História natural da osteoartrite de quadril: resultados de 10 anos de seguimento

Apesar de sua prevalência, a história natural dos sintomas precoces da osteoartrite (OA) de quadril não são muito explorados na literatura.

A osteoartrite (OA) de quadril é um problema frequente, acometendo de 7-25% da população acima de 55 anos. Devido às limitações impostas pela doença, os pacientes podem apresentar uma piora na sua qualidade de vida e uma redução na sua capacidade física.

No entanto, apesar de sua grande prevalência, a história natural dos sintomas precoces da OA de quadril não são muito explorados e existem poucas publicações na literatura médica.

Com base nisso, van Berkel et al. desenvolveram um estudo com o objetivo de descrever a história natural de pacientes de meia-idade com queixas na articulação do quadril, levando em consideração sinais e sintomas clínicos, capacidade física e alterações radiográficas de osteoartrite (OA) de quadril, ao longo de 10 anos de seguimento.

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História natural da osteoartrite de quadril

Métodos

Os dados desse estudo foram obtidos do estudo CHECK (Cohort Hip and Cohort Knee), que se trata de um estudo holandês de coorte prospectiva, com 10 anos de follow-up. Os critérios de inclusão utilizados foram: pacientes com dor e/ou rigidez no quadril e/ou joelho, com idade entre 45 e 65 anos, que ainda não haviam sido avaliados pelo seu médico generalista de referência por essas queixas. Já os critérios de exclusão foram: diagnóstico prévio de doenças que poderiam explicar a sintomatologia, comorbidades que impossibilitariam o seguimento, malignidade nos últimos 5 anos e incapacidade de compreender alemão. Diversas variáveis de desfecho foram coletadas no baseline e após 2, 5, 8 e 10 anos.

Resultados

Foram incluídos 1.002 pacientes consecutivamente, com dor no quadril e/ou joelho, no estudo CHECK. Desses, 588 pacientes apresentavam dor no quadril (170 com dor apenas no quadril e 418 com dor no quadril e no joelho) e foram incluídos nesta análise. A perda de seguimento aconteceu em 81 casos.

A idade média dos pacientes foi de 55,8±5,2 anos, sendo que 81% eram do sexo feminino. O IMC médio foi de 26,1±4,1. Do total, 19% dos pacientes já apresentavam sinais radiográficos de OA e 27% preencheram os critérios clínicos do ACR para OA de quadril no baseline. Esses números foram maiores no grupo de dor no quadril isolado (vs. dor no quadril e joelho — 23% vs. 17% e 30% vs. 26%, respectivamente).

Durante o seguimento, 249 (43%) pacientes preencheram os critérios clínicos do ACR para OA de quadril. Depois de 10 anos, 131 (53% dos 249) pacientes apresentaram critérios radiográficos para OA em pelo menos um quadril.

Quando analisado o subgrupo de pacientes sem critérios clínicos de OA no baseline, após 10 anos de acompanhamento, a proporção de pacientes que apresentavam critérios radiográficos para osteoartrite (OA) de quadril subiu de 15% para 46%.

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Com relação à dor, após 10 anos, 51% dos pacientes ainda apresentavam dor, mas houve redução na rigidez em relação ao baseline (55 vs. 45%). O pico de intensidade da dor no quadril avaliada na semana anterior se reduziu após 10 anos, o que também foi observado movimentos dolorosos do quadril (rotações interna e externa e flexão). Apesar disso, o uso de medicações para controle da dor aumento após 10 anos (50% vs. 43% no baseline). Não houve diferença no número de participantes que se mantiveram ativos fisicamente ao longo do tempo (55 no baseline vs. 56% após 10 anos).

No grupo de pacientes que foram submetidos à artroplastia do quadril, os autores encontraram menos dor e piores escores de função física, avaliados pelo WOMAC, após 10 anos. Nesse grupo, foi identificado um aumento nos movimentos dolorosos do quadril, quando comparado com o baseline (no entanto, apenas um pequeno grupo de pacientes foi examinado no T10).

Um dado interessante que os pesquisadores encontraram é que 12% dos pacientes com primeira queixa de dor no quadril foram submetidos à artroplastia de quadril no decorrer de 10 anos de seguimento, um número bastante alto.

Esse estudo apresenta inúmeros dados descritivos. Para maiores detalhes, sugiro a leitura do artigo original (vide referência abaixo).

Comentários

Os autores detectaram uma alta taxa de progressão para osteoartrite de quadril, tanto clínica quanto radiográfica após início de dor no quadril, além de uma taxa relativamente alta de necessidade de artroplastia na população estudada (12%). No entanto, as queixas de dor e incapacidade funcional se mantiveram relativamente estáveis ao longo do seguimento.

Apesar das óbvias limitações, como o desenho observacional, a aplicação das escalas WOMAC e NRS não terem sido direcionadas para uma articulação específica (nesse caso, a articulação de interesse era o quadril), o seguimento espaçado (a cada 2-3 anos), algumas limitações na coletada dos dados (na data de avaliação, o paciente deveria descrever a dor da última semana), entre outras, esse estudo é interessante por ser o primeiro a fornecer informações mais precisas a respeito da história natural da OA de quadril e sua progressão após um longo período de seguimento.

Referências bibliográficas:

  • van Berkel AC, Schiphof D, Waarsing JH, et al. 10-year natural course of early hip osteoarthritis in middle-aged persons with hip pain: a CHECK study. Ann Rheum Dis. 2021. doi:1136/ annrheumdis-2020-218625.

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