Queda da cobertura vacinal no país preocupa especialistas

Para que exista a proteção coletiva, o recomendável é que a cobertura vacinal esteja entre 90% e 95% das crianças, no mínimo.

Embora o esquema vacinal contra o novo coronavírus esteja completo em quase 80% da população brasileira, a procura por outros imunizantes vem recuando, cenário que foi apenas acentuado pela pandemia.

Em 2021, a cobertura média ficou em 60,8%. As três vacinas com a menor quantidade de doses aplicadas foram a tetra viral (5,7%), segunda dose da tríplice viral (50,1%) e poliomielite ou paralisia infantil (52%), conforme indicam os dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DataSus)

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Queda da cobertura vacinal no país preocupa especialistas

Declínio da vacinação infantil

Esses números são um exemplo da queda da cobertura vacinal geral no país, especialmente no âmbito infantil. No ano passado, em torno de 60% das crianças foram vacinadas contra a hepatite B, o tétano, a difteria e a coqueluche. Contra a tuberculose e a paralisia infantil, perto de 70%. Contra o sarampo, a caxumba e a rubéola, o índice não chegou a 75%. A baixa adesão se repetiu em diversas outras vacinas.

É importante frisar que para que exista a proteção coletiva, o recomendável é que entre 90% e 95% das crianças, no mínimo, estejam imunizadas.

A queda generalizada começou em 2015 e atingiu a pior marca em 2021. Até 2014 a cobertura vacinal costumava ficar acima dos 90%, por vezes alcançando os 100%.

“Quando se tem uma baixa cobertura vacinal, enfermidades como hepatite B, meningite entre outras correm o risco de aumentar o número de casos. Além disso, há temor do reaparecimento de doenças controladas, como é o caso da poliomielite. Em 2018 tivemos o retorno do sarampo após a queda da vacinação por tríplice viral. Há também um componente do aumento da imigração no mundo, mas a vacinação deficiente foi a principal causa. Além disso, os imunizantes diminuem a ocorrência de casos graves e, com a queda da vacinação, poderemos ter casos graves, internações e óbitos”, alertou o diretor da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC), Fabiano Gonçalves Guimarães, que também é professor da Universidade José do Rosário Vellano (UNIFENAS), em entrevista ao Portal de Notícias da PEBMED.

Vale lembrar que o Brasil foi certificado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como livre da poliomielite em 1994, mas nos últimos anos a vacinação infantil não tem atingido o percentual esperado: acima de 90%. E em 2016, o país teve o certificado da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) como país livre do sarampo.

Logo em seguida, no entanto, o sarampo voltou com força total. Entre 2018 e 2021, o país contabilizou mais de 40 mil doentes, dos quais 40 vieram a óbito. A Opas retirou o certificado em 2019.

Ofertada anualmente, a vacina para influenza ainda não atingiu a cobertura de 90% programada para 2022, principalmente nos grupos prioritários. Até o momento, a mobilização contra a doença atingiu apenas 53,5% de cobertura vacinal no país.

Mais motivos para a baixa cobertura vacinal

Outro motivo da baixa cobertura vacinal apontado pelos especialistas são os horários limitados de funcionamento de muitos postos de saúde, que normalmente ficam abertos apenas de segunda a sexta-feira e no horário comercial, impedindo que pais que trabalham o dia inteiro levem os filhos para se imunizar.

Podemos apontar ainda a falta de campanhas educativas nos meios de comunicação. Entre 2017 e 2021, o valor investido pelo governo federal na publicidade da vacinação sofreu um corte de 66%, passando de R$ 97 milhões para R$ 33 milhões, segundo dados do Ministério da Saúde obtidos pela agência Repórter Brasil.

Embora a vacinação das crianças de 5 a 11 anos contra a Covid-19 tenha iniciado em janeiro deste ano, até o momento somente 60% desse grupo tomou a primeira dose e meros 30% já têm o esquema vacinal completo.

Saiba mais: Vacinação infantil contra influenza: Ministério da Saúde reduz faixa etária de campanha nacional

Combate à desinformação e às fake news

O especialista entrevistado enfatizou que uma dos principais motivos para a diminuição dos índices é a perda de percepção da importância da vacinação.

“A pandemia foi um importante fator. Todos os serviços preventivos diminuíram durante os momentos de maior circulação do vírus da Covid-19 e os pais ficaram receosos de levar seus filhos até as Unidades Básicas de Saúde (UBS) para se vacinarem. O fechamento das escolas durante esse período também contribuiu, uma vez que é comum a cobrança pelo cartão de vacinas nas escolas. Não é possível desprezar ainda a contribuição do movimento antivacina, para a queda vacinal que mesmo sendo contrário a tudo que a ciência já provou, segue conquistando adeptos”, indicou Guimarães.

A hesitação por conta de possíveis efeitos colaterais também influenciou, impulsionada pela desinformação e a disseminação de fake news.

“Os médicos têm a oportunidade de, a cada encontro com seus pacientes, solicitar o cartão de vacina e conferir se está em dia. Estamos ainda em posição de orientá-los sobre fake news, diminuindo a ação das notícias falsas do movimento antivacina”, recomendou o diretor SBMFC.

Esse texto foi revisado pela equipe médica do Portal PEBMED.

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