Meropenem ou piperacilina-tazobactam para tratar infecções urinárias complicadas?

Estudo avaliou a eficácia e a segurança de piperacilina/tazobactam em comparação com meropenem para o tratamento de infecções urinárias.

Infecções urinárias (ITU) são uma condição clínica muito frequente e que normalmente apresentam um curso benigno. Contudo, as infecções urinárias complicadas — que podem ser definidas pela presença de sinais e sintomas sistêmicos ou por ocorrerem em um hospedeiro suscetível a doença com curso mais grave — podem ser um verdadeiro desafio terapêutico.

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As bactérias Gram-negativas são os agentes etiológicos mais comuns, sendo passíveis de possuírem diversos mecanismos de resistência, tais como a produção de enzimas ESBL, AmpC e carbapenemases, conferindo mais um fator complicador.

Tradicionalmente, o tratamento de ITU complicadas causadas por produtores de ESBL é baseado no uso de carbapenêmicos. Entretanto, diversos estudos vêm avaliando a eficácia de piperacilina/tazobactam nessas situações. Um estudo chinês procurou, por meio de dados da vida real, avaliar a eficácia e a segurança de piperacilina/tazobactam em comparação com meropenem para o tratamento de ITU complicada causada por enterobactérias produtoras de ESBL.

Meropenem, piperacilina ou tazobactam para tratar infecções urinárias complicadas?

Materiais e métodos

Trata-se de um estudo retrospectivo, conduzido em um único centro, a partir de dados de pacientes adultos diagnosticados com ITU complicada causada por enterobactérias produtoras de ESBL, não suscetíveis a ceftriaxone ou cefotaxima, mas suscetíveis a piperacilina/tazobactam e meropenem.

Foram excluídos os pacientes com urinocultura positiva para bactérias Gram-positivas ou fungos, com antibioticoterapia por menos de 72h ou com exposição repetida aos antibióticos avaliados no estudo.

O desfecho primário foi resposta clínica e microbiológica ao final do esquema antibiótico. Resposta clínica foi definida como resolução dos sintomas principais, ausência de sintomas urinários novos e ausência de necessidade de continuação do uso de antibióticos com cura microbiológica.

Os desfechos secundários incluíram a determinação de sucesso microbiológico sustentado e todas as curas clínicas, os quais foram avaliados por meio das taxas de re-hospitalização e ITU complicadas recorrentes causadas pelo mesmo agente dentro de 3 meses do primeiro dia de tratamento efetivo.

A avaliação de segurança incluiu a incidência de infecções por Clostridioides difficile, re-hospitalização, perda de seguimento e mortalidade por todas as causas dentro de três meses.

Resultados

Dos 323 pacientes triados, foram incluídos 195: 110 no braço que utilizou piperacilina/tazobactam e 85 no braço que utilizou meropenem. No geral, os grupos eram semelhantes, exceto por média de idade e proporção de hepatopatias, que foram maiores no grupo que recebeu meropenem. Além disso, maior proporção de indivíduos no grupo de piperacilina/tazobactam recebeu corticoterapia em dose ≥ 20 mg. Mais pacientes no grupo do meropenem apresentavam febre, história de cateterização urinária e de tratamento em unidade de terapia intensiva. Os agentes etiológicos mais frequentemente isolados foram semelhantes: Escherichia coli (42%), Klebsiella pneumoniae (18%) e Pseudomonas aeruginosa (5,6%).

A duração total do tratamento (nove versus seis dias), a duração efetiva de antibioticoterapia (8 vs. 6 dias), a duração de hospitalização (22 vs. 16 dias) e mortalidade por todas as causas (18,8% vs. 7,3%) foram maiores no grupo que foi tratado com meropenem em comparação ao grupo tratado com piperacilina/tazobactam. Não foram observadas diferenças significativas entre os grupos em termos de relapso, re-hospitalização e perda de seguimento.

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Para cura clínica e erradicação microbiológica, a taxa de sucesso foi comparável entre os grupos (80% no grupo de piperacilina/tazobactam e 78,8% no grupo de meropenem). A incidência de eventos adversos foi significativamente menor no grupo que recebeu piperacilina/tazobactam (4,5% vs. 15,3%; p = 0,01). No grupo do meropenem, o evento adverso mais frequente foi alteração de função hepática, enquanto anafilaxia foi o mais comum no grupo de piperacilina/tazobactam.

Mensagens práticas

  • Nesse estudo com dados de vida real, piperacilina/tazobactam foi uma opção efetiva e segura para o tratamento de ITU complicada causada por enterobactérias produtoras de ESBL.
  • Limitações importantes do estudo incluem o número pequeno de participantes — o que diminui o poder estatístico da análise — e a possível influência de outros antibióticos nos desfechos clínicos.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Zhang W, Yan CY, Li SR, Fan TT, Cao SS, Cui B, Li MY, Fan BY, Ji B, Wang L, Cui F, Cui J, Wang L, Guan Y, Wang JW. Efficacy and safety of piperacillin-tazobactam compared with meropenem in treating complicated urinary tract infections including acute pyelonephritis due to extended-spectrum β-lactamase-producing Enterobacteriaceae. Front Cell Infect Microbiol. 2023 May 3;13:1093842. DOI: 10.3389/fcimb.2023.1093842.

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