O planejamento pré-concepcional deve preceder a gravidez, como um investimento. Um significante percentual das gestações não é planejada e danos ao desenvolvimento fetal podem ocorrer antes mesmo da percepção da gravidez.
Os cuidados pré-concepcionais são definidos pela Organização Mundial de Saúde como um conjunto de intervenções a serem prestadas, antes da gravidez, objetivando promover a saúde e o bem-estar das mulheres e dos casais, bem como melhorar os resultados da gravidez e da saúde infantil.
Esses cuidados oferecem a oportunidade de aconselhar as mulheres sobre os riscos da gravidez, otimizar a atividade física/doença e aconselhar sobre medicamentos na gravidez e durante a amamentação.
Existe muitos dados relatando os benefícios do aconselhamento pré-concepcional em termos de experiência positiva da paciente, melhoria no conhecimento e melhorias nos resultados da gravidez, principalmente de mulheres diabéticas. No entanto, há poucos dados relatando atividade ou progressão da doença durante a gravidez ou resultados perinatais em mulheres com outras condições médicas crônicas (não diabetes).
O objetivo da revisão trazida com esse texto foi revisar sistematicamente a literatura com foco em relatar esses resultados em mulheres com condições médicas crônicas, excluindo diabetes mellitus.
O objetivo primário do estudo foi determinar os benefícios do aconselhamento pré-concepcional na atividade da doença e/ou resultados perinatais em mulheres com distúrbios médicos em comparação com um grupo de controle que não recebeu esses cuidados. Os objetivos secundários incluíram resultados comportamentais durante a gravidez incluindo adesão à medicação, ingestão adequada de ácido fólico e abandono do tabagismo.
Metodologia
Trata-se de uma revisão sistemática realizada de acordo com PRISMA guidelines. Foram pesquisados artigos nas plataformas PubMed, Cochrane, Ovid Medline e Web of Science. Dois revisores analisaram resumos e textos completos. Os critérios de inclusão abarcaram estudos relacionados a distúrbios médicos crônicos de interesse, publicados entre o início do banco de dados e 21 de maio de 2022, relatando resultados relacionados à atividade da doença e resultados perinatais.
Resultados
A busca listou 11.814 resultados, dos quais apenas seis atenderam aos critérios de inclusão. Esses artigos estudaram mulheres com doença inflamatória intestinal, epilepsia, doença cardiovascular e distúrbios reumáticos autoimunes.
Dois artigos descrevem os dados demográficos de mulheres com maior probabilidade de receber aconselhamento pré-concepcional, incluindo idade mais jovem, menor duração da doença, nuliparidade, gravidez fruto de reprodução assistida e educação superior/segurança no emprego. Dois relataram os efeitos desse aconselhamento no comportamento das mulheres com melhorias demonstradas na adesão correta à medicação, ingestão de ácido fólico e cessação do tabagismo. Cinco estudos relataram resultados relacionados à atividade da doença; aquelas que receberam aconselhamento eram mais propensas a ter evoluções quiescentes das doenças crônicas durante a gravidez. Melhorias nos resultados da gravidez foram descritas, incluindo taxas reduzidas de fetos pequenos para a idade gestacional, baixo peso ao nascer, parto prematuro, anomalia congênita e complicações obstétricas.
Discussão e conclusões
Esta foi a primeira revisão sistemática a relatar os resultados da gravidez de mulheres com condições médicas crônicas que receberam aconselhamento pré-concepcional.
Essa revisão descreveu uma escassez de dados relacionados a resultados da gravidez em mulheres com condições médicas crônicas após o aconselhamento.
Saiba mais: AAP 2022: Fundamentos do aleitamento materno bem-sucedido
Os resultados relatados são favoráveis em relação à comportamentos sociais durante a gravidez, atividade da doença e resultados obstétricos, apoiando a inclusão rotineira do aconselhamento na preparação para a gravidez neste grupo.
Recomenda-se estudos futuros não apenas com objetivo de relatar os resultados maternos e fetais a longo prazo de mulheres que receberam, mas também visando definir modelos de trabalho e identificar grupos de pacientes com maior probabilidade de se beneficiar de modo que os recursos possam ser adequadamente distribuídos.