Hemocentro da Unicamp vai fazer registro inédito de trombose venosa no Brasil

O estudo, que terá duração de cinco anos, vai levantar os dados sobre trombose venosa no país por um período de até 24 meses.

Foi inaugurado o Centro de Doenças Tromboembólicas (CDT) do Hemocentro da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O objetivo dos pesquisadores é estabelecer registros de trombose venosa no país, uma vez que não existem dados robustos sobre a sua ocorrência na população brasileira.

Como consequência da inexistência de dados, as estratégias públicas para mitigação da doença são baseadas em estudos divulgados por outros países, que possuem perfis étnicos e socioeconômicos diferentes do nosso povo.

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Hemocentro da Unicamp vai fazer registro inédito de trombose venosa no Brasil

Impactos da inauguração

A inauguração do CDT irá impactar as estratégias públicas para mitigação da trombose venosa ao estabelecer três grandes registros focados na enfermidade:

  • Em adultos com quadro agudo de trombose venosa;
  • Em crianças hospitalizadas;
  • Em pacientes com câncer, que é fator de risco para a ocorrência de eventos tromboembólicos.

Para tanto, foi constituída uma rede formada por centros hospitalares localizados em seis municípios de São Paulo: Campinas, Botucatu, São José do Rio Preto, São Paulo, Barretos e Ribeirão Preto, que incluirão no programa mais de 10 mil pacientes, convidados pessoalmente em sua primeira visita a algum hospital para então serem acompanhados, ao longo do estudo, por WhatsApp ou telefone. No total, 14 centros hospitalares compõem a rede do CDT.

“Gostaríamos de poder começar com diversos centros no Brasil, mas, pelo tamanho do nosso país e para podermos ter mais experiência no desenvolvimento desse tipo de projeto, é importante iniciarmos pelo nosso estado”, esclareceu a médica hematologista Joyce Annichino, coordenadora da área clínica e laboratorial de Doenças Tromboembólicas do Hemocentro da Unicamp e vice-presidente da SBTH.

Segundo a coordenadora, um estudo piloto sobre trombose com esse mesmo modelo foi realizado em Campinas no Hospital de Clínicas, no Hospital da Mulher José Aristodemo Pinotti (Caism Unicamp), no Hemocentro da Unicamp, no Hospital Celso Pierro da Pontifícia Universidade Católica (PUC) e no Hospital Dr. Domingos Boldrini.

Na ocasião, foram avaliados 800 pacientes com câncer e cerca de 6 mil crianças internadas, mas — no caso de pessoas com trombose aguda — não foi possível dar sequência ao estudo devido à pandemia de Covid-19.

“Foram gerados dados bastante interessantes, pois não tínhamos nada do tipo no Brasil. Mas, com o CDT, vamos avaliar um número muito maior de pacientes em um projeto multicêntrico, com a capital e cidades importantes do interior paulista, o que é muito mais relevante”, contou Joyce Annichino.

O estudo, que terá duração de cinco anos, vai levantar os dados prospectivos dos pacientes por um período de até 24 meses e contará com o apoio das empresas Stago, Daiichi Sankyo, Sanofi, Pfizer, Siemmens, Werfen e Sigvaris.

Além disso, serão realizadas coletas de sangue dos pacientes incluídos no programa, que ficarão armazenadas em um biobanco no Hemocentro da Unicamp.

“As informações levantadas serão inseridas em uma plataforma REDCap, permitindo a formação de uma big data que, seguindo todas as normas éticas, poderá gerar informações valiosas, contribuindo para a melhoria e disseminação de medidas na prática clínica”, ressaltou a médica hematologista.

Aplicação dos resultados do estudo sobre trombose venosa         

Para entender como a trombose acontece no Brasil, o CDT vai levantar um amplo espectro de informações sobre o paciente, como idade, sexo, profissão, naturalidade, peso, altura, dados sobre uso de medicamentos, fatores de risco hereditários e adquiridos que contribuíram para a trombose, ocorrência de complicações e necessidade de novas internações no período de avaliação.

A partir dessas informações, será possível ter uma visão de como os pacientes estão sendo tratados, se apresentam mais complicações do que populações de outros países e os custos da terapia para o Sistema Único de Saúde (SUS).

De acordo com Joyce Annichino, os chamados estudos de microcusteio são importantes porque estimam os gastos reais de um tratamento no longo prazo.

Um exemplo é a síndrome pós-trombótica, complicação muito comum quando o paciente tem trombose nos membros inferiores e que costuma ser relegada a um segundo plano porque o risco de óbito é quase inexistente. Porém,  trata-se de uma ocorrência que pode afetar muito a qualidade de vida da pessoa e apresenta impacto nos gastos com o tratamento.

“Às vezes você tem disponível um medicamento mais barato, mas isso não significa que o custo é menor, porque tem complicações que vão exigir internações ou mesmo causar óbitos. Dessa forma, estudos de microcusteio podem auxiliar nas estratégias de liberação de medicamentos novos ou mesmo de prevenção”, explicou Joyce Annichino.

Saiba mais: Fatores de risco associados à Trombose Venosa Profunda na Síndrome pós-Covid-19

Identificação de biomarcadores relacionados a trombose venosa

Outra boa notícia é que o CDT estabeleceu uma parceria com a professora Ljubica Tasic, do Instituto de Química da Unicamp, para análises metabolômicas das amostras de sangue dos pacientes, na tentativa de identificar biomarcadores relacionados ao risco de trombose.

Além disso, com a colaboração dos professores Rubens Maciel, da Faculdade de Engenharia da Unicamp (FEQ), e Thiago Martins, da Escola Paulista de Medicina da Unifesp, o centro pretende avaliar os dados clínicos e laboratoriais dos registros com o uso de inteligência artificial (IA). Com isso, serão gerados escores para a previsão de riscos de ocorrência de trombose em situações como câncer, hospitalização infantil, síndrome pós-trombótica e recorrência em pacientes com trombose venosa.

Iniciativas que devem ser recomendadas aos pacientes

Os dados obtidos devem auxiliar no desenvolvimento de estratégias públicas e educacionais para profissionais, pacientes e a população em geral.

Algumas das iniciativas planejadas incluem aplicativos para uso médico, treinamento para pessoal de laboratório, webinários para discussão de casos de trombose e cursos específicos sobre insuficiência venosa crônica.

“No futuro, pensamos em fazer parcerias com companhias aéreas, uma vez que um dos fatores de risco para trombose são viagens longas de avião. Educar os passageiros a tomarem bastante líquido, se movimentarem e, especialmente no caso de idosos ou pessoas com comorbidades, verificar a necessidade do uso de meias elásticas ou até um anticoagulante como prevenção”, exemplificou Joyce Annichino.

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