Há benefício da estatina como prevenção primária em pacientes com HIV?

O risco de DCV está aumentado entre as pessoas com infecção por HIV, o papel da prevenção primária nesta população ainda não é bem conhecido.

Pacientes com HIV tem risco de doença cardiovascular (DVC) aterosclerótica até duas vezes maior que a população geral. O mecanismo ainda não é completamente entendido, mas envolve a presença de fatores de risco tradicionais associado a inflamação e ativação imune residuais. 

Esse risco persiste aumentado mesmo após o controle dos fatores de risco, porém nenhuma recomendação cardioprotetora específica existe até o momento. Foi feito então um estudo de fase 3, o REPRIEVE, que testou o uso de pitavastatina como forma de prevenir DCV aterosclerótica em pacientes com HIV e baixo ou moderado risco de eventos cardiovasculares. 

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Há benefício da estatina como prevenção primária em pacientes com HIV?

Há benefício da estatina como prevenção primária em pacientes com HIV?

Métodos do estudo 

Foi um estudo multicêntrico, prospectivo, controlado e randomizado, que utilizou pitavastatina na dose de 4mg comparada ao placebo. Essa estatina foi escolhida pois não tem interação com os antirretrovirais utilizados no tratamento do HIV.  

Os critérios de inclusão eram pacientes com HIV em tratamento estável, com idade entre 40 e 75 anos, que tivessem risco de DCV aterosclerótica baixo a moderado de acordo com os escores de risco da American Heart Association e American College of Cardiology. Pacientes que haviam usado estatina ou que tinham doença aterosclerótica estabelecida foram excluídos.  

O desfecho primário foi a ocorrência de eventos cardiovasculares adversos maiores (MACE): morte cardiovascular, infarto agudo do miocárdio (IAM), internação por angina instável, acidente vascular cerebral (AVC), ataque isquêmico transitório (AIT), isquemia arterial periférica, revascularização coronária, carotídea ou periférica ou morte por causa indeterminada. 

Resultados 

De 2015 a 2019 foram avaliados 3.888 pacientes no grupo pitavastatina e 3.881 no grupo placebo, com seguimento médio de 5,1 anos. A idade média era 50 anos, 65% eram não brancos e 31% eram mulheres. O LDL médio inicial era 108 mg/dL e o risco de DCV médio era 4,5%, sendo <5% baixo risco, 5% a 7,5% limítrofe, 7,5% a 20% intermediário e > 20% alto risco. O CD4 médio era 621 células/mm3 e a carga viral era indetectável em 87,5% dos pacientes. 

A incidência de MACE foi 4,81 por 1000 pessoas-ano no grupo pitavastatina e 7,32 por 1000 pessoas-ano no grupo placebo (HR 0,65; IC95% 0,48-0,90, P = 0,002). O efeito da pitavastatina foi consistente entre os subgrupos e a ocorrência de MACE ou morte por qualquer causa foi 9,18 por 1000 pessoas-ano e 11,63 por 1000 pessoas-ano respectivamente nos dois grupos (HR 0,79; IC95% 0,65-0,96). O estudo foi encerrado antes do tempo previsto por recomendação do comitê de monitoramento e segurança em decorrência do benefício da intervenção. 

O valor de LDL passou de 107 para 74mg/dL no grupo pitavastatina e de 106 para 105mg/dL no grupo placebo nos primeiros 12 meses e o efeito no LDL persistiu por todo o período de seguimento. A suspensão da medicação por eventos adversos teve ocorrência de 2,1% no grupo pitavastatina e 1,2% no grupo placebo e a aderência foi considerada boa nos dois grupos.  

A ocorrência de eventos adversos graves não fatais foi semelhante nos dois grupos. O grupo pitavastatina teve maior taxa de ocorrência de diabetes e maior frequência de mialgia. Miopatia, rabdomiólise e disfunção hepática foram raras e semelhantes nos dois grupos. 

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Comentários e conclusão  

Pacientes com HIV tem risco de DCV aterosclerótica aumentado quando comparado a população geral, mesmo quando o risco calculado é baixo ou moderado. O papel da prevenção primária nesta população ainda não é bem conhecido e este estudo mostrou benefício no uso da pitavastatina, com redução de 35% na ocorrência de MACE no seguimento de cinco anos. 

Essa redução nos desfechos foi maior que a esperada quando o estudo foi desenhado e, possivelmente, a medicação gera efeitos cardiovasculares além do resultante da redução do LDL, já que a estatina também reduz a ativação imune e a inflamação. 

A taxa de eventos aumenta e o NNT diminui conforme o risco aumenta, ou seja, pacientes de maior risco tem maior benefício do tratamento. O efeito é semelhante para homens e mulheres, assim como para as diferentes regiões e diferentes níveis de CD4, o que sugere que esta medida de prevenção possa ser extrapolada para diferentes populações. Outras estatinas provavelmente têm o efeito encontrado neste estudo.  

A prevenção primaria com estatina, associada ao uso de antirretrovirais, tem benefício na população de pacientes com HIV e deve ser instituída na prática clínica, já que a taxa de efeitos adversos é baixa. 

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
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