O mieloma múltiplo (MM) é uma neoplasia hematológica maligna caracterizada pela proliferação anormal de plasmócitos na medula óssea. Diversos medicamentos têm sido desenvolvidos para tratar essa doença, incluindo agentes imunomoduladores, inibidores de proteassoma e anticorpos monoclonais. Apesar dos significativos avanços alcançados nas linhas de tratamento desta enfermidade, vez ou outra, a US Food and Drug Administration (FDA) anunciou a retirada de uma dessas opções terapêuticas do mercado norte-americano. Vamos conversar hoje brevemente sobre a retirada do belantamabe mafadotin (anticorpo monoclonal anti-BCMA).
A retirada do belantamabe
Após uma aprovação acelerada obtida pela fabricante GSK para a comercialização do Belantamabe Mafadotin (Blenrep®), a empresa teve que anunciar em novembro de 2022 a retirada da droga a pedido do FDA. O motivador foi a falha em atingir significância estatística avaliando-se o desfecho primário do estudo DREAMM-3, que seria uma melhora da sobrevida livre de progressão (SLP) quando comparado a monoterapia do Belantamabe versus Pomalidomida associada a Dexametasona, além dos potenciais efeitos adversos graves observados no estudo. A condição de se atingir o desfecho primário no DREAMM-3 já havia sido estabelecida quando da aprovação acelerada para manutenção da comercialização da droga.
A aprovação acelerada concedida pelo FDA foi baseada no estudo DREAMM-2, no qual foi demonstrado um aumento na taxa de resposta global e na duração de resposta em regime de monoterapia para o tratamento de pacientes adultos com mieloma múltiplo refratário que receberam pelo menos quatro linhas de tratamento anteriores, incluindo um anticorpo monoclonal anti-CD38, um inibidor de proteassoma e um agente imunomodulador.
Métodos
O estudo DREAMM-3 foi desenhado como ensaio clínico randomizado, fase 3, open-label, e que avaliou a eficácia e a segurança do belantamab mafodotin como monoterapia em pacientes com mieloma múltiplo recidivado e refratário quando comparado ao tratamento com PomDex. Foram randomizados um total de 325 participantes na proporção de 2:1 para receber Belantamabe Mafodotina como monoterapia, administrado como dose de 2,5 mg/kg a cada três semanas (Q3W), ou PomDex. A pomalidomida foi administrada diariamente nos dias 1 a 21 de cada ciclo de 28 dias, com dexametasona administrada uma vez por semana (nos dias 1, 8, 15 e 22 de cada ciclo).
O acompanhamento médio foi de 11,5 meses para belantamabe mafodotina e 10,8 meses para PomDex; a mediana de DR não foi atingida para belantamabe mafodotina (IC 95%: 17,9, –) vs 8,5 meses (IC 95%: 7,6, –) para PomDex.
Resultados
No ensaio clínico DREAMM-3, o desfecho primário de sobrevida livre de progressão (SLP) demonstrou uma razão de risco (Hazard Ratio – HR) de 1,03 (IC 95%: 0,72 a 1,47). A mediana observada de sobrevida livre de progressão foi maior para Belantamabe Mafodotina em comparação com PomDex (11,2 meses vs 7 meses). Os desfechos secundários incluíram a taxa de resposta global (TRG), duração da resposta (DR) e sobrevida global (SG). A TRG foi de 41% para belantamabe mafodotina e 36% para PomDex. Belantamabe mafodotina demonstrou uma taxa de resposta mais profunda quando comparado com PomDex (25% de VGPR ou melhor com belantamabe mafodotina em comparação com 8% com PomDex).
As taxas de DR em 12 meses foram de 76,8% e 48,4% para belantamabe mafodotina e PomDex, respectivamente. O perfil de segurança e tolerabilidade de belantamabe mafodotina foi consistente com o perfil de segurança conhecido, e nenhum novo sinal de segurança foi identificado. As taxas gerais de ceratopatia de grau 3 foram consistentes com dados relatados anteriormente. A mediana da SG foi de 21,2 e 21,1 meses para belantamabe mafodotina e PomDex, respectivamente, com um HR de 1,14 (IC 95%: 0,77, 1,68).
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Conclusão
A fabricante GSK ainda acredita que o perfil de risco-benefício da droga é favorável aos pacientes em tratamento de MMRR porém declarou respeitar a decisão do FDA e que trabalhará junto ao órgão em benefício dos pacientes.