Modelo visa criar padrão de ótimos resultados em pancreatectomias

Estudo analisou pancreatectomias de forma retrospectiva, com esplenectomias associadas realizadas em centros europeus.

O termo benchmark é bastante utilizado no mercado financeiro e tem como significado uma meta a ser alcançada, que normalmente é superior aos objetivos tradicionais. Essa mesma terminologia também está começando a ser utilizada na área de saúde para diferenciar os resultados padrões de metas atingíveis. A universidade do Alabama criou um modelo matemático de análise e denominou Achievable Benchmark of Care (ABCTM) que ajusta o resultado dos 10% maiores centros. Depois o resultado era aplicado em cada centro para comparar e criar um padrão de ótimos resultados em pancreatectomias.

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É claro que todos almejamos morbidade e mortalidade zero em qualquer procedimento cirúrgico, porém isto está longe de ser uma realidade.

Modelo de benchmark visa criar padrão de ótimos resultados em pancreatectomias

Materiais e métodos de análise de pancreatectomias

Para este estudo foram analisadas pancreatectomias de forma retrospectiva, com esplenectomias associadas realizadas por meio minimamente invasivo em centros europeus que realizassem pelo menos 15 procedimentos ao ano. Pacientes que necessitaram de esplenectomia acidental durante o procedimento, ou aqueles sem esplenectomias, foram excluídos do estudo.

O desfecho primário a ser analisado foi a taxa de conversão para cirurgia aberta. Os desfechos secundários foram a duração da cirurgia, complicação global e fístulas pós-operatórias. Um subgrupo contendo apenas adenocarcinomas ductais foi analisado separadamente e também foi incluída a segurança oncológica nestes casos. Além disso, seria estabelecido os valores de benchmarck, próximo ao percentil 10.

Resultados

Ao final das exclusões, 1.595 pacientes foram incluídos no estudo de 31 centros na Europa. A distribuição entre os sexos foi de 41,8% de homens, a mediana de IMC=24,8 kg/m2 e idade média de 63 anos. Destes pacientes, 834 apresentavam doença maligna, sendo 463 adenocarcinomas ductais. Dos 1595 pacientes, 1306 (81,9%) realizaram laparoscopia e 289 (18,1%) com auxílio da plataforma robótica.

A taxa de conversão global foi de 13,7% sendo 15,1% na modalidade laparoscópica e 7,3% robótica (p < 0,001). No total, 897 pacientes (56,2%) apresentaram alguma complicação, sendo grave em 276 casos. A taxa de fístula pancreática pós-operatória foi 23,6% (377 casos).

Variação Percentil 75 Percentil 50 Percentil 25 Benchmark
Duração (m) 132,5-361 275 232,5 194,5 160
Conversão (%) 0-54,5 19,2 12,3 6,5 2,5
Complicação global (%) 25,6-100 69,1 58 46,5 30,4
Complicação severa (%) 4,4-54,7 25,8 17,4 13,3 8,4
Fístula (%) 6,3-47,4 30,5 21,9 13,9 8,3
OBS: adaptado do artigo original

A análise multivariada demonstrou cinco fatores de risco independente para aumento da taxa de conversão: sexo masculino (RR=1,481), IMC maior que 30 kg/m2 (RR=2,422), abordagem laparoscópica (RR=2,244), ressecção multivisceral (RR 3,035) e ressecção vascular (RR=8,416).

Interessante notar que o critério de benchmark também foi aplicado para essa população com maiores risco de complicação e, assim, os valores corrigidos para benchmark em relação à conversão foram: 2,8 para homens; 7,5 para IMC maior 30kg/m2; 6,3 nas ressecções multiviscerais e 2,9 no uso da laparoscopia.

Discussão

Essa metodologia de trabalho analisou centros de grande volume de cirurgia pancreática e determinou quais são os melhores resultados atingíveis na realização de cirurgia de cauda de pâncreas com esplenectomia. Em publicação prévia pelo guideline de Miami, o acesso minimamente invasivo para as ressecções pancreáticas distais já havia sido determinado.

Alguns estudos prévios e ensaios clínicos já haviam descrito as complicações e taxas de conversão em diferentes centros, no entanto nenhum havia estabelecido os critérios de benchmark como aplicado neste estudo. Isto é extremamente válido, porque a cirurgia do pâncreas é complexa, com diversas comorbidades associadas e aumento de tempo de internação e custos.

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Algumas limitações do estudo como o fato de ser multicêntrico retrospectivo, utilizar uma metodologia nova e aplicado em apenas um continente não invalida a sua utilidade para servir como um objetivo a ser alcançado. Como qualquer outro método deve ser aplicado de forma internacional e atualizado constantemente para manter a sua validade.

Mensagem prática

Excelente metodologia para entendermos qual o máximo que podemos obter após um determinado procedimento com grande morbidade associada. Além disso, pode ser aplicada para subgrupos específicos. No caso específico de pancreatectomias distais ressalto que a taxa de complicação global é alta, com um benchmark de 30,4%.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Giani A, van Ramshorst T, Mazzola M, et al. Benchmarking of minimally invasive distal pancreatectomy with splenectomy: European multicentre study. Br J Surg. 2022;109(11):1124-1130. DOI:10.1093/bjs/znac204