Existe relação entre baixo peso ao nascer e morte súbita na juventude?

Cientistas na Dinamarca encontraram uma associação entre o peso do bebê ao nascimento (PN) e morte súbita cardíaca (MSC) em jovens.

Em uma pesquisa realizada na Dinamarca, cientistas encontraram uma associação entre o peso do bebê ao nascimento (PN) e morte súbita cardíaca (MSC) em jovens, sendo que o risco é aumentado nos bebês pequenos para a idade gestacional (PIG). Os resultados do estudo Low Birth Weight Increases the Risk of Sudden Cardiac Death in the Young: A Nationwide Study of 2.2 Million People foram publicados no Journal of the American Heart Association.

Existe relação entre baixo peso do ao nascer e morte súbita na juventude?

Morte súbita cardíaca

A MSC é um evento trágico e constitui um grande problema de saúde em todo o mundo, sendo responsável por 50% de todas as mortes cardíacas em países desenvolvidos, resultando em milhões de óbitos globalmente a cada ano. Ela é comumente definida como uma morte súbita, natural e inesperada devido a uma mudança aguda no estado cardiovascular. Na Dinamarca, aproximadamente 7% de todas as mortes em indivíduos de 1 a 35 anos podem ser atribuídas à doença falciforme. Na Dinamarca e na Austrália, a arritmia cardíaca é relatada como a causa mais frequente de MSC em pacientes com idade igual ou inferior a 35 anos. Em comparação, cerca de 80% das MSC na população adulta são causadas por doença arterial coronariana.

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Apesar da relação bem documentada entre condições clínicas conhecidas e MSC, cerca de metade dos sobreviventes de parada cardíaca súbita fora do hospital são pacientes sem história clínica de doença cardíaca. A diversidade de doenças e mecanismos, além da falta de dados sobre fatores de risco representam desafios no desenvolvimento de iniciativas preventivas. Alguns estudos sugerem que, para compreender o processo da doença, os estágios iniciais do desenvolvimento fetal e as condições durante a gravidez têm um impacto, resultando na hipótese de origens fetais da doença no adulto. Essa teoria propõe que situações desfavoráveis durante os períodos sensíveis do desenvolvimento infantil na gestação têm efeitos permanentes e podem predispor a doenças tardias. Alguns fatores, como obesidade, hipertensão e diabetes mellitus tipo 2 foram todos associados a um PN fora da faixa normal e há relatos na literatura de uma associação inversa entre o PN e o risco de doença cardíaca isquêmica em fases posteriores. Além disso, uma associação entre PN e fibrilação atrial foi relatada previamente. Dessa forma, o pesquisador Vilde Waaler Loland, da Universidade de Copenhague, e sua equipe investigaram se o PN e o fato de ser PIG e grande para a idade gestacional (GIG) estão associados a risco alterado de MSC entre indivíduos jovens, com idades entre 1 e 36 anos.

Método do estudo

Foram incluídas todas as pessoas nascidas na Dinamarca de 1973 a 2008, utilizando o Registro Médico de Nascimento dinamarquês. Todos as MSC na Dinamarca em 2000 a 2009 foram identificadas previamente. Os pesquisadores definiram cinco grupos de PN, PIG e GIG como exposição e MSC como desfecho. O risco relativo específico para a idade de morte súbita cardíaca com intervalo de confiança de 95% (IC 95%) foi estimado. Além disso, os cientistas investigaram se PIG e GIG estariam associados a achados patológicos na autópsia.

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A população de estudo para as análises de PN compreendeu 2.234.501 pessoas com 389 casos de MCS, e as análises PIG e GIG compreenderam 1.786.281 pessoas com 193 casos de MCS. O risco relativo (RR) para MSC foi de 6,69 para pacientes com PN entre 1.500 e 2.499 g (IC de 95%, 2,38–18,80, P < 0,001) e 5,89 para pessoas com PN ≥ 4500 g (IC de 95%, 1,81–19,12, P = 0,003) aos 5 anos de idade. O PN entre 2.500 e 3.400 g foi o grupo de referência. Em comparação com uma idade gestacional adequada, o risco relativo para PIG foi de 2,85 (IC 95%, 1,35–6,00, P = 0,006) aos 10 anos de idade. Aos 30 anos, o RR para MSC continuou a ser maior entre os nascidos PIG em comparação com o grupo de referência (RR = 1,65; IC 95%, 1,13-2,41; P = 0,01), mas não houve mais uma diferença entre os nascidos GIG e o grupo de referência (RR = 1,6; IC 95%, 0,65-3,91; P = 0,305). Para os casos autopsiados, o risco relativo de síndrome da morte súbita por arritmia aos 5 anos de idade foi de 4,19 para PIG (IC 95%, 1,08–16,22, P = 0,038).

Conclusão

Nesse estudo, portanto, foi encontrada uma relação entre o PN e o risco de MSC, com um risco aumentado de MSC em bebês PIG. Além disso, foi observada uma associação entre PIG e síndrome de morte súbita por arritmia. Esses resultados apontam para a influência do desenvolvimento inicial na MSC em crianças, que pode estar ligada a mutações genéticas. Ademais, podem contribuir para o desenvolvimento de estratégias de prevenção de morte súbita cardíaca no futuro, porque o peso corporal e o tamanho para a idade gestacional podem predizer o risco de MSC mais tarde na vida. Esses achados exigem, no entanto, uma investigação mais aprofundada para elucidar a fisiopatologia subjacente.

Vejo que os resultados desse marcante estudo abrem portas para a discussão referentes aos novos caminhos para a abordagem do binômio mãe-filho. Encontrei um artigo de revisão brasileiro bem interessante: Bismarck-Nasr e colaboradoras, pesquisadoras brasileiras, defendem que as políticas de saúde devam estimular os esforços em estratégias para promoção adequada de ganho de peso intrauterino e nutrição pós-natal, reforçando a magnitude do aleitamento materno. Elas defendem que devam ser evitados dilemas como impulsionar ou não uma recuperação acelerada do estado nutricional durante a infância, especialmente com intervenções que facilitem um maior ganho de peso corporal do que de estatura, com consequente aumento de gordura corporal, como antigos programas de alimentação e nutrição que propagavam a distribuição de alimentos calóricos para a dieta oferecida durante a infância.

Referências bibliográficas:

  • Loland VW, et al. Low Birth Weight Increases the Risk of Sudden Cardiac Death in the Young: A Nationwide Study of 2.2 Million People [published online ahead of print, 2021 Mar 20]. J Am Heart Assoc. 2021;e018314. doi: 10.1161/JAHA.120.018314
  • Bismarck-Nasr EM; Frutuoso MFP, Gamabardella AMD. Efeitos tardios do baixo peso ao nascer. Rev. bras. crescimento desenvolv. hum. São Paulo, 2008;18(1):98-103.

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