A literatura vem demonstrando a associação de fatores relacionadas à saúde reprodutiva ao risco aumentado de doenças cardiovasculares. Dentre esses fatores, inclui-se a infertilidade, que afeta mais de 14% das mulheres americanas.
Um estudo anterior em mulheres do estudo Women´s Health Initiative (WHI) havia mostrado a associação entre menopausa precoce e nuliparidade à insuficiência cardíaca (IC) e insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada (ICFEP), respectivamente. Entretanto, até o momento não havia estudos que demonstrasse a associação de infertilidade com IC e seus subtipos.
Apoiado nesses dados, foi publicado em abril de 2022, no Journal of the American College of Cardiology, um artigo, cujo objetivo foi investigar a associação de infertilidade feminina à insuficiência cardíaca (IC).
Métodos
O estudo WHI, foi um estudo americano de coorte prospectivo e multicêntrico que recrutou 161.808 mulheres no período pós-menopausa entre os anos de 1993 e 1998. O estudo em questão foi realizado com 38.528 mulheres desse estudo.
Essas mulheres entrevistadas, submetidas a exame físico e coleta de medidas antropométricas e então seguidas com histórico médico 2 vezes ao ano, por 20 anos.
Durante a entrevista foi considerado histórico de infertilidade como a tentativa de engravidar por um ou mais anos, sem sucesso e independente da causa. Além dos dados sobre infertilidade, foram coletados dados sobre fatores relacionados a infertilidade (menopausa precoce, irregularidade menstrual, circunferência da cintura, doenças da tireoide) e sobre os fatores de risco cardiovasculares convencionais (hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, obesidade, tabagismo, dislipidemia).
O desfecho primário do estudo foi a incidência de IC e os desfechos secundários foram seus subtipos ICFEP e insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida (ICFER).
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Resultados
De 38.528 mulheres incluídas para análise, 5.399 (14%) relataram histórico de infertilidade. Entre 8 e 20 anos de seguimento, 2.373 mulheres apresentaram IC, incluindo 807 casos de ICFER e 1.133 casos de ICFEP.
Mulheres com o histórico de infertilidade tiveram um risco aumentado de quase 20% a mais de desenvolver IC, quando comparadas com mulheres sem infertilidade (RR: 1,16; IC95%: 1,04-1,30). Quando examinado os subtipos de IC, os autores encontraram que a infertilidade estava associada ao risco futuro de ICFEP (RR: 1,27; IC95%: 1,09-1,48), mas não de ICFEP (RR: 0,97; IC95%I: 0,80-1,18;).
Essa associação de infertilidade com IC e ICFEP manteve-se em todas as análises estatísticas, mesmo após ajustes com as demais covariáveis.
Discussão e mensagens práticas
A infertilidade feminina está associada a um risco aumentado de IC, especificamente de ICFEP, e essa associação não é explicada por fatores de risco cardiovasculares convencionais, doenças ou outras condições.
O paradigma atual de desenvolvimento de ICFEP propõe que as comorbidades cardiometabólicas induzem um estado pró-inflamatório que contribui para as alterações estruturais e funcionais do miocárdio. Esse estado pró-inflamatório pode ser piorado por concentrações baixas de estradiol, o que acontece em alguns casos de infertilidade e pode ajudar a entender sua associação com IC.
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O estudo apresentado abre caminho para maiores investigações que possam analisar melhor e tentar entender as razões da associação de infertilidade com IC. Assim como reforça que, identificar fatores de risco associados ao desenvolvimento de doenças crônicas, permite estabelecer medidas preventivas e nortear ações práticas profissionais e de políticas públicas.
2 abr. 2024 
4 min. 
