Covid-19: a narrativa ao redor da ivermectina

A ivermectina é uma das drogas ainda exaltadas como uma solução miraculosa para a pandemia, por mais que o contrário já tenha sido provado.

Por mais que a Medicina Baseada em Evidências já tenha mostrado inúmeras condutas eficazes contra a infecção pelo SARS-CoV-2, existe uma gama de abordagens sem embasamento científico que ainda são vigorosamente defendidas. Nesse contexto, a ivermectina é uma das drogas ainda exaltadas como uma solução miraculosa para a pandemia.

Leia também: OMS reforça que ivermectina não deve ser usada para Covid-19 fora de ensaios clínicos

Covid-19: a narrativa ao redor da ivermectina

O que é?

Ela é um fármaco antiparasitário que mostrou logo no começo da crise sanitária ter ação antiviral in vitro. Em altas concentrações ela conseguia inibir a replicação do SARS-CoV-2, segundo um estudo publicado em março de 2020. Inicialmente, parecia promissor: um medicamento conhecido e rotineiramente prescrito na prática médica seria também uma “luz no fim do túnel”; contudo, um artigo que discutia sobre a farmacocinética da ivermectina logo foi publicado e mostrou que a concentração necessária in vitro para atuar de maneira eficaz contra a replicação viral seria altamente improvável de ser atingida in vivo, pois proteínas do sangue ligam-se à droga e impedem o efeito similar à tubos de ensaio.

Mais pesquisas foram realizadas na sequência, endossando o uso do antiparasitário para o tratamento da Covid-19. Contudo, quando analisadas criteriosamente, existiam grandes lacunas em seus métodos. Um grande exemplo é um estudo publicado por Rajter e colaboradores que chegou a uma conclusão a favor da prescrição de ivermectina. Todavia, não era um Ensaio Clínico Randomizado e se analisado com cuidado nota-se que os pacientes que receberam o antiparasitário possuíam mais chances de receber também corticoides — o que atualmente sabemos ser realmente eficaz no combate à doença.

Saiba mais: Agência Europeia de Medicamentos e AMB alertam contra o uso de ivermectina na Covid-19

Inúmeros artigos deram continuidade para verificar a eficácia da ivermectina. Em fevereiro de 2021, uma revisão compilou os dados relevantes dos estudos de melhor qualidade sobre essa droga e pontuou que não existiam evidências significativas de que seu uso poderia combater a infecção pelo SARS-CoV-2. Os autores desencorajaram o uso do medicamento e recomendaram pesquisas de melhor qualidade sobre o tema. O guideline mais recente do National Institutes of Health — assim como o de inúmeras outras instituições renomadas — também não recomenda o uso da ivermectina na Covid-19.

Fabricante

Até mesmo a Merck — empresa farmacêutica que fabrica a droga — fez uma publicação dizendo que não existe base científica para um potencial uso terapêutico da ivermectina na pandemia ou evidência significativa de efeitos clínicos em pacientes. A empresa também ressaltou uma importante falta de dados de qualidade nos estudos. Ou seja, a companhia que teria grande lucro com a venda do medicamento não está recomendando seu uso contra o coronavírus.

Paralelamente aos fatos, ocorre uma abusiva quantidade de informação proveniente de fontes não confiáveis que reforça o tratamento precoce com o uso da ivermectina. Até mesmo aplicativos para celular que prescrevem o “kit-covid” já foram desenvolvidos. De forma semelhante à cloroquina, ainda há um longo caminho para que a Medicina Baseada em Evidências possa prevalecer em nossa crise sanitária atual.

Referências bibliográficas:

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.