Estatinas e hepatocarcinoma na doença hepática gordurosa não alcoólica

Um estudo investigou a associação entre o uso de estatinas e o risco de CHC incidente em pacientes com DHGNA nos Estados Unidos.

A incidência do carcinoma hepatocelular (CHC) tem aumentado nas últimas três décadas, em paralelo ao aumento na incidência de doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA). Diversos fatores, como resistência à insulina, estresse oxidativo e citocinas inflamatórias, provavelmente contribuem para o desenvolvimento do CHC em pacientes com DHGNA, embora os mecanismos exatos permaneçam desconhecidos. Estudos anteriores demonstraram um efeito protetor das estatinas em vários tipos de câncer, incluindo CHC em pacientes com infecção pelo vírus da hepatite B ou C e aqueles com cirrose. Para avaliar se as estatinas apresentam um efeito protetor contra CHC em pacientes com DHGNA, Zou e colaboradores aplicaram métodos de inferência causal para investigar a associação entre o uso de estatinas e o risco de CHC incidente entre quase 300 mil pacientes com DHGNA nos Estados Unidos.  

Colangite esclerosante primária impacto do ácido ursodesoxicólico a longo prazo

Metodologia 

Neste estudo, foi utilizado o banco de dados de Clinformática da Optum. Foi elaborado um modelo de regressão de riscos proporcionais de Cox para comparar o risco de CHC entre usuários de estatinas e não usuários. A ponderação pela probabilidade inversa de tratamento (IPTW) foi empregada para minimizar possíveis fatores de confusão. 

Pacientes com 18 anos ou mais que foram diagnosticados com DHGNA entre janeiro de 2003 e junho de 2019 foram incluídos. DHGNA foi definida pelos códigos da Classificação Internacional de Doenças (CID) 9 (571.8, 571.9 e 571.5 com uma condição de diabetes ou obesidade) e códigos da CID 10 (K76.0 e K758.1). Foram excluídos pacientes que tiveram exposição a estatinas antes do diagnóstico de DHGNA, aqueles com CHC diagnosticado antes ou dentro de seis meses da data de início da estatina (porque as estatinas poderiam não ter afetado o risco de CHC neste curto espaço de tempo), aqueles que morreram ou perderam acompanhamento em menos de seis meses após a data de início da estatina e os portadores de outras hepatopatias. Ao final, identificaram-se 272.431 pacientes elegíveis para inclusão no estudo. 

Resultados 

A população de estudo incluiu 272.431 adultos com diagnóstico de DHGNA, dos quais 73.385 utilizaram estatinas e 199.046 não. A taxa de incidência de CHC entre usuários de estatinas e não usuários foi de 6,1 por 10.000 pessoas-ano e 10,1 por 10.000 pessoas-ano, respectivamente. Usuários de estatinas tiveram 53% menos risco de desenvolver CHC em comparação com os não usuários (razão de risco [HR], 0,47; intervalo de confiança de 95%, 0,36-0,60), pelo modelo IPTW. Após ajuste pelo escore FIB-4, o uso de estatinas foi associado a uma redução de 56% no risco de desenvolver CHC (HR, 0,44; 0,30-0,65). A associação entre estatinas e menor risco de desenvolvimento de CHC foi observada tanto para estatinas lipofílicas (HR, 0,49; 0,37-0,65) quanto para estatinas hidrofílicas (HR, 0,40; 0,21-0,76). Além disso, observou-se uma redução maior do risco à medida que a dose e a duração do uso de estatinas aumentaram. Pacientes com DHGNA que tiveram mais de 600 doses diárias de estatina acumuladas tiveram uma redução de 70% no risco de desenvolver CHC (HR, 0,30; 0,20-0,43; incidência = 4,9/10.000 pessoas-ano). 

Leia também: Risco de fibrose hepática associado à terapia com metotrexato

Mensagens práticas 

Esse estudo demonstra um forte efeito protetor das estatinas sobre o desenvolvimento de CHC em pacientes com DHGNA. As estatinas devem ser consideradas para a quimioprevenção primária de CHC ao menos entre pacientes com DHGNA que já apresentam outras indicações para o uso de estatinas, como dislipidemia ou doenças cardiovasculares. Novos estudos são necessários para elucidar as vias subjacentes relacionadas ao efeito protetor das estatinas sobre o CHC.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Zou B, Odden MC, Nguyen MH. Statin Use and Reduced Hepatocellular Carcinoma Risk in Patients With Nonalcoholic Fatty Liver Disease. Clin Gastroenterol Hepatol. 2023 Feb;21(2):435-444.e6. doi: 10.1016/j.cgh.2022.01.057.

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