasmaférese previne lesão de órgão-alvo, enquanto a imunossupressão atinge seu efeito máximo.  

Saiba mais: Púrpura trombocitopênica imune: como manejar de acordo com as novas atualizações?

O maior obstáculo para o uso do anticorpo monoclonal é o custo. Recomenda-se mantê-lo por até 30 dias após suspensão da plasmaférese, estando confirmado o aumento da atividade enzimática. Ou seja, o tratamento não é curto. Isso dificulta o acesso de grande parcela da população ao caplacizumabe.

Além disso, a International Society on Thrombosis and Haemostasis (ISTH) recomenda que o uso empírico de caplacizumabe seja considerado se o resultado do teste de ADAMTS13 estiver disponível idealmente dentro de 72 horas ou, no máximo, em sete dias. A dose de ataque do anticorpo é feita antes da plasmaférese. Nas demais situações, seu uso não está indicado. Como falado anteriormente, a realidade da maioria dos centros brasileiros acaba não permitindo seu uso empírico.

Referências Bibliográficas:

  • Sayani FA, Abrams CS. How I treat refractory thrombotic thrombocytopenic purpura. Blood, The Journal of the American Society of Hematology. 2015;125(25): 3860-3867. doi: 10.1182/blood-2014-11-551580.
  • Goel R, et al. Prognostic risk‐stratified score for predicting mortality in hospitalized patients with thrombotic thrombocytopenic purpura: nationally representative data from 2007 to 2012. Transfusion. 2016 Jun;56(6):1451-8. doi: 10.1111/trf.13586.
  • Knoebl P, et al. Efficacy and safety of open‐label caplacizumab in patients with exacerbations of acquired thrombotic thrombocytopenic purpura in the HERCULES study. J Thromb Haemost. 2020 Feb;18(2):479-484. doi: 10.1111/jth.14679.
  • Hanlon A, Metjian A. Caplacizumab in adult patients with acquired thrombotic thrombocytopenic purpura. Ther Adv Hematol2020 Feb 7;11:2040620720902904. doi10.1177/2040620720902904

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.

Especialidades