ISICEM 2023: Devemos abandonar o uso da pressão venosa central (PVC)?

O prof. Jean-Louis Teboul abordou aspectos importantes da utilização da pressão venosa central (PVC) na prática clínica.

No ISICEM 2023, uma das sessões que promoveu intenso debate esteve relacionada ao uso da pressão venosa central (PVC). O tema é discutido todo ano no congresso, porém nesta edição envolveu um debate de PROs e CONs, entre dois nomes da hemodinâmica do paciente grave: Prof. Jean-Louis Teboul (França) e Prof. Paul Mayo (USA).  

A pressão venosa central (PVC) é uma variável hemodinâmica importante. É determinante para a função cardíaca global (via mecanismo de Frank-Starling), assim como para o status venoso, uma vez que é um componente pressórico que representa o retorno venoso e também a perfusão orgânica.

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O lado a favor – Aplicações da PVC na prática clínica

O prof. Jean-Louis Teboul abordou aspectos importantes da utilização da Pressão Venosa Central (PVC) na prática clínica. Uma das frases mais interessantes foi: 

“Por que se privar dessa variável importante, especialmente quando um cateter venoso central já está inserido e é tão simples conectá-lo a um sensor de pressão?” 

Uma das aplicações interessantes da PVC é utilizá-la na fórmula da Pressão de Perfusão Média (PPM = PAM – PVC). A PPM esteve associada de forma independente com a progressão da injúria renal aguda. O valor de 60 mmHg foi encontrado como cutoff.  

Embora longe de ser perfeita, a PVC deve ser entendida como uma variável complexa, mas informativa, e sua e mensuração de rotina em pacientes com choque deve ser promovida, reconhecendo suas limitações. 

Então, de acordo com Teboul, devemos considerar os seguintes cenários na utilização da PVC. 

  • Predição de responsividade aos fluidos: NÃO!
  • Avaliar a disfunção do ventrículo direito e sua resposta às terapias: SIM!
  • Avaliar a backpressure de perfusão orgânica: SIM!

Desvantagens em relação ao uso da PVC – o lado contrário

O prof. Paul Mayo expôs algumas evidências e defendeu que devemos abandonar o uso da PVC, pelos seguintes fatores. 

  • O valor deve ser lido a partir de uma curva.. quem faz isso? 
  • Existe uma dependência inadequada do valor do monitor 
  • Processo de zeragem é impreciso
  • Seria útil como uma ferramenta à beira do leito? 

Além disso, existem outros problemas conceituais: 

A PVC, supostamente, permitiria que o intensivista manipulasse a “pré-carga”. 

  • Problema nº 1: A pré-carga é entendida como o volume da câmara cardíaca;
  • Mas a PVC é uma pressão (igual à POAP – pressão de oclusão de artéria pulmonar);
  • O efeito da pressão na pré-carga do VD está relacionado à complacência do ventrículo e pericárdio e à pressão circundante do ventrículo (por exemplo, PEEP)!

Sendo assim, como já exposto anteriormente, a PVC tem relação incerta com a pré-carga.

Como mensagem prática, o que podemos concluir?

Estamos falando de uma variável hemodinâmica facilmente obtida. Devemos ter cuidado e atenção no seu processo de mensuração, além de entender suas limitações. Mas em cenários nos quais a monitorização hemodinâmica avançada não está disponível, por que não lançar mão da variável? 

Após a sessão de PROs e CONs da utilização da PVC, acredito que não devemos abandoná-la. Ela ainda é um recurso interessante, ainda mais em cenários de poucos recursos.  

Já escrevemos sobre a PVC aqui no Portal PEBMED. Complemente sua leitura com os dois textos abaixo:

Confira todas as novidades do ISICEM 2023!

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