SBAD 2022: Probióticos e as diferentes patologias do trato gastrointestinal

O quarto e último dia da SBAD 2022 teve importantes debates acerca do uso de probióticos em diversas condições clínicas.

Este conteúdo foi produzido pela PEBMED em parceria com a Cellera Farma de acordo com a Política Editorial e de Publicidade do Portal PEBMED.

O quarto e último dia da Semana Brasileira do Aparelho Digestivo foi marcado por debates acerca do uso de probióticos em diversas condições clínicas. A primeira palestra do dia foi ministrada pelo Prof. Joaquim Prado e abordou o uso de probióticos na síndrome do intestino irritável (SII). Sabe-se que a SII é caracterizada pela coexistência de desconforto abdominal e alterações do hábito intestinal e acomete cerca de 7-22% da população. Do ponto de vista fisiopatológico, cursa com alteração da motilidade intestinal, desregulação da resposta imune, inflamação de baixo grau, hipersensibilidade visceral, aumento da permeabilidade intestinal e alterações na microbiota intestinal.

A microbiota intestinal exerce diversos papéis no organismo humano, influenciando nas junções firmes, produção de IgA, relação cripta/vilosidade, produção de vitaminas, ácidos graxos de cadeia curta, trofismo de mucosa e imunidade. O desequilíbrio da flora intestinal normal é associado a diarreia, constipação, dor abdominal, flatulência, alterações metabólicas, inflamatórias e imunoregulatórias. Em que se pese a recomendação contrária da American Gastroenterology Association ao uso de probióticos na SII, a diretriz mais atual, publicada pela Sociedade Japonesa de Gastroenterologia, diz que os probióticos são efetivos no tratamento da síndrome. Prado apresentou metanálise que demonstram um efeito significativo dos probióticos, embora ainda exista controvérsia quanto as melhoras cepas, combinações e concentração a serem utilizadas. Os gêneros mais estudados são Bifidobacterium, Lactobacillus e Streptococcus. Segundo Prado, B. infantis, B. brevis e B. animalis seriam melhores para abordagem da constipação, desconforto e distensão. Por outro lado, L. acidophilus, L. casei, L. infantis, L. reuteri e L. rhamnosus seriam mais interessantes no tratamento da diarreia, dor e desconforto.

O Prof. Eduardo Usuy abordou brevemente o uso de probióticos nas doenças inflamatórias intestinais. Apresentou estudos demonstrando benefício do uso em algumas situações, como na bolsite. Nessa situação, a American Gastroenterology Association atesta que existe um benefício potencial tanto na prevenção do primeiro episódio, como na manutenção da remissão após tratamento da bolsite. A combinação mais estudada nesse caso é o VSL3®. Foram discutidos estudos em retocolite ulcerativa com Escherichia coli Nissle 1917 e Lactobacillus GG, além da combinação de Lactobacillus salivarius, L. acidophilus, B. bifidum BGN4, com benefícios interessantes, mas ainda incipientes. Já na doença de Crohn, os trabalhos não suportam a eficácia clínica dos probióticos na indução ou manutenção da remissão. Destacou-se, ao final, o risco de bacteremia em pacientes imunossuprimidos tratados com probióticos.

A terceira palestra abordou o uso de probióticos nas doenças hepáticas. O Prof. Sérgio Pessoa demonstrou que existem diferenças entre microbiota de indivíduos saudáveis e hepatopatas. Caracterizou-se o papel do eixo intestino-fígado, em uma engrenagem complexa relacionada a inflamação e fibrose crônica. A disbiose foi associada a aumento na formação de metabólitos neurotrópicos, como a amônia, risco de translocação bacteriana, formação de lipopolissacárides, redução da formação de ácidos graxos de cadeia curta e desordens do metabolismo da bilirrubina. Novas estratégicas para tratamento de hepatopatias envolvem a manipulação da microbiota intestinal. Pessoa apresentou o aumento expressivo do número de publicações relacionadas ao tema na última década, especialmente aquelas relacionadas a doença hepática gordurosa não alcoólica e cirrose. Um interessante estudo observou grandes diferenças na composição da microbiota de pacientes com cirrose compensada e descompensada. O uso de probióticos como uma opção para tratamento e prevenção de encefalopatia hepática foi destacado, embora mais estudos sejam necessários. Um estudo com Saccharomyces boulardii demonstrou melhora de padrões hemodinâmicos na cirrose hepática, com redução de ascite, encefalopatia, bilirrubinas e aumento de plaquetas. Já o Lactobacillus GG foi capaz de reduzir a endotoxemia e níveis de TNF alfa em cirróticos. Pessoa apresentou ainda evidências de alteração na composição da microbiota intestinal em pacientes etilistas crônicos. Lactobacillus subtilis e Streptococcus faecium tiveram algum benefício na hepatite alcoólica, reduzindo LPS, TNF alfa e restaurando a microbiota. Já na doença hepática gordurosa não alcoólica uma das hipóteses discutidas foi o papel da microbiota na definição do fenótipo da doença. Uma metanálise apresentada observou melhora de transaminases em pacientes com esteatohepatite tratados com probióticos. Em outro estudo, a combinação de Bifidobacterium, Lactobacillus, Lactococcus e Propionibacterium reduziu o índice de gordura hepática e aminotransferases, além de modular a produção de citocinas. Por fim, o Pessoa concluiu que benefícios do uso de probióticos têm sido demonstrados em doenças hepáticas, embora existam ainda poucos ensaios clínicos sobre o tema.

A última palestra dessa mesa foi ministrada pelo Dr. Eduardo Antônio André e abordou o tema “Probióticos na Neoplasia de Cólon”. A neoplasia colorretal é a terceira mais diagnosticada no mundo e a quarta causa de óbitos por câncer. Cerca de 15-20% dos cânceres se desenvolvem por agentes infecciosos específicos. A microbiota participa no componente multifatorial de risco para câncer ao alterar o metabolismo do hospedeiro, imunidade e proliferação celular. A inflamação crônica induzida por agentes microbianos é um fator de risco nos processos de início/progressão do câncer, invasão tumoral e metástases. Citocinas pró-inflamatórias liberadas aumentam o dano ao DNA epitelial, modificações epigenéticas regulatórias e instabilidade genética. Segundo Eduardo, a microbiota colônica compõe-se por bactérias (90%), Archea, vírus e eucariontes unicelulares. Predominam Bacteroidetes e Firmicutes, sendo Proteobacteria, Actinobacteria e Fusobacteria componentes menores. Firmicutes, Actinobacteria e Lachnospiraceae são detectados mais frequentemente em adenomas. Proteobacteria, Alcaligenaceae, Enterobacteriaceae e espécies de Sutterella são aumentadas no câncer colorretal, enquanto Oscillospira estão depletadas na transição adenoma:câncer colorretal precoce. Fusobacterium nucleatum parece exercer impacto no desenvolvimento da neoplasia colorretal. Estudo apresentado pelo Prof. Eduardo demonstrou que a combinação da detecção de F. nucleatum + teste imunoquímico fecal aumenta a sensibilidade de detecção da neoplasia para 92,3% versus 73,1%. Por fim, foram apresentados estudos do uso de probióticos no pós-operatório de ressecção do câncer colorretal, sendo que uma metanálise com 1831 pacientes observou redução da inflamação, infecções e tempo de antibioticoterapia.

Certamente, o palpitante tema probióticos terá lugar garantido no próximo Congresso, com novas evidências sendo geradas diariamente.

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