Nos últimos anos, a intervenção nos fatores de risco para doença cardiovascular (DCV) reduziu a ocorrência de óbitos até um platô em alguns países desenvolvidos. Porém, pode haver influência de fatores de risco não convencionais que levam à inflamação crônica e ativação da resposta imune, sendo um destes a doença periodontal. A intervenção nesses fatores de risco não tradicionais poderia contribuir para maior redução de óbitos.
O mecanismo sugerido para a ocorrência de doença cardiovascular relacionada a doença periodontal é a ocorrência de inflamação sistêmica decorrente de alta carga de bactérias e acúmulo de produtos tóxicos nas estruturas dentárias. A mastigação e manipulação dentária durante a escovação podem levar as bactérias para a circulação, desencadeando a liberação de citocinas inflamatórias.
Alguns estudos prévios já mostraram que periodontite está associado a maior risco de infarto. Porém, a maioria deles foi feita com base em questionários que avaliavam a presença de doença periodontal conhecida pelo participante ou não.
Foi feito então um estudo para avaliar a relação entre doença periodontal e doença cardiovascular, com uma avaliação mais objetiva das alterações dentárias.
Métodos do estudo e população envolvida
Foi uma análise transversal que incluiu pacientes adultos submetidos a uma pesquisa nacional por meio de preenchimento de questionários realizada nos EUA em 2013 e 2014, seguida por uma avaliação com dentista. Os pacientes precisavam ter mais de 30 anos, pelo menos um dente natural e nenhuma condição que necessitasse de antibiótico profilático para procedimento dentário.
A perda de fixação dentária foi o parâmetro utilizado para avaliação de doença periodontal, sendo que valor maior ou igual a 2mm indica presença de doença. A doença periodontal pode ser graduada em estágio I (doença subclínica, perde de fixação de 1 a 2mm), estágio II (doença moderada, perda de fixação de 3 a 4mm), estágios III ou IV (doença avançada, perda de fixação ≥ 5mm).
O desfecho de interesse foram as respostas ao questionário relacionadas a presença de doença coronária ou acidente vascular cerebral.
Resultados
Havia informações completas de 2830 participantes, sendo que 16,7% tinham doença periodontal estágio I, 57,4% estágio II e 25,9% estágios III e IV. Pacientes com doença avançada eram mais velhos, com maior probabilidade de serem homens, com menor nível educacional e menor renda que os com doença estágios I ou II (p < 0,0001). Este grupo também tinha maior frequência de tabagismo, diabetes, dislipidemia e hipertensão. Não houve diferença entre os grupos em relação a IMC, doença renal crônica e consumo de álcool.
A ocorrência de DCV no grupo com doença estágios III e IV foi 3,59 vezes maior que no grupo com doença estágio I (IC95% 1,12 – 11,54, p = 0,03).
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Comentários e conclusão
Esse estudo mostrou associação entre gravidade de doença periodontal, medida de forma objetiva, e prevalência de DCV, ou seja, pacientes com doença mais avançada tinham doença cardiovascular com maior frequência.
Alguns cuidados: como este foi um estudo transversal, apenas podemos concluir que há associação entre as duas variáveis, porém não podemos concluir relação de causalidade entre as duas. Outro ponto, foi que os questionários não avaliaram o controle dos fatores de risco, como diabetes, dislipidemia e hipertensão, sendo que estas variáveis não passaram por ajustes nas análises estatísticas.
Sendo assim, este é um estudo gerador de hipóteses e estudos com formato diferente são necessários para confirmar se há relação de causalidade entre doença periodontal e doença cardiovascular.
8 abr. 2024 
1 min. 
