Propilenoglicol do cigarro eletrônico aumenta o risco de infarto agudo do miocárdio?

Já é bem conhecido que o hábito de fumar tem associação com o risco de doença arterial coronariana, doença vascular periférica e hipertensão.

Apesar dos malefícios, milhões de pessoas mantém o hábito de fumar ignorando o risco, muitas vezes pelo vício resultante da nicotina. Porém, além da nicotina, o cigarro apresenta milhares de outras substâncias relacionadas a aumento de morbimortalidade.

Em 2003 surgiram os cigarros eletrônicos, que funcionam a partir do aquecimento de uma solução líquida contendo nicotina, que é transformada em aerossol ou vapor e pode ser assim inalada. Foi propagado como uma alternativa mais “saudável” que o cigarro convencional, porém, além da nicotina, a solução líquida contém propilenoglicol, cujo aquecimento produz substâncias também relacionadas a doenças cardiovasculares, como formaldeído, acetaldeído, tolueno, benzeno, entre outras.

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Alguns estudos já avaliaram a possível relação de cigarros eletrônicos com doença arterial coronariana, porém os resultados são controversos. Baseado nisso, foi feito um estudo de revisão sobre cigarros eletrônicos e ocorrência de infarto agudo do miocárdio (IAM).

Já é bem conhecido que o hábito de fumar tem associação com o risco de doença arterial coronariana, doença vascular periférica e hipertensão.

Métodos do estudo e população envolvida

O desfecho primário foi o diagnóstico de IAM e os pacientes incluídos foram os que usavam cigarros eletrônicos, os que nunca usaram e os tabagistas tradicionais. A partir da busca nas principais bases de dados foram selecionados estudos para uma revisão sistemática e metanálise.

Os critérios de inclusão eram: estudos observacionais ou de intervenção, mínimo de dez participantes, dados sobre IAM em pacientes usuários de cigarro eletrônico, não tabagistas e tabagistas tradicionais. Não havia restrição de idade ou duração do tempo de seguimento.

Resultados

Após as buscas, avaliação dos critérios de exclusão e análise individual dos estudos, foram incluídos 4 para análise qualitativa e quantitativa. Todos eram estudos transversais realizados nos Estados Unidos e publicados em 2018 e 2019. Dois deles foram considerados de boa qualidade e dois de qualidade razoável.

O total de pacientes foi de 585.306. Desses, 19.435 utilizavam cigarros eletrônicos, 1693 utilizavam cigarros tradicionais e 553.095 eram não tabagistas. Ex-tabagistas não foram incluídos.

Quanto ao desfecho primário, ocorreu IAM em 7% dos que usavam cigarro eletrônico, 7,7% dos tabagistas tradicionais e 6,5% dos não tabagistas. A chance de IAM nos usuários de cigarro eletrônico foi 33% maior que nos não tabagistas e a chance se manteve aumentada tanto para quem fumava diariamente quanto em dias intercalados. No grupo que usava cigarro convencional, a chance de IAM foi maior que no grupo que usava cigarro eletrônico, com p de 0,02.

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Comentários e conclusão

Esta metanálise, apesar de incluir poucos estudos e que tinham característica transversal, englobou um grande número de participantes, com poder estatístico para o resultado encontrado: o risco de ter IAM com uso de cigarro eletrônico foi menor que com uso de cigarro convencional, porém maior que não fumar. Mais estudos, de preferência longitudinais, são necessários para melhor entendimento desta associação e confirmação desses resultados.

Atualmente não existem dados para recomendar a utilização do cigarro eletrônico como forma de cessação de tabagismo e recomenda-se contra sua utilização de forma geral até que seus efeitos no sistema cardiovascular sejam mais bem entendidos.

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