Descoberto novo mecanismo fisiopatológico da pré-eclâmpsia

A pré-eclâmpsia é caracterizada por novo início de hipertensão associado à proteinúria ou disfunção orgânica materna, ou útero-placentária.

A pré-eclâmpsia é clinicamente caracterizada na segunda metade da gravidez por novo início de hipertensão associado à proteinúria ou disfunção orgânica materna, ou disfunção útero-placentária. A prevalência da doença é 4-5% nas gestações e é uma das principais causas de morbidade e mortalidade materna e fetal no mundo inteiro, frequentemente complicando com a restrição do crescimento fetal e prematuridade.

Além disso pré-eclâmpsia é considerada também um sinal de alerta a longo prazo para doença cardiovascular (DCV) mais tarde na vida da mulher. Os mecanismos fisiopatológicos são incansavelmente estudados há anos, mas ainda não são totalmente esclarecidos.

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Descoberto novo mecanismo fisiopatológico da pré-eclâmpsia

Pregnant belly of young woman during regular examination at hospital

Novas evidências

Um estudo norueguês, publicado na revista americana Frontiers no fim de 2020, pesquisou um novo elo de associação entre as fisiopatologias da DCV e da pré eclampsia: a ativação do inflamassoma de NLRP3 mediada por cristais de colesterol.

O estudo teve como objetivo primário investigar o acúmulo de cristais de colesterol e a expressão do inflamassoma NLRP3 por células maternas e fetais na decídua da parede uterina de gestações normais e de gestações pré-eclâmpticas com e sem restrição de crescimento fetal.

Primeiro trabalho a revelar a presença de cristais de colesterol na interface materno-fetal na decídua da parede uterina

Observou-se uma resposta do inflamassoma de NLRP3 mediada por cristais de colesterol como um importante mecanismo inflamatório associado à interação materno-fetal na decídua da parede uterina na gravidez.

Os cristais de colesterol foram detectados em grande quantidade na decídua, e a expressão da via inflamatória NLRP3 mostrou ser um dos pontos centrais para interação próxima entre trofoblastos do bebê e leucócitos maternos. Tanto os trofoblastos quanto os leucócitos são equipados com receptores que permitem a captação de colesterol.

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Além disso, foi observada a formação de placas de ateroma nas artérias uterinas, uma malformação vascular que lembra a aterosclerose em estágio inicial.

Cristais de colesterol em regiões específicas da decídua

O trabalho observou que as células contendo cristais de colesterol pareciam agregadas no tecido decídua, em vez de dispersas aleatoriamente, sugerindo que a inflamação mediada por cristais de colesterol pode estar localizada em regiões específicas da decídua.

A pré-eclâmpsia com crescimento fetal normal foi associada à expressão aumentada de NLRP3, particularmente em áreas deciduais de interação materno-fetal próxima, sugerindo que esse perfil pró-inflamatório aumentado desempenha um papel em estágios mais finais da patologia da pré-eclâmpsia.

A identificação de cristais de colesterol decidual e expressão aumentada de inflamassoma de NLRP3 decidual em pré-eclâmpsia com crescimento fetal normal confirma ainda mais a ligação fisiopatológica entre pré-eclâmpsia e DCV.

Conclusão

Este estudo elucidou um novo mecanismo fisiopatológico envolvido na pré-eclampsia e que a investigação combinada de mecanismos patológicos específicos de células nos dois locais da interface materno-fetal pode fornecer um conhecimento mais abrangente da regulação e importância da comunicação materno-fetal.

Estatinas e anti-inflamatórios na pré eclampsia

A pravastatina, usada para tratamento de dislipidemia e prevenção de DCV, é um possível candidato para tratar e prevenir a pré-eclâmpsia. As estatinas podem melhorar as principais respostas patológicas envolvidas na pré-eclâmpsia, incluindo a inibição da liberação de sFlt-1 e redução da inflamação e estresse oxidativo. Além do mais, podem inibir a formação e melhorar a solubilidade dos cristais de colesterol em placas ateroscleróticas.

É necessária investigação adicional para demonstrar se um efeito positivo da pravastatina na pré-eclâmpsia pode envolver a remoção de cristais de colesterol nessa interface materno-fetal.

Por último, cada vez mais surgem evidências que apoiam os benefícios dos anti-inflamatórios que agem especificamente no inflamassoma NLRP3, porém, se eles são seguros para gravidez e eficazes na pré-eclâmpsia, isso ainda precisa ser determinado.

Referências bibliográficas:

  • Brettas SG, Marijn GL, Johnsen RJ, Sannerud SG, Boon MS, Josefin TA, Bjørnar S, Mattijs E, Karin C, Line B, Hjelmseth AM, Vestrheim TLC, Ann-Charlotte I. Cholesterol Crystals and NLRP3 Mediated Inflammation in the Uterine Wall Decidua in Normal and Preeclamptic Pregnancies. Frontiers in Immunology. 2020 Oct 8;11:564712. doi: 3389/fimmu.2020.564712

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