Não é incomum encontrar mulheres que tentam engravidar após os 35 anos. No entanto, a idade aumenta as chances de comorbidades e dificuldades em gestar. Uma dessas dificuldades em gestar se deve ao leiomiomatose uterina, principalmente quando ele é submucoso. Sendo assim, vale procurarmos maneiras conservadoras de tratamento, a fim de preservar o útero e sua fertilidade.
Recentemente, foi publicado um artigo, no Journal of Obstetrics and Gynecology Research, com o objetivo de avaliar o efeito do uso de duas doses de misoprostol retal nos resultados pós-operatórios de miomectomia histeroscópica.
Leia mais: Desfechos maternos graves após covid-19 são mais prevalentes em gestantes
Métodos
Os pesquisadores realizaram um estudo retrospectivo em dois hospitais nos quais foram avaliados os prontuários de pacientes submetidas à miomectomia histeroscópica entre novembro de 2017 e abril de 2022, e, após, as pacientes foram agrupadas de acordo com a administração de misoprostol antes da histeroscopia ou não. Nas receptoras, foram administradas duas doses retais de misoprostol (400 μg), 12 horas e uma hora antes da operação planejada. Os desfechos avaliados pelos pesquisadores foram: a redução pós-operatória da hemoglobina (Hb), dor em 12 horas e 24 horas (utilizando o escore VAS) e tempo de internação.
Resultados
De acordo com os autores, os níveis de Hb reduziram significativamente, em ambos os grupos, após a miomectomia histeroscópica (p < 0,001). Em pacientes receptoras de misoprostol, o escore VAS foi significativamente menor em 12 horas (p < 0,001) e 24 horas após a operação (p = 0,004).
Além disso, as análises de regressão linear múltipla para cada um dos desfechos revelaram o seguinte: quanto maior o tamanho do mioma maior a diminuição da Hb (p = 0,010), o uso de misoprostol foi associado a escores VAS mais baixos nas 12ª e 24ª horas (p < 0,001), operação prolongadas foram associadas a maiores escores VAS de 12ª e 24ª horas (p < 0,001) e, finalmente, a operação prolongada foi associada à internação maior (p = 0,001).
Veja também: Associação entre menopausa, terapia hormonal pós-menopausa e síndrome metabólica
Conclusão e mensagem prática
Os autores concluíram que o uso de misoprostol retal antes da miomectomia histeroscópica foi efetiva em diminuir a dor pós-operatória, contudo, acrescentam a necessidade de mais estudos para justificar o seu uso com segurança. Gostaria de ressaltar que a histeroscopia cirúrgica é um procedimento minimamente invasivo, que cursa com pouca dor no pós operatório, normalmente na prática clínica, não necessitamos de analgésicos muito potentes para aliviar a dor da paciente, mesmo para miomas de grande volume.
Sendo assim, o uso do misoprostol para alívio da dor pós-operatória não me parece muito relevante, porém, se pensarmos em controle de sangramento (queda de Hb), pode ser que seja de grande valia mais estudos em torno desse tema.