O conceito de mommy brain e baby brain

A ideia de plasticidade adaptativa na gravidez está em desacordo com a noção de “baby brain”, na qual as gestantes descrevem o esquecimento.

Durante anos, o conceito de um termo em inglês conhecido como “mommy brain” ou “baby brain” permeia o que é ser mãe. Esse termo descreve ou nomeia uma condição relatada por muitas mulheres grávidas e puérperas de perda de memória e confusão mental.  

A literatura aponta que em torno de 80% das gestantes e mulheres no pós-parto referem subjetivamente uma alteração cognitiva juntamente com a maternidade. Entretanto, investigações objetivas de perdas de memória raramente foram observadas em estudos científicos, exceto quando esse estudo foi realizado em ambiente doméstico, em meio a todos os fatores de dispersão que possam estar envolvidos nessa percepção subjetiva. 

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Estudos em humanos e animais apoiam a visão de que ocorrem mudanças plásticas no cérebro durante a gravidez que dão suporte ao surgimento de novos comportamentos maternos. A ideia de plasticidade adaptativa na gravidez está em desacordo com a noção de “baby brain”, na qual as gestantes descrevem o esquecimento. Embora evidências inconsistentes de déficits de memória durante a gravidez tenham sido relatadas, poucos estudos investigaram a memória associativa espacial (que é consistentemente aprimorada em estudos de roedores grávidas).  

Além disso, a maioria dos estudos avalia estímulos de domínio geral, que podem perder adaptações específicas para estímulos relevantes para os pais. Um estudo de 2022, de Bridget Callaghan, examinou a retenção da memória associativa espacial para estímulos relevantes e não relevantes para os pais ao longo de quatro semanas em uma amostra de mulheres no terceiro trimestre de gravidez e comparadas com uma amostra de mulheres que nunca engravidaram.

O estudo demonstrou que, em relação às mulheres que nunca engravidaram, as mulheres grávidas exibiram maior retenção de longo prazo de associações objeto-cena-localização (memória associativa espacial), bem como melhor aprendizado inicial sobre estímulos relevantes para os pais, em relação a estímulos não relevantes para os pais.  

Assim, semelhante aos estudos em roedores, melhorias cognitivas foram observadas durante a gravidez em humanos, e essas melhorias foram específicas para o domínio da retenção associativa espacial e no reconhecimento de estímulos relevantes para a parentalidade. 

Outros estudos recentes corroboram que a transição para a parentalidade envolve adaptações cerebrais às demandas de cuidar de um recém-nascido, tanto em pais como em mães. A paternidade e maternidade são períodos de maior plasticidade cerebral em áreas cerebrais críticas para o processamento cognitivo e social e que tanto a experiência parental quanto os fatores relacionados à gestação podem estimular essa plasticidade. 

Do ponto de vista estrutural, a gravidez está associada a mudanças pronunciadas na estrutura do cérebro. Mais especificamente, descobriu-se que as mulheres primíparas sofrem um padrão simétrico de extensas reduções de volume da massa cinzenta durante a gravidez, afetando principalmente a linha média cortical anterior e posterior e seções específicas do córtex pré-frontal lateral bilateral e temporal.

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Foram feitas análises envolvendo pais e forneceram mais evidências para a seletividade dessas mudanças de volume para mulheres grávidas, apoiando a conexão dessas mudanças cerebrais com o processo biológico da gravidez, em vez de mudanças dependentes da experiência associadas à abordagem da paternidade. 

Quando recentemente cientistas trazem a necessidade de renomear o “baby brain”, eles querem redesignar o conceito e entender que a gestação e a parentalidade traz alterações estruturais, plásticas e funcionais do sistema nervoso central que garante uma adaptação para o cuidado com a criança. E com o evoluir da ciência, abandonar cada vez mais esse “reducionismo” de que a gestante é uma mulher com prejuízo cognitivo e isso faz parte do ciclo gravídico-puerperal. 

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Callaghan B, McCormack C, Tottenham N, Monk C. Evidence for cognitive plasticity during pregnancy via enhanced learning and memory. Memory. 2022;30(5):519-536. DOI:10.1080/ 09658211.2021.2019280 
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