Ingestão de substâncias em adolescentes que requerem hospitalização em UTI

Estudo buscou identificar características associadas à necessidade de permanência na UTIP entre adolescentes hospitalizados por ingestão.

As ingestões intencionais são uma forma prevalente de automutilação em adolescentes. Segundo o Poison Control Centers’ National Database, banco de dados americano de controle de envenenamentos, 46,9% dos casos de ingestão incidental por adolescentes são classificados como tentativa de suicídio suspeito, com 19,7% tendo um efeito moderado, grave ou fatal. Além disso, a ingestão é preditora de suicídio e morte prematura.

Infelizmente, há atualmente uma tendência surpreendente de aumento de hospitalizações por ideação suicida e tentativa de suicídio por adolescentes. As internações por esses diagnósticos triplicaram em prevalência de 2008 a 2015. Já as internações em UTIP por automutilação dobraram no período de 2009 a 2017.

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Diante dessa triste realidade, pesquisadores dos Estados Unidos conduziram um importante estudo cujo objetivo foi identificar características associadas à necessidade de permanência na UTIP entre adolescentes hospitalizados por ingestão. Os resultados foram publicados no periódico Pediatric Critical Care Medicine.

Ingestão de substâncias em adolescentes que requerem hospitalização em UTI

Metodologia

Foi realizado um estudo de coorte retrospectivo de janeiro a dezembro de 2019 em um hospital infantil autônomo no centro-oeste dos Estados Unidos.

Foram incluídos todos os adolescentes de 12 a 18 anos de idade admitidos na enfermaria ou no serviço de terapia intensiva pediátrica por ingestão, intoxicação aguda ou auto envenenamento, conforme a Classificação Internacional de Doenças, 9ª edição (CID-9) cujo diagnóstico primário de alta continha as palavras “envenenamento” ou “ingestão” ou “intoxicação”. Os pesquisadores incluíram todos as admissões por ingestão aguda por adolescentes, independentemente do motivo declarado para a ingestão. Com relação ao pacientes que endossaram a tentativa de suicídio como o motivo de sua ingestão, uma análise de subgrupo foi realizada para delinear quaisquer associações com internação na UTIP. Se um paciente foi admitido várias vezes durante 2019, apenas a admissão inicial era incluída na análise.

Foram excluídos pacientes hospitalizados devido a lesões por vaping ou por sintomas não relacionados à intoxicação aguda (por exemplo, síndrome de hiperêmese canabinoide).

Resultados

Um total de 209 pacientes foram incluídos na coorte do estudo. Destes, 95 necessitaram de internação na UTIP, sendo que 4 (4%) foram transferidos da enfermaria do hospital.

A idade mediana dos pacientes foi de 15 anos, sendo a maioria do sexo feminino (69%). Pelo menos uma comorbidade psiquiátrica estava presente em 72% dos pacientes. Comportamentos de alto risco (ter relações sexuais ou uso de álcool, drogas, tabaco ou vaping) foram endossados por 190/209 pacientes (91%).

Os pesquisadores compararam as características do adolescente, histórico de ingestão, avaliação e intervenções farmacológicas e específicas da UTIP entre pacientes internados na enfermaria do hospital e na UTIP. Não foi possível identificar uma associação entre o motivo da ingestão, a substância ingerida e os fatores de risco de suicídio previamente identificados, incluindo tentativa de suicídio anterior, autoagressão anterior e comorbidade psiquiátrica e admissão em UTIP, em oposição à admissão fora da UTIP.

A internação na UTIP foi associada a um valor de intervalo QT corrigido de pico mais longo, recebendo uma intervenção farmacológica e maior duração da internação. Quinze dos 95 pacientes (16%) na UTIP receberam intervenção específica da unidade.

Conclusão

Os pesquisadores descreveram que não conseguiram identificar dados demográficos específicos do paciente ou características de saúde comportamental/mental associadas à internação na UTIP após a ingestão de substâncias. Eles destacaram que todos os adolescentes hospitalizados devido à ingestão intencional devem receber triagem padronizada de comportamento de alto risco devido à natureza generalizada desses comportamentos entre essa população. Por fim, enfatizaram que os cuidados específicos da UTIP, além da observação, podem ser necessários em até uma em cada quatro internações na unidade.

Saiba mais: Pacientes com síndrome de fibromialgia juvenil têm maior risco de suicídio?

Comentários

Ao longo de 18 anos de formada, tenho observado, na prática um aumento expressivo das internações de adolescentes por ingestão incidental de substâncias e muitos desses casos em pacientes com ideação ou tentativa de suicídio. De fato, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, recentemente, dados de uma pesquisa intitulada “PeNSE – Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar do IBGE”, mostrando números alarmantes: os adolescentes brasileiros estão consumindo mais álcool e drogas. As informações foram obtidas em um período de dez anos: de 2009 a 2019.

O estudo de Titus e colaboradores ratifica que as ingestões representam um risco significativo para os adolescentes. Inclusive, as internações na UTIP geralmente requerem maior monitoramento, em especial no tocante ao risco aumentado de arritmias. Ademais, o estudo serve de alerta para que os profissionais que atuam em UTIP considerem uma triagem comportamental padronizada após a estabilização clínica.

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