O uso de topiramato em neonatos aumenta a chance de NEC?

Desde sua aprovação como terapia adjuvante para adultos com crises convulsivas parciais, o uso off-label do topiramato em neonatos aumentou.

As convulsões neonatais são manifestações de lesão cerebral resultante de encefalopatia hipóxico-isquêmica, acidente vascular cerebral, hemorragia intracerebral, distúrbios metabólicos ou eletrolíticos e infecções intracranianas. Dados da literatura indicam que mais de 25% dos recém-nascidos (RN) têm convulsões refratárias, necessitando de mais de dois anticonvulsivantes para controle.

O medicamento mais comumente usado para tratar convulsões neonatais é o fenobarbital. Levetiracetam e fenitoína são administrados como agentes de segunda ou terceira linha. No entanto, a escolha de anticonvulsivantes em crises convulsivas refratárias é controversa.

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Desde sua aprovação pela Food and Drug Administration (FDA) em 1996 como terapia adjuvante para adultos com crises convulsivas parciais, o uso off-label  do topiramato em neonatos aumentou. Apesar do aumento da prescrição de topiramato em RN, há poucas publicações sobre sua segurança e eficácia nessa faixa etária.

Em 2018, um estudo retrospectivo de uma única instituição sugeriu uma associação entre a administração de topiramato em RN e o desenvolvimento subsequente de enterocolite necrosante (NEC), principalmente em pré-termos. Esse estudo contou com apenas dez RN prematuros. Desses, 40% desenvolveram NEC até sete dias após o início do topiramato. Porém, os pacientes estudados apresentavam múltiplos fatores de risco para desenvolvimento de NEC (além da prematuridade e histórico de sepse). Embora tenha sido um estudo pequeno, em um único centro, cujos não puderam estabelecer uma relação causal entre o uso de topiramato e o desenvolvimento de NEC, ele sugeriu que a administração de topiramato era potencialmente perigosa e que mais pesquisas eram necessárias.

Essa associação, NEC e topiramato, contradiz as experiências de alguns neurologistas pediátricos americanos, que estudaram a segurança e a tolerabilidade do topiramato para o tratamento de convulsões neonatais refratárias, levantando a hipótese de que o risco de desenvolver NEC após a exposição ao topiramato era baixo e que a maioria das crianças tolera o medicamento.

O uso de topiramato em neonatos aumenta a chance de NEC

Metodologia

Estudo coorte retrospectivo multicêntrico que incluiu 75 RN que receberam topiramato para o tratamento de convulsões, de janeiro de 2011 a outubro de 2019 em três unidades de terapia intensiva neonatal (UTIN) de níveis III e IV. As informações coletadas incluíram dados demográficos, histórico de nascimento, etiologia das convulsões, resposta ao tratamento, efeitos colaterais e ocorrência de NEC.

Resultados

Dos 75 RN estudados, 63% eram do sexo masculino e 59% eram brancos. A idade gestacional média foi de 37 semanas. O peso médio ao nascer foi 2.840 gramas, e o percentil médio de peso ao nascer foi de 46,4%.

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Sete dos 75 bebês, todos do sexo masculino, desenvolveram NEC durante a internação na UTINl. Quatro desses sete RN evoluíram com  NEC antes de tratamento com topiramato, enquanto três apresentaram essa comorbidade  após a introdução da droga. Excluindo os pacientes que desenvolveram NEC antes da introdução do topiramato, a incidência de NEC potencialmente associada ao topiramato foi 4% (3 de 75). Todos os bebês que desenvolveram NEC receberam transfusões de hemácias e seis de sete (86%) foram tratados para sepse neonatal.

O topiramato foi bem tolerado.

Apenas três crianças (4%) descontinuaram a droga devido a efeitos colaterais. O mais comum foi perda de peso (20%).

O topiramato foi considerado uma droga eficaz em 61% dos pacientes. A maioria (72%) continuou com o medicamento após alta hospitalar.

Conclusões:

Esse estudo multicêntrico demonstrou que o desenvolvimento de NEC após o tratamento com topiramato foi raro (4%). Fatores de risco pré-existentes, como sepse, transfusões de sangue e prematuridade extrema são de maior importância para o desenvolvimento de NEC.

O topiramato continua sendo uma opção segura e eficaz para o tratamento de convulsões neonatais refratárias.

Referências bibliográficas:

  • Vawter-Lee M, Natarajan N, Rang K, et al. Topiramate Is Safe for Refractory Neonatal Seizures: A Multicenter Retrospective Cohort Study of Necrotizing Enterocolitis Risk. Pediatric Neurology. 2022;129:7e13.  DOI: 10.1016/j.pediatrneurol.2021.12.003

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