Covid-19: Como funcionam os carrinhos de anestesia?

Devido à Covid-19, pacientes graves necessitam de ventilação artificial e alguns centros de saúde precisam utilizar carrinhos de anestesia para atendê-los.

Em época de pandemia pelo Covid-19, onde grande número de pacientes graves evolui para insuficiência respiratória com necessidade de ventilação mecânica pulmonar, alguns centros de saúde, por não apresentarem condições ideais e onde a demanda por ventiladores é muito grande, muitas vezes precisam utilizar carrinhos de anestesia para ventilação artificial desses pacientes.

Apesar de não ser o instrumento ideal para ventilação mecânica prolongada, comparado com os ventiladores artificiais das unidades de tratamento intensivo, são de grande valia para estabilizar momentaneamente o paciente e garantir um aporte ventilatório eficiente nesse período. Porém nem todos os profissionais estão familiarizados com o manuseio do aparelho de anestesia. Este artigo visa esclarecer e elucidar o mecanismo de funcionamento do carrinho de anestesia.

Funcionalidade do carrinho de anestesia

O carrinho de anestesia é um aparelho construído para substituir a ventilação pulmonar do paciente submetido a anestesia geral, além disso também é responsável pelo aporte de gases anestésicos para os pulmões e manutenção da anestesia geral inalatória. Ou seja, a principal diferença entre um carrinho de anestesia e um ventilador é um sistema de adição de halogenados no ar inspirado dentro de um sistema circular fechado com absorvedor de gás carbônico.

Ele é composto de três módulos principais: Um fluxômetro que determina o volume de gases administrado, um sistema respiratório que permite a ventilação artificial e um vaporizador anestésico que transforma o anestésico líquido em vapor, criando condições químicas ideais para que este seja absorvido pelas vias aéreas do paciente. É alimentado por três gases: oxigênio, ar comprimido e óxido nitroso que são conectados ao carrinho por conexões padrões e com cores padrões, onde o oxigênio chega por um conector verde, o óxido nitroso por um conector azul e o ar comprimido por um amarelo. Essas conexões e cores são universais.

Atualmente muitos carrinhos vem acoplados a monitorização multiparâmetro, com uma parte hemodinâmica para medida de eletrocardiograma, saturação de oxigênio e pressão arterial não invasiva e pressão arterial média e uma parte de analisador de gases com capnografia, porcentagem de gás inalado e FiO2. Os componentes básicos do carrinho de anestesia são: ventilador ou respirador, sensores, fluxômetros, vaporizadores e cal sodada.

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Componentes do carrinho de anestesia:

Vaporizador

Pode ser do tipo Universal, onde a quantidade de anestésico administrada é controlada através da quantidade de borbulhamneto do gás. Esse tipo de vaporizador é muito antigo, porém ainda utilizado em alguns lugares remotos. E o vaporizador tipo calibrado, onde a quantidade de anestésico administrado é controlada pela porcentagem de gás. São vaporizadores mais modernos, onde se tem maior precisão do volume anestésico inalado. Independente do tipo, o vaporizador tem a função de umidificar, aquecer e filtrar o gás para que ele possa ser adequadamente absorvido pela árvore respiratória de cada paciente.

Fluxômetros

São válvulas coloridas (verde, amarelo e azul) específicas para oxigênio, ar comprimido e óxido nitroso respectivamente, que permitem administrar os gases em volumes determinados. Carrinhos que utilizam óxido nitroso possuem uma válvula de proteção que cortam imediatamente o fluxo deste gás quando o fluxo de oxigênio diminui. Isso é um sensor de segurança que impede que o óxido nitroso seja administrado isoladamente, o que seria fatal.

Cal sodada

Tem a função de absorver o dióxido de carbono da expiração, impedindo que haja reinalação desse gás causando hipercapnia. Nela está presente uma substância chamada violeta de etilo, que altera a cor da cal sodada de branca para violeta quando esta está saturada ou seja, está com sua capacidade de reabsorção esgotada. Este é um indicador que a cal precisa ser trocada. A cal quando está funcionando adequadamente apresenta cor branca e aquece durante sua utilização.

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Sensores e alarmes

Os carrinhos de anestesia possuem diversos sensores e alarmes de segurança. Possuem os sensores contra a falta de oxigênio, com alarmes sonoros e visuais que são disparados quando há queda da pressão de O2. Esses alarmes específicos não podem ser desativados e somente cessam quando a pressão de oxigênio for reestabelecida. Além deste, existem os alarmes dos monitores que podem ser estipulados de acordo com cada paciente e profissional e podem muitas vezes serem desligados. Alarmes de pressão arterial, saturação, frequência cardíaca, alterações de capnografia e de ventilação (alterações de pressão, volume corrente, apneia, obstrução) podem ser acionados em situações adversas.

Ventilador

Os carrinhos de anestesia permitem que se faça uma ventilação de modo manual, onde o profissional pressiona a bolsa ventilatória e comanda a ventilação por si, e o modo de ventilação controlada. Os carrinhos mais modernos possuem um sistema de ventilação mecânica completo, onde se pode estabelecer todos os parâmetros para uma ventilação artificial adequada e protetora. Digitalmente pode-se determinar todos os índices que se queira aplicar no paciente como: modo ventilatório, volume corrente, FiO2, PEEP, FR, pressão de platô entre outros.

Porém nem todos os carrinhos são tão completos e alguns mais simples ou mais antigos só permitem realizar alguns padrões de ventilação restritos, como por exemplo modo de ventilação apenas por volume ou pressão, ventilação sempre controlada, utilização apenas de PEEP, incapacidade de determinar pressão de platô entre outros. Esse tipo de carrinho não consegue sustentar pacientes em ventilação mecânica por muito tempo, uma vez que a aplicação de ventilação protetora é impossível. Nesses modelos o período de tempo do paciente acoplado ao respirador não deve ser prolongado, podendo, em casos de situações emergenciais, serem usados momentaneamente para garantirem uma via aérea até que uma outra fonte de respirador mais completa esteja disponível.

Carrinhos de anestesia na prática

Em algumas situações o carrinho de anestesia é utilizado apenas com seu componente de ventilação, como por exemplo nos casos de anestesia venosa total, onde não há a administração de nenhum anestésico volátil, ficando o carrinho apenas como suporte da ventilação artificial. Essa versatilidade do carrinho de anestesia permite que ele seja utilizado em situações especiais apenas como suporte ventilatório, como atualmente em alguns serviços de tratamento dos pacientes críticos infectados pelo Covid 19. Nessas ocasiões, o componente do vaporizador permanece fechado e sem conexão com o sistema ventilatório

Para que seja utilizado apenas o componente do ventilador, basta permanecer com os vaporizadores desligados e travados, ligar o fluxomêtro correspondente ao oxigênio para que este seja liberado e no componente de ventilação estipular manualmente todos os parâmetros que se deseja aplicar em cada paciente específico.

Antes de se utilizar um carrinho de anestesia este precisa ser testado para saber se não está havendo escape dos gases ou outro problema mecânico. A maioria dos carrinhos atuais possuem um módulo auto teste com explicações fáceis de serem seguidas. Outros, o teste pode ser realizado de forma manual.

Mensagem final

O carrinho de anestesia não foi formulado para manter um paciente em ventilação mecânica por um longo período como os ventiladores de unidades intensivas. Foram construídos para serem utilizados durante o tempo de um procedimento cirúrgico, porém atualmente com o avanço tecnológico e em instituições metropolitanas encontramos carrinho de anestesia com suporte ventilatório moderno e completo, o que nos permite, em casos específicos emergenciais, utilizarmos como fonte de ventilação artificial em pacientes críticos quando não há no momento outra fonte disponível.

Referências bibliográficas:

  • Fonseca NM. Conceitos fundamentais do aparelho de anestesia. Universidade Federal de Uberlândia. 2015 Ago 20;34.
  • Roth P. Sistemas de anestesia. In: Miller RD, Pardo Jr. MC. Bases da anestesia, 6ª ed. Rio de Janeiro:Elsevier, 2011;184-203.
  • Búrigo TG. Verificação do aparelho de anestesia. SBA. WFSA-TAS Checagem do aparelho de anestesia. 2015.

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