Pesquisadoras americanas identificaram pela primeira vez um novo subtipo do vírus do HIV. A mutação identificada faz parte da versão mais comum da doença, encontrado mundialmente.
A descoberta foi realizada a partir do sequenciamento genético de três pacientes da República Democrática do Congo (RDC), com amostras coletadas desde a década de 80.
A expectativa é que essa descoberta poderá facilitar a identificação de possíveis pandemias e até mesmo antecipar as ações de combate às infecções.
“Em um mundo tão conectado, não podemos mais pensar que os vírus fiquem restritos a certas regiões”, disse a co-autora do estudo, Carole McArthur, professora do departamento de Ciências Bucais e Craniofaciais da Universidade de Missouri, em Kansas City, em comunicado para a imprensa, que afirmou ainda que essa descoberta pode preparar os cientistas para enfrentar possíveis mutações do vírus e possui potencial para colocar um ponto final na pandemia do HIV.
O estudo foi publicado em novembro na revista Journal of Acquired Immune Deficiency Syndromes.
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Novo tipo de HIV
O novo subtipo L é uma das variações do grupo majoritário do vírus HIV. O vetor da infecção responsável pela AIDS é dividido em quatro grupos, com seus subtipos.
Confira a seguir os grupos identificados deste vírus:
- Grupo M: É o grupo mais comum, responsáveis pela maioria das infecções por HIV do mundo. No total, acolhe 13 subtipos, entre eles o L;
- Grupo N: É o grupo menos comum, encontrados apenas em pacientes de Camarões;
- Grupo P: Vírus deste grupo já foram encontrados em Camarões e na França. Cientistas alertam que possui potencial para se espalhar em todo o mundo;
- Grupo O: Encontrado inicialmente na África, mas que já se espalhou mundialmente.
Como foi encontrado esse novo tipo de cepa
A investigação científica avaliou amostras retiradas de três pacientes da República Democrática do Congo (RDC) durante três décadas, o que confirma a identificação de um novo subtipo. As amostras foram coletadas em 1980, 1990 e 2001.
A pesquisadora Mary Rodgers, coautora do estudo, alertou para os riscos da migração do vírus por conta do deslocamento humano. Para a especialista, essa descoberta vai facilitar o desenvolvimento outras pesquisas voltadas ao diagnóstico e o tratamento da AIDS.
“Identificar novos vírus é como buscar uma agulha em um palheiro. Mas com o avanço da tecnologia e um sequenciamento mais moderno é como se buscássemos esta agulha com um imã. Essa descoberta vai ajudar a interromper novas pandemias”, aposta Mary Rodgers.
Ainda não está claro como essa variante do vírus pode afetar o corpo de maneira diferente, se é que age de maneira diferente. Os tratamentos atuais para o HIV podem combater uma grande variedade de cepas de vírus, e acredita-se que esses tratamentos possam combater esse recém-nomeado.
Cerca de 36,7 milhões no mundo estão vivendo com HIV, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). O Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS) estima que, em 2016, cerca de 1,8 milhão de pessoas foram infectadas pelo vírus do HIV.
*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED.
Referências bibliográficas:
- Christensen, J. Scientists discover first new HIV strain in nearly two decades. CNN Health. Disponível em <https://edition.cnn.com/2019/11/06/health/hiv-new-strain-discovered/index.html>;
- Yamaguchi J, et al. Complete genome sequence of CG-0018a-01 establishes HIV-1 subtype L. JAIDS Journal of Acquired Immune Deficiency Syndromes: November 06, 2019 – Volume Publish Ahead of Print – Issue – p. DOI: 10.1097/QAI.0000000000002246