Estudo mostra que as prevalências de sepse e de choque séptico em crianças no Brasil são elevadas

Estima-se que, a cada ano, cerca de 2 milhões de casos de sepse ocorram em crianças com idades entre 0 e 19 anos em todo o mundo.

As doenças infecciosas em crianças e adolescentes, incluindo a sepse, são condições clínicas agudas com alta frequência, morbidade e mortalidade e estão associadas a elevados custos financeiros e de recursos humanos. Estima-se que, a cada ano, cerca de 2 milhões de casos de sepse ocorram em pacientes com idades entre 0 e 19 anos em todo o mundo, correspondendo a mais de 50% de todos os casos de sepse observados na população global.

Infelizmente, os dados sobre a prevalência e a mortalidade da sepse pediátrica em locais com poucos recursos são escassos. Dessa forma, uma pesquisa conduzida no Brasil por Souza e colaboradores teve o objetivo de avaliar a prevalência e a mortalidade intra-hospitalar de sepse grave e de choque séptico em pacientes pediátricos atendidos em Unidades de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) brasileiras e os fatores de risco para mortalidade nesses doentes. O estudo “The epidemiology of sepsis in paediatric intensive care units in Brazil (the Sepsis PREvalence Assessment Database in Pediatric population, SPREAD PED): an observational study” foi publicado em 28 de outubro no jornal The Lancet Child and Adolescent Health

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Estudo mostra que as prevalências de sepse e de choque séptico em crianças no Brasil são elevadas

Metodologia

Os pesquisadores realizaram um estudo nacional de prevalência pontual prospectivo de um dia com acompanhamento de pacientes com sepse grave e choque séptico, utilizando uma amostra aleatória estratificada de todas as UTIP do Brasil. 

Os pacientes foram inscritos em cada UTIP participante em um único dia no período entre 25 e 29 de março de 2019. Foram incluídos todos os pacientes que ocupavam um leito na UTIP no dia do estudo (admitidos anteriormente ou naquele dia) se tivessem idade entre 28 dias e 18 dias e que preencheram os critérios para sepse grave ou choque séptico em qualquer momento durante a internação. Os pacientes foram acompanhados até a alta hospitalar ou óbito, com censura de 60 dias. Os fatores de risco para mortalidade foram avaliados por meio de um modelo de regressão de Poisson. Ademais, os pesquisadores utilizaram a prevalência para gerar estimativas nacionais. O modelo metodológico foi baseado no estudo SPREAD previamente realizado em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) para adultos no país.

Resultados

Das 241 UTIP convidadas a participar, 144 (capacidade de 1.242 leitos) incluíram pacientes no estudo. No dia do estudo, 1.122 crianças foram admitidas nas UTIP participantes, das quais 280 preencheram os critérios para sepse grave ou choque séptico durante a hospitalização. Entre os 280 pacientes incluídos, os dados clínicos completos estavam disponíveis para 252 pacientes, resultando em uma prevalência de 25%, com uma taxa de mortalidade de 19,8% (50/252). 

A idade média para todos os participantes (n = 255, incluindo três pacientes com desfecho hospitalar ausente) foi de 1 ano e 95% da amostra final tinham menos de 12 anos. Além disso, 126 (49%) pacientes eram do sexo masculino e 129 (51%) eram do sexo feminino; a pontuação média do escore Pediatric Index of Mortality Score-3 (PIM-3) foi de 13,51 pontos. As infecções associadas aos cuidados de saúde compreenderam 122 (49%) de 250 casos. A adesão aos bundles de tratamento foi baixa para todos os itens analisados, incluindo todo o pacote de medidas recomendadas na primeira hora de atendimento.

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O aumento do risco de mortalidade foi associado a uma maior pontuação no escore Pediatric Sequential Organ Failure Assessment (pSOFA) (risco relativo [RR] por aumento de 1,21, p < 0,0001), estado de vacinação desconhecido (RR 2,57, p=0,011), estado de vacinação incompleta (RR 2,16, p = 0,012), infecção associada aos cuidados de saúde (RR 2,12, p = 0,073) e conformidade com antibióticos (RR 2,38, p = 0,0007). 

A incidência estimada de sepse tratada em UTIP foi de 74,6 casos por 100.000 na população pediátrica, o que se traduz em 42.374 casos por ano no Brasil, com uma mortalidade estimada de 8.305.

Conclusão

A sepse é uma das principais causas de morte em crianças em todo o mundo e causa milhões de óbitos, principalmente em locais com poucos recursos. 

No estudo SPREAD PED, realizado no Brasil, um país de renda média, a prevalência de sepse grave ou choque séptico e a mortalidade hospitalar foram altas, gerando estimativas nacionais com elevado número de casos e fatalidades. Infelizmente, fatores modificáveis, como estado vacinal incompleto e ocorrência de infecções associadas a cuidados de saúde, estão associados a maior mortalidade hospitalar. Os resultados deste estudo indicam que medidas de melhoria da qualidade precisam ser implementadas para o seu reconhecimento e diagnóstico. Além disso, ressaltam a necessidade de medidas preventivas para reduzir as infecções associadas aos cuidados de saúde e aumentar a cobertura vacinal. Esses fatores podem não apenas estar diretamente relacionados à sepse, mas também podem ser reflexos de cuidados inadequados e desigualdades sociais. Portanto, esses importantes achados são também extremamente relevantes para orientar as políticas de saúde com o objetivo de melhorar o diagnóstico precoce e fornecer o tratamento adequado da sepse em território brasileiro. 

Referências bibliográficas:

  • Souza DC, et al. The epidemiology of sepsis in paediatric intensive care units in Brazil (the Sepsis PREvalence Assessment Database in Pediatric population, SPREAD PED): an observational study. The Lancet Child and Adolescent Health. 2021. doi: 10.1016/S2352-4642(21)00286-8 

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