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Esse título me faz lembrar meus professores me ensinando que inflamação e infecção não são a mesma coisa e nem tudo que está vermelho e quente é sinônimo de processo infeccioso. Parece bastante óbvio, mas para muitos estudantes de saúde e profissionais da área não é tão simples assim.
Um portal médico americano fez uma publicação recente abordando justamente essa discussão, chamando atenção para a dificuldade do diagnóstico e os danos decorrentes do uso indiscriminado de antibióticos.
A celulite é uma infecção bacteriana da pele frequentemente encontrada em pacientes em tratamento de feridas. A erisipela, embora ligeiramente diferente, é uma infecção cutânea semelhante, mas, na sua maioria, é considerada um tipo de celulite com etiologia e tratamento semelhantes.
O custo para tratar a celulite nos Estados Unidos em 2006 foi de cerca de US$ 3,7 bilhões. Um relatório recente na literatura sugere que nossa capacidade de diagnosticar corretamente a celulite é muito superestimada. Além do enorme desperdício financeiro, existe o problema do uso desnecessário de antibióticos e seus efeitos adversos.
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Não é tão fácil como se parece diagnosticar essa condição. A apresentação clínica desses pacientes geralmente envolve uma extremidade quente, dolorosa, avermelha e edemaciada. Um dado que fala a favor da celulite é o acometimento unilateral.
Ocasionalmente, os pacientes terão história de comorbidades, como diabetes mellitus. O fator de risco mais comumente associado à celulite é o edema ou linfedema. Isso ocorre porque o líquido linfático com seu alto teor de proteína facilita o crescimento bacteriano.
Existem inúmeros testes laboratoriais que são rotineiramente realizados em pacientes suspeitos de terem celulite, mas nenhum deles, incluindo hemoculturas, são considerados específicos. A culturas da lesão com swab, aspiração por agulha dos tecidos subcutâneos ou mesmo biópsia do tecido não são recomendadas porque o rendimento é baixo.
Além disso, os estudos de imagem não são úteis para diagnosticar a celulite, mas podem ajudar a descartar um abscesso ou uma fasciíte necrosante.
Um dos problemas mais comuns que vemos imitando a celulite é o rubor dependente, que é observado em pacientes com neuropatia periférica e doença vascular isquêmica. Dependendo da gravidade da condição, a vermelhidão pode se estender desde os dedos dos pés até o joelho. Muitas vezes, esta vermelhidão é bilateral. Simplesmente elevar a perna pode fazer o diagnóstico. Se a vermelhidão for consequência de neuropatia ou isquemia, ela tende a melhorar, enquanto que a vermelhidão devido à celulite não.
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A dermatite de estase venosa é comumente confundida com celulite. Outras condições inflamatórias das extremidades inferiores, como uma articulação de Charcot aguda, Gota e outras condições dermatológicas podem ser confundidas com celulite.
Se uma etiologia infecciosa for confirmada, os antibióticos são definitivamente indicados, mas há pouco consenso sobre o regime adequado. Considera-se que o tratamento do edema e do linfedema da perna com terapia de compressão fará qualquer regime antibiótico mais eficaz e irá acelerar a resolução da infecção e da reação inflamatória.
Outra conclusão é que a maioria desses pacientes com suspeita de celulite pode ser tratada sem hospitalização, mesmo que o paciente tenha celulite. A menos que o paciente esteja séptico ou significativamente imunocomprometido, o tratamento ambulatorial pode ser recomendado.
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