Efeitos do uso de AtezoBev em casos de carcinoma hepatocelular e cirrose

Estudo com dados de vida real analisou a segurança e tolerância de AtezoBev em pacientes com graus variáveis de disfunção hepática.

O carcinoma hepatocelular (CHC) é responsável por mais de 830.000 mortes anuais em todo o mundo, sendo que esse número deve aumentar para mais de um milhão até 2025. A combinação de atezolizumabe com bevacizumabe (AtezoBev) é um dos tratamentos de primeira linha para CHC irressecável.

Leia também: Tratamento do carcinoma hepatocelular: cenário atual e atualização do BCLC 2022

Um estudo retrospectivo com dados de vida real foi publicado recentemente na revista Hepatology, com o objetivo de analisar a segurança e tolerância de AtezoBev em pacientes com graus variáveis de disfunção hepática. Um estudo precursor, o IMbrave150, havia demonstrado superioridade da imunoterapia combinada frente ao sorafenibe, tanto em sobrevida global mediana (19,2 versus 13,4 meses), quanto em sobrevida livre de progressão (6,9 versus 4,3 meses). No entanto, não haviam sido mostradas evidências para confirmar a segurança e eficácia da combinação de AtezoBev em pacientes com CHC irressecável e insuficiência hepática fora do critério de Child-Pugh A.

Efeitos do uso de AtezoBev em casos de carcinoma hepatocelular e cirrose

Metodologia

Estudo retrospectivo multicêntrico que incluiu pacientes com mais de 18 anos com CHC irressecável ou metastático tratados com AtezoBev. Atezolizumabe e bevacizumabe foram administrados de acordo com o protocolo IMbrave150: atezolizumabe 1.200 mg mais bevacizumabe 15 mg/kg por via endovenosa a cada 3 semanas. O tratamento foi mantido até progressão da doença ou toxicidade inaceitável. A resposta radiológica ao tratamento foi avaliada de acordo com os critérios RECIST v1.1 por tomografia ou ressonância magnética, realizada a cada 9-12 semanas. OS efeitos adversos foram avaliados a cada contato com o paciente e foram classificados de acordo com CTCAE v5.0. Resposta e sobrevida foram avaliadas como desfechos exploratórios.

Resultados

Duzentos e dezesseis pacientes com CHC tratados com AtezoBev foram avaliados em 11 centros terciários. Foram considerados elegíveis para a análise apenas os pacientes que receberam essa combinação como primeira linha tratamento sistêmico (n = 202, 94%). A principal causa de doença hepática foi a hepatite viral, sendo 36% hepatite C e 35,1% hepatite B. Oitenta por cento dos pacientes tinham cirrose, 31% deles (n = 50) tinham ascite e 12% (n = 19) encefalopatia. A função hepática foi classificada como Child-Pugh A em 154 pacientes (76%) e B em 48 (24%). 153 pacientes (71%) haviam recebido pelo menos um tratamento locorregional ou radical e a terapia prévia mais frequente foi a quimioembolização transarterial (27%). A maioria dos pacientes foi estadiada como BCLC C (144 pacientes, 71%). Alfa-fetoproteína basal foi ≥ 400 ng/ml em 65 pacientes (32%). Tempo de seguimento mediano foi de 9 meses.

Cento e quarenta e três pacientes (71%) relataram ter tido qualquer grau de efeito adverso relacionado ao tratamento, dos quais 26% foram grau 3 e 2% grau 4. Comparado a cirróticos Child-Pugh A, pacientes Child B apresentaram taxas semelhantes de eventos adversos (48 x 46%), incluindo hemorragia digestiva alta varicosa. A presença e tamanho das varizes esofagianas na esofagogastroduodenoscopia pré-tratamento não se correlacionou com eventos hemorrágicos. A toxicidade levou a descontinuação do tratamento em 11 doentes (5%). A taxa de eventos hemorrágicos foi de 14% (n = 28), dos quais 8% (n = 16) grau 1-2, 5% (n = 11) grau 3 e 1% (n = 1) grau 4 pelos critérios CTCAE v5.0.

Na população geral, a sobrevida global mediana foi de 14,9 meses (IC 95%, 13,6–16,3). Pacientes com cirrose Child A tiveram sobrevida global de 16,8 meses (IC 95%, 14,1-23,9), enquanto indivíduos Child B 6,7 meses (IC 95%, 4,3-15,6; p= 0,0003). A sobrevida livre de progressão na população amostrada foi de 6,8 meses (IC 95%, 5,2–8,5), sendo 7,6 meses (IC 95%, 6,2-8,9) para pacientes com Child A e 3,4 meses (IC 95%, 2,6–4,2) para Child B (p = 0,03). A taxa de resposta global e a taxa de controle da doença pelo RECIST v1.1 foram 25% e 73%, respectivamente, sem diferença entre as classes de Child Pugh.

Saiba mais: Carcinoma hepatocelular na doença hepática gordurosa não alcoólica com ou sem cirrose

Conclusão

Os achados desse estudo sugerem que a combinação de atezolizumabe mais bevacizumabe possa ser utilizada em pacientes fora dos rigorosos critérios de inclusão do estudo IMbrave150. Pacientes com cirrose Child B apresentaram tolerância semelhante, quando comparados a pacientes Child A, ao esquema AtezoBev.

Mensagem prática

A seleção cuidadosa de pacientes é fundamental nesse contexto e estudos prospectivos são necessários para melhor avaliação dos desfechos e segurança nessa subpopulação.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.
Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • D'Alessio A, Fulgenzi CAM, Nishida N, Schönlein M, von Felden J, Schulze K, Wege H, Gaillard VE, Saeed A, Wietharn B, Hildebrand H, Wu L, Ang C, Marron TU, Weinmann A, Galle PR, Bettinger D, Bengsch B, Vogel A, Balcar L, Scheiner B, Lee PC, Huang YH, Amara S, Muzaffar M, Naqash AR, Cammarota A, Personeni N, Pressiani T, Sharma R, Pinter M, Cortellini A, Kudo M, Rimassa L, Pinato DJ. Preliminary evidence of safety and tolerability of atezolizumab plus bevacizumab in patients with hepatocellular carcinoma and Child-Pugh A and B cirrhosis: A real-world study. Hepatology. 2022 Oct;76(4):1000-1012. DOI: 10.1002/hep.32468.