Gastroparesia na gravidez: quais os efeitos e opções de tratamento?

A gastroparesia é uma doença funcional gastrointestinal que acomete mais mulheres que homens (37,8 vs 9,6 para 100000 pessoas).

O diagnóstico da gastroparesia diagnóstico é feito principalmente durante a idade reprodutiva. Sua história natural, diagnóstico, epidemiologia, impacto materno e fetal e tratamento ainda tem poucos relatos na literatura. Sabemos que se trata de uma desordem sensório motora do estômago associada a retardo no esvaziamento gástrico sem uma obstrução mecânica.

Os sintomas principais são náusea e vômitos, mas outros sintomas dispépticos como dor epigástrica, sensação de plenitude e inchaço região epigástrica coexistem. O diagnóstico definitivo é alcançado em torno dos 44 anos, podendo, assim, coexistir nos anos férteis das mulheres.

Um estudo relevante publicado no American Journal of Obstetrics and Gynecology, em setembro de 2022, trouxe uma revisão sistemática ampla da literatura com um resumo da fisiopatologia, diagnóstico e tratamento da gastroparesia na gravidez. Além disso, salientou os efeitos da gastroparesia na gravidez e vice-versa, além de tratamentos seguros e eficazes, já que apenas a metoclopramida é aprovada pelo FDA, por enquanto, para tratamento em mulheres não gestantes.

Leia também: Dispepsia funcional e gastroparesia: parte do mesmo espectro de doença?

Gastroparesia na gravidez quais os efeitos e opções de tratamento

Efeitos da gastroparesia na gravidez

Pouco se sabe sobre o impacto da gastroparesia na gravidez. Disritmias gástricas ou gastroparesia idiopática podem se correlacionar com as náuseas do primeiro trimestre. Diabetes ainda é a doença sistêmica mais associada com gastroparesia. Essa associação traz prejuízo perinatal e materno, na medida em que pode levar a quadros de Cetoacidose Diabética materna por vômitos recorrentes em 50% dos casos. A mortalidade fetal nesses casos pode alcançar 30 a 90%, tendo caído 10% nos últimos anos.

Num círculo vicioso, o retardo de esvaziamento gástrico leva a um impacto controle glicêmico, enquanto que essa hiperglicemia retarda ainda mais o esvaziamento gástrico. Comparada a gestantes não gastroparéticas, as gastroparéticas têm maior prevalência de pré-eclâmpsia (7,9% vs 4,8%), desnutrição (2,2% vs 0,6%) e reinternações em 30 dias (22,8% vs 10,7%).

É fundamental aconselhamento multidisciplinar pré concepcional para uma mulher gastroparética que deseja engravidar, pois pode ser um risco materno fetal grande.

Por outro lado, efeitos da gravidez na gastroparesia

O efeito preciso da gravidez na gastroparesia não está claro ainda, com dados conflitantes na literatura, já que temos poucos estudos avaliando a motilidade gástrica da gestante, pelo potencial efeito adverso fetal. O útero grávido parece não afetar o volume gástrico em trabalhos com USG avaliando área e volume natural mantidos na gravidez. Já os hormônios têm impacto no esvaziamento gástrico, embora o mecanismo exato ainda seja incerto.

Em estudos em fêmeas animais grávidas, altas doses de progesterona com baixos níveis estrogênicos diminuem a frequência contrações gástricas retardando seu esvaziamento. Ao contrário, estudos em ratas ooforectomizadas recebendo estrogênio e progesterona combinados ou estradiol exclusivo demonstraram enchimento gástrico lento e quando receberam apenas progesterona o enchimento era mais rápido demonstrando o efeito variável dos hormônios sexuais no esvaziamento gástrico.

A gravidez diminui níveis de motilina, envolvido na motilidade gástrica. Outros estudos são necessários para determinar ao certo o impacto da gravidez na gastroparesia.

Diagnóstico

Náusea e vômitos são comuns na gravidez, possivelmente por mudanças hormonais mesmo em pacientes com motilidade gastrointestinal normal. Medicações, infecções, endocrinopatias, doenças metabólicas, doenças SNC, obstruções mecânicas do trato gastrointestinal e alterações motilidade incluindo a gastroparesia devem ser pesquisadas.

A maioria responde a terapêutica conservadora com remissão completa pós-parto. A investigação formal da gastroparesia em geral é feita no puerpério se os sintomas persistem. O exame realizado é a cintilografia de fase sólida de 4 horas. Não existem dados na literatura que assegurem seu uso na gravidez.

Saiba mais: Haloperidol é uma boa alternativa para o tratamento de gastroparesia diabética?

Tratamento

Uma equipe multidisciplinar é fundamental com obstetra, nutricionista e gastroenterologista para garantir a segurança materno fetal. O manejo adequado do diabetes é essencial para evitar a gastroparesia diabética. Monitorização pelo obstetra e endocrinologista da diabética que engravida deve objetivar o melhor controle glicêmico possível. O suporte clínico com hidratação, oferecimento de microelementos e aporte de vitaminas durante o pré natal é mandatório.

Uso de álcool e cigarros devem ser evitados, não só pelo impacto negativo mas por retardar o esvaziamento gástrico também. O uso de dieta enteral é preferível à parenteral nos casos mais graves.

A farmacoterapia engloba algumas drogas que devem ser pesadas seu risco na gravidez:

1) Antagonistas dopamina: metoclopramida e domperidona.

2) Inibidores da acetilcolinesterase: neostigmina e piridostigmina.

3) Agonistas receptores motilina: eritromicina, azitromicina e claritromicina.

4) Agonistas 5-HT4 (serotonina): prucaloprida, cisaprida e tegaserode.

5) Fenotiazina: proclorperazina.

6) Anti-histamínicos: prometazina e succinato de doxilamina.

7) Butirofenona: haloperidol.

8) Antagonista 5-HT3: ondansetrona.

9) Antagonistas receptores neurocininos: aprepitanto.

10) Antidepressivos tricíclicos: amitriptilina e nortriptilina.

11) Antidepressivos atípicos: mirtazapina.

12) Antimuscarínicos: escopolamina.

13) Canabinoides sintéticos: dronabinol.

Os autores concluem que ainda existem poucos estudos sobre a fisiopatologia da gastroparesia na gravidez e o efeito da gravidez na gastroparesia, assim como a segurança e eficácia dos vários, mas limitados fármacos e dieta no tratamento da gastroparesia na gravidez. Enquanto isso, o tratamento multidisciplinar é necessário para garantir a segurança fetal e materna desses casos complexos.

Este texto foi revisado por João Coluna, editor de Ginecologia e Obstetrícia do Portal PEBMED.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Sarvee M, Won MY, Melissa W, Ali R. Gastroparesis in Pregnancy. Am J Obstet Gynecol. 2022 Sep 8:S0002-9378(22)00723-2. DOI: 10.1016/j.ajog.2022.09.002. Epub ahead of print. PMID: 36088986.