Riscos e benefícios da oxigenoterapia não invasiva no tratamento da Covid-19

Um dos pontos críticos da Covid-19 é que pode resultar na consequente necessidade emergencial de oxigenoterapia.

A pandemia de infecções por SARS-CoV-2, responsável pela variável síndrome Covid-19, têm se prolongado por 2 anos e segue longe de terminar, alguns países experimentando a 3ª ou 4ª onda de infecções em suas populações. Um dos pontos críticos no progresso da Covid-19 é o comprometimento extenso do parênquima pulmonar que pode resultar na progressão à síndrome de insuficiência respiratória aguda e a consequente necessidade emergencial de oxigenoterapia.

Durante as ondas iniciais com os inúmeros casos com falência respiratória e o desconhecimento quanto as melhores condutas terapêuticas, diversas medidas de oxigenoterapia foram implementadas para suporte respiratório como a cânula nasal com alto fluxo de oxigênio (high-fow nasal cannula oxygen, HFNC), mecanismos de ventilação não invasiva (VNI) até intubação orotraqueal precoce e ventilação mecânica, de forma a melhorar o aporte de oxigênio e redução do esforço inspiratório. Atualmente, recomenda-se o uso de ventilação não invasiva de forma a diminuir as taxas de intubação e o uso de ventiladores, porém a falha na VNI e subsequente intubação é associada com maior mortalidade quando comparada com a intubação de primeira linha. De maneira geral sugere-se que, para a Covid-19, o uso de HNFC e VNI estão associados a redução da taxa de intubação, mas sem benefícios claros na mortalidade.

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Riscos e benefícios da oxigenoterapia não invasiva no tratamento da Covid-19

Análise recente

Para avaliar essa hipótese, os pesquisadores do COVID-ICU group, for the REVA network, e do COVID-ICU investigators realizaram um estudo multicêntrico de coorte prospectiva denominado COVID-IC_U em 149 unidades de tratamento intensivo (UTI) de 137 hospitais distribuídos na Bélgica, França e Suíça. Pacientes acima de 16 anos de idade admitidos em UTIs no período de 25 de fevereiro de 2020 e 4 de maio de 2020 (10 semanas) e com diagnóstico laboratorial (reação de polimerização em cadeia com transcrição reversa – RT – PCR) confirmado para a infecção por SARS-CoV-2 foram incluídos Dados foram colhidos no dia 1 de internação, contendo informações demográficas, comorbidades, imunodeficiências, aspectos clínicos e laboratoriais, score SOFA, curso da Covid-19, condutas quanto ao suporte respiratório, evolução para a necessidade de ventilação mecânica invasiva, curso da doença na hospitalização, desfecho clínico e, se alta a evolução do paciente nos dias 28, 60 e 90 após a admissão na UTI.

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Um total de 4.754 pacientes foram admitidos nas UTIs inscritas no estudo, com perda de seguimento de 500 pacientes até o dia 90 e 118 pacientes foram excluídos devido a ausência de dados quanto a estratégia inicial de oxigenoterapia. Desses pacientes remanescentes, 2.635 foram intubados no dia da admissão na UTI. Os outros 1.491 pacientes não foram intubados no dia da admissão da UTI e receberam oxigenoterapia padrão (n = 766, 51%), HFNC (n = 567, 38%) ou VNI (n = 158, 11%). A falha na oxigenoterapia ocorreu em 739 (50%) desses pacientes (678 intubações e 61 óbitos sem intubação). Os outros 752 (50%) foram considerados como sucesso na oxigenoterapia. As taxas de falência para a oxigenoterapia adotada foram de 49%, 48% e 60% para a oxigenoterapia padrão, HFNC e VNI, respectivamente. Na análise multivariada, o uso de HFNC (OR 0,60, IC 95% 0,36-0,99, p = 0,013) foi significativamente associado com a redução na falha na oxigenioterapia, mas não o uso de VNI (OR 1,57, IC 95% 0,78-3,21). HFNC não esteve associada com mudança na taxa de mortalidade (OR 0,90, IC 95% 0,61-1,33), enquanto a VNI esteve associada com mortalidade aumentada (OR 2,75, IC95% 1,79-4,21, p < 0,001). A taxa de mortalidade geral no dia 90 foi de 21%.

Conclusão

Discute-se o possível efeito deletério do uso de HFNC ou VNI de forma prolongada para o parênquima pulmonar infectado com SARS-CoV-2 com prejuízo na posterior ventilação mecânica quando necessária. Por outro lado, apesar da boa qualidade dos dados e da investigação, o estudo apresenta algumas limitações como a não randomização das técnicas de oxigenoterapia, a não padronização das decisões clínicas à intubação e ventilação mecânica, a ausência de dados quanto a pronação dos pacientes, a ausência de alguns dados para determinados pacientes, dentre outros. Os autores sugerem que estudos do tipo de ensaios clínicos sejam realizados para melhor esclarecimento dos achados observados neste trabalho. Aspectos adicionais deste estudo podem ser observados na referência abaixo.

Referências bibliográficas:

  • COVID-ICU group, for the REVA network, COVID-ICU investigators. Benefits and risks of noninvasive oxygenation strategy in COVID-19: a multicenter, prospective cohort study (COVID-ICU) in 137 hospitals. Crit Care. 2021 Dec 8;25(1):421. doi: 10.1186/s13054-021-03784-2

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