Dispositivos cardíacos eletrônicos implantáveis (DCEI) têm sido cada vez mais utilizados para tratamento de arritmias e prevenção de morte súbita e, apesar de tecnologias mais avançadas, as infecções relacionadas continuam sendo um problema. Recentemente foi publicada uma revisão sobre a importância da retirada precoce desses dispositivos como parte do tratamento.
Seguem os principais pontos da revisão:
- As infecções de dispositivos cardíacos eletrônicos implantáveis podem de manifestar como infecções da loja do dispositivo, no tórax, diagnosticada clinicamente, ou como infecções sistêmicas, confirmada com hemoculturas positivas.
- A incidência das infecções é de 0,8 a 4,2% e os pacientes têm perda importante da qualidade de vida e risco de morte muito aumentado quando comparados a pacientes sem infecção ou com complicações de outro tipo. Além disso, ocorre aumento importante de gastos com cada paciente infectado, principalmente às custas de internação.
- Alguns fatores de risco identificados são disfunção renal, diabetes, disfunção ventricular, uso de corticoides, uso prévio de dispositivo, uso de anticoagulantes, número de cabos implantados, reintervenção precoce e uso de marcapasso provisório.
- O tratamento consiste na retirada do dispositivo infectado e esse procedimento tem alta taxa de sucesso, geralmente maior que 95% nos estudos de coorte, com baixas taxas de complicação (0,0% – 4,0%) e mortalidade (0,0% – 1,0%).
- Pacientes que utilizaram antibióticos sem a extração do DCEI tiveram mortalidade em 30 dias sete vezes maior e essa mortalidade permaneceu aumentada no período de 1 ano (38,1% x 13,3%) quando comparado a pacientes que tiveram o DCEI retirado. Isto também ocorreu quando havia evidência de endocardite relacionada ao dispositivo (38,2% x 19,9%).
- O momento de realizar a extração também influencia na mortalidade. Um estudo mostrou que o grupo submetido a extração no início do tratamento teve menor mortalidade que o que extraiu apenas após falha do antibiótico (11,4% x 43,4%). Um outro estudo também mostrou diferença na mortalidade quando a retirada era antes ou depois de 10 dias (16,9% x 33,9%) e estudo de 2020 encontrou resultados semelhantes em pacientes com bacteremia ou com infecção de loja quando a retirada ocorria em menos de 7 dias.
- Alguns estudos também mostraram diferença na retirada completa comparada a incompleta, com redução das taxas de reinfecção quando a retirada era completa.
- Importante ressaltar que a maioria dos estudos não foi randomizado e talvez os pacientes que tiveram os dispositivos removidos mais tardiamente ou não removidos fossem mais velhos, frágeis, com mais comorbidades e outros possíveis agravantes que por si só aumentam a mortalidade.
- Os cinco principais guidelines sobre o assunto recomendam como classe I a retirada completa do sistema do DCEI quando há infecção local, sistêmica, bacteremia ou endocardite. Apesar disso, a maioria dos pacientes não é tratada desta forma.
- Estudos que avaliaram a aderência aos guidelines identificaram como principais barreiras a esta recomendação a dificuldade de diagnosticar a infecção do DCEI, a dificuldade de encaminhamento para tratamento, gravidade dos pacientes e acesso difícil a serviço que faça a retirada do dispositivo.
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Conclusão
As infecções de dispositivos cardíacos eletrônicos implantáveis (DCEI) continuam a ser um problema grave e a aderência ao tratamento indicado pelos guidelines é bastante baixa. Uma possível solução seria a educação contínua de médicos para identificação e diagnóstico precoce deste tipo de infecção, assim como criação de fluxos para encaminhamento para centros que consigam realizar abordagem cirúrgica para retirada do DCEI de forma precoce.