Covid-19: heparina pode reduzir infecção pelo SARS-CoV-2?

Pesquisadores descobriram que o uso da heparina pode auxiliar no tratamento da Covid-19, reduzindo em 70% a entrada do novo coronavírus nas células.

Pesquisadores descobriram que o uso da heparina pode auxiliar no tratamento da Covid-19, reduzindo em 70% a entrada do novo coronavírus nas células sadias do organismo.

Testes de laboratório foram conduzidos por pesquisadores do Instituto de Farmacologia e Biologia Molecular da Universidade Federal de São Paulo (Infar/Unifesp) em conjunto com colaboradores ingleses e italianos, feitos em linhagem celular proveniente do rim do macaco-verde africano (Cercopithecus aethiops).

Aqui no Brasil, o projeto é coordenado pela professora Helena Nader, titular do Departamento de Bioquímica da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp), sendo aprovado com bolsa de pós-doutorado através do programa Suplementos de Rápida Implementação contra Covid-19 (Coronavirus Disease 2019) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) com duração de 24 meses.

Os resultados preliminares do estudo foram publicados na plataforma bioRxiv, ainda sem revisão por pares.

cadastro portal

heparina

Heparina e Covid-19

Segundo os autores, já existiam indícios de que a heparina tinha capacidade de prevenir infecções virais, incluindo pelo novo coronavírus, mas as evidências só vieram com os ensaios in vitro.

De acordo com a coordenadora, dados preliminares dos ensaios in vitro mostraram que a proteína de superfície do novo coronavírus, se liga à da heparina. Além disso, altos índices de mortalidade por Covid-19 estão associados à coagulopatia e hipercitocinemia (cytokine storm).

A ideia dos pesquisadores é explorar as propriedades estruturais da heparina que mediam tal interação como prova de conceito para o desenvolvimento de medicamentos antivirais baseados em heparina.

Leia também: Coagulopatia na infecção por coronavírus: um fator de mau prognóstico

Outros estudos

O mesmo grupo de pesquisadores brasileiros vem estudando há mais de 40 anos os glicosaminoglicanos e desenvolveu as primeiras heparinas de baixo peso molecular, utilizadas clinicamente como agentes anticoagulantes e antitrombóticos, inclusive em pacientes com Covid-19.

Uma das descobertas foi que a heparina é um remédio multialvo, que além do seu efeito na prevenção da coagulação do sangue pode se ligar a diversas proteínas.

Nos últimos anos, testes realizados por outros grupos de pesquisadores sugeriram que as proteínas de superfície de outros tipos de coronavírus poderiam se ligar a um glicosaminoglicano das células de mamíferos, chamado de heparam sulfato, para infectá-las.

Com o surgimento do novo coronavírus, os pesquisadores da Unifesp, em colaboração com os colegas europeus, avaliaram se a proteína de superfície do novo coronavírus responsável pela infecção das células (proteína Spike) se liga à heparina, uma vez que a molécula do medicamento tem estrutura muito semelhante à do heparam sulfato.

Os experimentos confirmaram essa hipótese. Através de técnicas de ressonância plasmônica de superfície e de espectroscopia de dicroísmo circular, foi observado que a heparina, ao se ligar às proteínas spike do novo coronavírus, causa nessas moléculas uma alteração conformacional. Dessa forma, os pesquisadores encontraram a “fechadura” para a entrada do vírus nas células.

Veja mais: Doação de sangue: atualização dos critérios após epidemia de coronavírus

À procura da melhor forma estrutural

Os pesquisadores também avaliaram quais formas estruturais da heparina apresentam melhor interação e são capazes de mudar a conformação das proteínas spike do novo coronavírus.

Segundo os autores, os resultados das análises indicaram que a heparina que apresenta a melhor interação e atividade de alteração conformacional da proteína spike do novo coronavírus é formada por oito polissacarídeos.

Neste momento, os pesquisadores estão testando mudanças estruturais em heparinas para identificar uma molécula que apresente o mesmo efeito de ligação e mudança conformacional da proteína spike do novo coronavírus, mas que cause menos sangramento, um potencial efeito colateral da substância.

O grupo da Unifesp também está testando outros compostos chamados de heparinas miméticas, que mimetizam a ação da heparina para encontrar uma molécula com melhor efeito antiviral.

Nas próximas etapas do estudo os cientistas realizarão mudanças estruturais em heparinas para identificar uma molécula que apresente o melhor efeito em relação à proteína spike do novo coronavírus.

Quer receber as principais novidades e os números sobre a pandemia de Covid-19? Inscreva-se e receba nossa news diária!

*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED

Referências bibliográficas:

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.